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Surto História: Roger Federer e sua relação com os Jogos Olímpicos


Em tempos normais, talvez hoje Roger Federer estivesse comemorando seu 39° aniversário carregando consigo a honraria que tanto perseguiu durante sua carreira: a medalha de ouro olímpica no tênis, em simples. Porém, essa dívida de toda uma vida que o suíço tem com o maior evento esportivo do mundo, só poderá ser acertada em 2021, por causa do adiamento das Olimpíadas de Tóquio.

Sim, apesar ainda lhe faltar esta grande conquista, a história do tenista recordista entre os homens, nos títulos de Grand Slam em simples, é transformada exatamente em sua primeira participação olímpica: Sydney 2000.

Perto de completar seus 19 anos, Roger embarcou para a Austrália pela segunda vez em 2000. Durante janeiro daquele ano o atleta já tinha ido ao país da Oceania para disputar o Australian Open. Ele chegou a vencer Michael Chang em sets diretos na primeira rodada, mostrando o que estava por vir de seu talento, mas perdeu para o francês Arnaud Clément por 3 a 0 no terceiro jogo.

Era a primeira aventura olímpica do suíço e ele ficou muito perto do pódio. Na semifinal Roger perdeu para seu "futuro amigo" Tommy Haas, da Alemanha por 2 sets a 0. Na decisão do bronze, nova derrota, dessa fez para o francês Arnaud Di Pasquale por 2 a 1.

Porém, Roger não saiu triste do país. Foi lá que conheceu a tenista compatriota Miroslava Vavrincová, que foi eliminada da competição olímpica logo na primeira rodada pela russa Elena Dementieva.

Acontece que Miroslava tornou-se sua namorada pouco tempo depois e futuramente carregaria seu sobrenome. Tratava-se de Mirka Federer, a esposa de Roger e mãe de Myla Rose, Charlene, Lenny e Leo, os quatro filhos do casal.

Até hoje Roger mostra gratidão por ter conhecido Mirka. "Nunca mais me esqueço dos meus primeiros Jogos Olímpicos. Tinha 18 anos, fiquei muito perto das medalhas e mais importante do que tudo, conheci a minha namorada, agora mulher, Mirka. Foi especial e os Jogos têm sempre um lugar no meu coração”, assegurou, em entrevista recente.

Talvez se alguma coisa tivesse acontecido de diferente naquela Olimpíada, hoje Roger, não fosse o Federer que conhecemos. Isso porque Mirka é um dos pilares de sua carreira.

Uma lesão recorrente no pé fez com que Mirka abandonasse o tênis em 2002. Com isso, ela passou a acompanhar o suíço pelo circuito. E foi ao lado da companheira que as grandes vitórias surgiram. Em 2001 Federer derrotou Sampras em uma batalha memorável de cinco sets em Wimbledon.

Após dois anos, veio o primeiro título na grama sagrada, ao derrotar o australiano Mark Phillippoussis em três sets. O apoio de Mirka mostrava-se cada vez mais fundamental. E permaneceu assim por toda a carreira, nos momentos fáceis e nos mais difíceis também.

Roger ao lado de Mirka na conquista do título de Wimbledon em 2003. Foto: Thomas Coex/AFP
Atenas 2004

Federer chegava em Atenas com três títulos de Grand Slam (dois em Wimbledon e um no Australian Open) e já na posição de número 1 do mundo, que ele só deixaria depois de quatro anos.

Favorito no piso rápido, o suíço sucumbiu na segunda rodada diante um jovem Tomás Berdych, na época número 79 do ranking mundial, que virou o jogo para 2 sets a 1. Acabava ali o sonho do ouro olímpico.

Pequim 2008

O suíço não chegou na China com o mesmo favoritismo de Atenas 2004. Ele estava prestes a perder a liderança do ranking mundial de simples, que manteve por quatro temporadas, para seu maior rival, o espanhol Rafael Nadal.

Federer e Nadal viviam o auge da rivalidade e o espanhol acabava de quebrar a hegemonia do suíço em Wimbledon. Foram três finais seguidas entre os tenistas, duas delas (2007 e 2008), jogos memoráveis.

Foram três jogos tranquilos para Federer em Pequim, com uma vitória sobre o algoz em Atenas 2004, Tomás Berdych. Mas nas quartas de final, ele encontrou um inspirado James Blake, que o derrubou em sets diretos. Terminava ali mais uma vez o sonho do ouro olímpico em simples. Teria que deixar para Londres 2012, no All England Club, seu grande palco.

Porém, ao lado de seu grande amigo, Stan Wawkinka, Federer estava vivo no torneio de duplas das Olimpíadas. Eles bateram grandes lendas para alcançar uma final talvez inesperada. Primeiro vieram os indianos Leander Paes e Maresh Bhupathi. Depois os irmãos Bryans.

Na final, "Fedrinka" venceu a dupla sueca Simon Aspelin e Thomas Johansson por três sets a um, para garantir uma medalha de ouro olímpica para o tênis suíço que não vinha desde Marc Rosset, em Barcelona 1992, no evento de simples.

Federer e Wawrinka conquistam o ouro nas duplas em Pequim 2008. Foto: Reprodução

Londres 2012

Já com 17 títulos de Grand Slam, um recém-conquistado, em Wimbledon, mesmo palco do torneio olímpico, Federer dividia as atenções com o dono da casa e vice-campeão do Major londrino, Andy Murray, além do ex-número 1 na época, Novak Djokovic.

Durante este ciclo olímpico Federer casou-se com Mirka em 2009, mesmo ano em que nasceram Myla Rose e Charlene, as primeiras gêmeas do casal.

Número 1 do mundo pela terceira Olimpíada seguida, nada podia parar Federer. Derrubou Alejandro Falla, Julien Benneteau, Denis Instomin, John Isner.

Na semifinal, um jogo histórico. Federer venceu o argentino Juan Martin del Potro de virada por incríveis 3-6, 7-5 e 19-17 em 4h26min de partida, neste que foi o jogo de três sets mais longo da história do tênis.

A final de Wimbledon se repetiu. Federer enfrentava novamente Murray, que protagonizou um dos momentos mais legais no Major londrino naquele ano, ao discursar após o vice-campeonato.

Mas o que se viu na final olímpica foi algo completamente diferente do esperado. Murray jogou muito, deu show em quadra e bateu Federer por três sets a zero, perdendo apenas sete games em toda a partida. O suíço saia de Londres com sua primeira medalha em simples, a prata. Murray futuramente viria a conquistar o bicampeonato olímpico, mas isso é uma outra história.

Roger e Mirka assistem partida de tênis durante Jogos Olímpicos de Londres. Foto: Wikipedia Commons

Rio 2016

Foi um ciclo olímpico de altos e baixos. Três derrotas para Novak Djokovic em finais de Grand Slam e quatro anos sem um título neste nível, mas ainda assim Federer chegaria como um dos favoritos no Rio de Janeiro. 

No âmbito familiar estava tudo progredindo bem. Seu casamento com Mirka chegava ao sétimo ano e mais um par de filhos veio ao mundo, em 2014: Lenny e Leo

Até que no dia 26 de julho de 2016 ele anunciou sua desistência dos Jogos Olímpicos e de todo o restante da temporada. Talvez esse tenha sido o período mais difícil na carreira de Federer. 

Aliás, foi num momento em família que a grave lesão do suíço ocorreu: preparando o banho das filhas. Inevitavelmente a pergunta surgiu em conversas particulares entre o casal. "Eu devo continuar? Até quando devo permanecer em quadra?"

"Tive uma conversa com minha esposa e apenas perguntei: "O que você acha, eu devo parar? Ela me respondeu "não, de jeito nenhum! Você não vai parar desse jeito, preparando banho para as meninas", revelou Federer durante uma entrevista em 2017.

Foi com o apoio incondicional de Mirka, que Federer ressurgiu em 2017, após seis meses parado. Logo no primeiro Grand Slam, o Australian Open, ele fez partidas espetaculares. Contou com as eliminações "precoces" de Murray e Djokovic, claro. Mas bateu quatro top-10, sendo o cabeça de chave 17 do torneio.

Um desses top-10 derrotados foi seu grande rival e agora amigo, Rafael Nadal. Em uma partida improvável em cinco sets e de muita qualidade, Federer bateu o espanhol e venceu seu 18º título de Grand Slam.

Nadal também voltava de lesão e o desfecho do torneio foi inesperado, com os dois favoritos eliminados e um "Fedal" na final de um Major após oito anos.

Roger abraça Mirka após a conquista do Australian Open de 2017. Imagem: Divulgação

Posteriormente, Federer ainda conquistou o 19º e o 20º título de Grand Slam.

Mas em fevereiro de 2020, uma artroscopia no joelho direito pôs quase tudo a perder. Porém, veio a pandemia de coronavírus, o adiamento olímpico de Tóquio para 2021 e uma segunda artroscopia.

Federer deverá fazer seu retorno às quadras novamente no Australian Open, em 2021. Perto de completar 40 anos, disputará seu quinto torneio olímpico, talvez o último de sua carreira.

É uma história de muitos "talvez". A única certeza que podemos ter é que a vida de Federer, assim como a de Mirka, se confundem com a dos Jogos Olímpicos.

Poderá o suíço compensar essa eterna dívida de amor com o evento e conquistar seu segundo ouro, o primeiro em simples, fechando sua carreira com a última honraria que lhe falta?

Mesmo que não consiga, sabemos que os Jogos Olímpicos deram o melhor de si para Federer, desde os tempos em que ele era "só Roger". E o menino que cresceu diante os olhos do mundo, lá em Sydney 2000, e se apaixonou eternamente por Mirka e pelo grande evento, também sempre deu o seu melhor para as Olimpíadas.

Foto: Reuters

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