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Coluna Surto Mundo Afora - Há quatro anos, quatro heróis e 2016 anos de lembranças para cada um

 
 Por Bruno Guedes
 
Quando Vanderlei Cordeiro de Lima acendeu a tocha olímpica no dia 5 de agosto de 2016, começavam as Olimpíadas do Rio mas também uma nova era. Assim como o fogo do Olimpo ardia na Cidade Maravilhosa, o mundo testemunhava a passagem de bastão de gerações. Mais que isso, de gênero.

A cada quatro anos, ciclos se fecham e outras se iniciam. Estrelas nascem, outras se aposentam. Não que seja regra. Mas são as Olimpíadas que transformam nomes em lendas, conquistas em feitos, histórias em memórias... E a primeira na América do Sul não foi diferente.

Michael Phelps chegou ao Brasil tentando o Canto do Cisne, sua saída de cena após um ciclo conturbado, com férias sabáticas e volta aos treinos. Usain Bolt desembarcou sendo desafiado: seria ainda o mais rápido do planeta? Katie Ledecky mergulhou como promessa da natação. Simone Biles preparava o maior salto na sua carreira em franca ascensão.

O que os quatro têm em comum?

Antes de entrar nas piscinas cariocas, Phelps tinha 22 medalhas em três Jogos. Eram 18 de ouro, duas de prata e duas de bronze. Após Londres 2012, o americano decidiu abandonar a carreira. Durante aquele ciclo olímpico sofreu com problemas fora do esporte. Foi flagrado fumando maconha e penalizado por três meses, sofreu com depressão e viu sua imagem manchada. E parou. Condenado à prisão por dirigir bêbado e ter sua carteira cassada, o nadador anunciou que voltava às competições em 2014.


Faltando pouco mais de um mês para a Cerimônia de Abertura, casou-se com Nicole Johnson, em segredo. Mas o que não estava escondido era que Michael já estava como um dos maiores atletas de todos os tempos. Então decidiu que no Rio seria o maior. Conquistou cinco ouros (4x100 livre, 4x200 livre, 200m borboleta, 200m medley e 4x100 medley) e uma prata (100m medley). Isso tudo num intervalo de sete dias. Em sua última subida ao pódio, um choro. As lágrimas se juntavam às muitas gotas das suas braçadas históricas.

Porém, as mesmas águas que consagraram ainda mais Phelps, banharam as cinco medalhas de Katie Ledecky. A menina que conquistara um ouro em Londres 2012, com apenas 15 anos, assumia o bastão tradicional e vencedor da Natação americana. Quatro ouros (200m livre, 400m livre, 800m livre e 4x200m livre), uma prata (4x100m livre), dois recordes mundiais e milhões de novos fãs. Katie, que até então era promessa, desabrochava diante do teatro esportivo em que seu compatriota se despedia.

A menina que nem tinha terminado a Universidade ainda deixava um rastro dourado por onde passava. As páginas que dividia com tantas outras estrelas pareciam pequenas. Passou a brilhar sozinha, virou ídolo e foi aclamada em Washington, sua terra natal.

Só que não foi a única. Uma baixinha poderosa fazia misérias na Arena Olímpica do Rio. Se a Ginástica Artística é um desfile de realezas, a rainha se chama Simone Biles. Sua primeira competição como sênior aconteceu três anos antes. Chamada de "grande promessa de ouros", acabou virando "a fábrica de ouros". Foram quatro (individual geral, equipe, salto sobre o cavalo e solo). E um bronze (trave). Superou até sua companheira de treino e campeã quatro anos antes, Alexandra Raisman. Mas sua maior conquista foi além dos limites das instalações olímpicas.

Biles se tornou símbolo de representatividade. Negra, mulher e vencedora. Quando o mundo ficou perplexo com as denúncias de abusos do médico da Seleção Norte-Americana de Ginástica, Larry Nassar, apoiou suas amigas de time e também desabafou sobre um caso ocorrido com ela. Saltou para ser campeã olímpica, aterrissou no Olimpo. Inspiração para milhares de novas Simones.

Bem como Usain Bolt. Se for falar da Jamaica, certamente dois nomes logo estarão entre as maiores lembranças da ilha do reggae: Bob Marley e Bolt. Longe da Vila Olímpica, o Raio desembarcou no Rio de Janeiro em silêncio e discreto. Todos que aguardavam seu sorriso fácil e carisma só os viram distante. Uma lesão nas seletivas de seu país colocava em dúvida a condição física. Entretanto, o jamaicano estava disposto a entrar em cena pela última vez em solo olímpico de forma triunfante.

Como num roteiro de cinema, a opinião pública - e imprensa - apontaram Justin Gatlin como o grande vilão. Aquele que destronaria Usain. Assim como fizera no Golden Gala de Roma, em 2013. O único que conseguiu superar o homem mais veloz que a Terra já viu. Mas quando pisou pela primeira vez no Estádio Olímpico Nilton Santos, o povo já esperava pelo seu show.

E foi um show. Em busca de um tricampeonato, Bolt chegou a rir enquanto corria e o canadense Andre de Grasse o ameaçava vencer, nas semifinais dos 200 metros. Mas não venceu. Assim como ninguém. Muito menos Gatlin.

Entrou bicampeão, saiu tricampeão: ouro nos 100 m – 9.81; ouro nos 200 m – 19.78; e ouro no 4x100 m – 37.27. Não teve recorde mundial. Mas isso foi apenas um detalhe. Usain Bolt estava, à essa altura, cumprimentando um a um no Engenhão. Enfim, consagrado e onde ele também é super vencedor, com seu povo.

Quatro nomes. Quatro anos. Duas gerações que se encontraram, iniciaram e terminaram os seus ciclos na Rio 2016. Os semi deuses existem e estiveram aqui pertinho de nós.
 
Fotos: AFP/Emmanuel Dunand, AFP/Christophe Simon, REUTERS

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