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Surto de A a Z: Os golfistas do Brasil, parte 2


Representar o país muitas vezes é uma das maiores honrarias para os atletas. Isso é considerado um símbolo de patriotismo e orgulho dentro de uma carreira. E os dois personagens desta edição do especial sobre golfe do site Surto Olímpico, sabem bem sobre a importância de carregar a bandeira do Brasil principalmente em um esporte pouco difundido em nossa nação: Adílson da Silva e Luiza Altmann. 

A trajetória desses dois golfistas é diferente. Luiza começou a jogar aos nove anos, pois a família há tempos procurava uma atividade física para ser praticada aos finais de semana, todos juntos. O hobby virou paixão e em pouco tempo a garota estava competindo e vencendo torneios juvenis. 


Já Adílson começou como caddie, quando ele sequer sabia o que exatamente era golfe. Aos 13 anos, ia para o clube com seus irmãos e amigos para carregar bolsas de tacos dos sócios e procurar bolinhas, ganhando assim um pouco de dinheiro para complementar a renda da família. 

Como ele mesmo diz, "foi muita sorte". Vindo de família humilde, aos 17 anos foi convidado para morar no Zimbábue, país africano, para virar um golfista profissional. O "anjo da guarda" foi o golfista e empresário Andy Edmondson, para qual Adílson prestava seus serviços de caddie. O amigo percebeu o talento em suas tacadas o faz a proposta que mudaria a vida daquele adolescente. 

Mas um fator é semelhante na história de Luiza e Adílson. Eles tiveram a oportunidade de representar o Brasil nos maiores eventos esportivos disputados entre países com direito a momentos históricos: os Jogos Pan-americanos e os Jogos Olímpicos, respectivamente. 

Luiza competiu na primeira vez que os Jogos Pan-americanos incluíram o golfe dentro do programa esportivo do evento, na edição de Toronto, em 2015. Em 2019 ela representou o país novamente, em Lima, ficando com o 23° lugar. 

"Eu sou conhecida no circuito como 'a jogadora brasileira' e levo isso comigo para onde eu for. É muito importante para mim representar o Brasil, onde eu cresci, onde recebi todo o apoio da CBGolfe e da Federação Paulista da modalidade, além dos jogadores. Eu jogo todos os meus torneios com uma capa nos tacos, que utilizei nos Jogos Pan-americanos, com a bandeira do Brasil. Eu represento de coração o meu país em todas as competições", disse a atleta de 21 anos. 

Foto: Tristan Jones
Adilson também viveu um momento considerado épico. Foi dele a primeira tacada de golfe após 112 anos do esporte fora dos Jogos Olímpicos. Retornando justamente na edição no Rio de Janeiro, em 2016, o golfista brasileiro contou como foi essa experiência. 

"Foi um acontecimento inexplicável. Uns dois dias antes de começar o torneio, o pessoal da PGA veio me avisar que eu fui escolhido para dar a primeira tacada e depois disso foi até difícil de dormir. Você vê televisão e lê em sites e logo vem na cabeça, ‘nossa o golfe está voltando após 112 anos’. Foi um acontecimento fantástico. Não sei nem se eu merecia uma honra tão grande assim", declarou. 

Após tanta ansiedade e nervosismo, Adílson conseguiu se acalmar só minutos antes da tacada histórica. "Alguns momentos antes do início do jogo eu fui relaxando. Poxa, é algo que não acontece sempre. Então eu só quis bater na bola, sem aquela preocupação de fazer uma tacada perfeita. Foi realmente algo incrível", reiterou. 

"É uma coisa muito especial para mim e minha carreira (representar o Brasil). Não acho que sou um ídolo ou algo assim. Mas tive muita sorte de jogar e fazer algo que eu de fato amava. Isso me deu uma experiência incrível. Tenho muito orgulho de ter feito isso e de representar o país. Sempre agradeço o pessoal do Golfe Clube de Santa Cruz pela oportunidade lá no início. Sou muito feliz por isso", afirmou Adilson, que ficou em 39º lugar na Rio 2016, em torneio disputado por 60 atletas. 


Ainda existe muita discussão sobre o golfe permanecer como modalidade Olímpica. Mas se depender dos atletas brasileiros, o esporte seguirá no programa esportivo da Olimpíada. 

"É 100% interessante. Simplesmente tem que estar no programa", disparou Luiza. "Na minha opinião o Zika Vírus foi o grande fator que atrapalhou a vinda dos melhores golfistas ao Rio de Janeiro em 2016. Eu tive a chance de conversar com o Justin Rose (atual campeão olímpico) um tempo atrás no clube e ele me disse que a experiência de disputar os Jogos Olímpicos foi completamente surreal, algo único na vida. E essa é a minha meta, estar em uma Olimpíada representando o Brasil. É uma energia diferente com certeza", revelou. 

De acordo com Adílson, as Olimpíadas podem ajudar a transformar o golfe em um esporte mais popular no país. Ele observou em uma viagem recente ao Brasil que os clubes estão tendo uma maior procura após os torneios realizados na Rio 2016. 

"O pessoal teve a chance de ver o que é. Antes disso, o esporte não estava tão exposto ao grande público. Então acho que o pessoal ficou mais interessado. O Brasil é lindo, imaginem que legal seria uma quantidade maior de campos deste esporte. Seria um paraíso", afirmou o golfista  eatual número 351º do mundo no ranking mundial. 

"Tem muito espaço para o golfe crescer no país. Consegui ver na última vez que fui ao Brasil, que os clubes estão mais movimentados, as pessoas estão tentando aprender a jogar". 

Dificuldades durante a carreira

Assim como em outros esportes, uma carreira no golfe tem suas dificuldades, principalmente durante o início. São muitas mudanças e novidades, algumas difíceis de lidar. No caso de Adílson, dois momentos foram como "provas de fogo". 

"Eu havia tentado virar profissional na África do Sul e acabei não conseguindo me classificar de primeira. Foi algo terrível para mim. Fiquei devastado. Foi um problema, uma vez que, na qualificação para o profissional, se você falha, não joga no circuito e nem como amador, e acaba perdendo um ano, não dá pra competir em quase nada", revela. 

"Ai fiquei na casa de um amigo meu e eu passei a trabalhar nas noites como garçom em um hotel mexicano em Johanesburgo. De dia eu ficava treinando. Mas foi muito difícil. No entanto, me ajudou muito". 


O golfista de 48 anos também falou sobre sua mudança para o Zimbábue, quando ainda estava tentando superar a barreira do idioma. "Foi difícil no começo também, porque eu não sabia falar inglês na época, além de passar muito tempo sozinho na casa do Andy, pois ele viajava bastante. Os dois ou três primeiros anos foram complicados principalmente por eu não saber me comunicar corretamente. Mas aulas assim te ensinam coisas para a vida toda", ressaltou. 

Para Luiza, esse ponto também não foi diferente. Ela já competiu tanto no circuito europeu, como no asiático, indo morar na Coreia do sul. Mesmo com as dificuldades, ela considera esse o ponto chave em sua carreira.

Foto: Divulgação
"O golfe me ensinou a ser independente e determinada. Mudar para um país tão diferente, com fuso horário ao contrário do que de costume, estando lá sozinha, me ajudou a crescer como jogadora e pessoa. Isso é uma coisa bacana do golfe. Eu posso participar e viver culturas completamente diferentes da minha. Foi uma das lições mais importantes da minha carreira".

Os planos para o futuro

De olho na vaga olímpica para Tóquio 2021, Adilson da Silva busca evolução no ranking após tantos meses com o circuito parado por causa do coronavírus. 

"Acredito que posso jogar minha segunda Olimpíada. Sinto que estou jogando bem, estou treinando bastante. Minha chance vai melhorar, já que terei até junho do ano que vem para somar pontos. Vou continuar trabalhando duro. Quero representar o Brasil de novo". 


"Eu acho que ainda posso jogar melhor. Estou trabalhando mais a parte mental também e isso pode ajudar. Eu tive muita sorte na vida. Venci 12 torneios aqui na África do Sul (país onde mora atualmente), conquistei um na Ásia, fora os vice-campeonatos. Mas ainda sinto que posso vencer mais. E gosto muito de trabalhar, então vou seguir assim, vamos ver no que vai dar", disse Adílson. 

Luiza também segue treinando e jogando eventos pequenos nos Estados Unidos para manter a forma e o ritmo de jogo. "Meu foco está no circuito europeu. E a grande meta é chegar nos principais campeonatos da LPGA". 

O amor pelo golfe

O esporte é algo que causa paixão. E Luiza adora todos os esportes. Durante a entrevista, ela confessou que acompanha diversos esportes pela televisão e que gosta de todos eles. Mas o grande amor é do golfe, que conquistou a atleta brasileira com suas peculiaridades e dificuldades.

"O que mais gosto no golfe é o fato que você nunca vai ter um jogo perfeito. São 18 buracos, em média 70 tacadas e não tem como fazer a volta perfeita. Mas isso me puxa a sempre melhorar, sempre me aproximar desse nível. Outra coisa bacana é que no golfe você não precisa jogar contra outra pessoa. Eu posso sair agora, ir para um campo e jogar contra os números dele. Não é como tênis, por exemplo, que você depende de um adversário do outro lado", concluiu a atleta que ocupa atualmente a 1117ª posição no ranking mundial de golfe feminino.

Foto: Ernesto Carrico

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