Por Bruno Guedes
Após o adiamento das Olimpíadas que começariam em 24 julho para o
próximo ano, surgiram temores de que ela seja cancelada em definitivo. É
o que afirma Haruyuki Takahashi, membro do Comitê Organizador de Tóquio
2020, em entrevista ao diário japonês Nikkan Sports. Segundo ele, caso a
Covid-19 não seja controlada até 2021, a decisão radical poderia ser
aplicada. Caso isto ocorra, seus efeitos seriam devastadores para o
esporte e poderiam impactar não só esta, mas a futura geração.
Sem
vacina e com nenhum medicamento conseguindo controlar a pandemia,
atividades esportivas estão voltando de forma gradual em diversos
países, porém sem público. Mas no começo do mês de junho, a China voltou a
apresentar casos numerosos da Covid-19. Além do sinal de alerta no
continente, atletas e delegações inteiras reagiram com muito receio de
que uma segunda e mais devastadora onda possa, novamente, colocar todos
em isolamento social.
Takahashi afirmou para a
Nikkan que além de uma nova data para o evento ser considerada, até
mesmo o seu cancelamento está em pauta. Caso não tenhamos as Olimpíadas
de Tóquio, o que seria inédito desde 1944, seus efeitos serão de anos.
Até o momento o Japão gastou cerca de US$ 12,6 bilhões com a
estruturação do megaevento. Por causa do adiamento, mais US$ 3 bilhões
custarão aos cofres nipônicos para a reprogramação. Números que fogem
não só a esfera do aceitável, como amplia o debate sobre os custos com o
setor esportivo.
A economia global entrou em
colapso por causa da pandemia. Especialistas estimam que seja a maior
devastação econômica desde a Segunda Guerra Mundial. Outros são mais
drásticos: desde a Quebra da Bolsa em 1929. Por conta disso, setores
considerados não essenciais pelo capital financeiro serão diretamente
afetados até tudo se normalizar, caso isso ocorra um dia.
Tais
acontecimentos acabam gerando uma enorme bola de neve. Isto porque,
além de formar ídolos, o esporte fomenta a receita de muitas capitais
pelo mundo. De acordo com o Sports Value, o setor movimenta US$ 756
bilhões por ano. Sem as atividades esportivas, esses valores despencam e
afetam outros setores. A publicação lembra que para cada US$ 1 gerado
diretamente nas grandes ligas dos EUA, por exemplo, US$ 2,5 produzem
efeitos indiretos na economia geral da cidade.
Grande
parte desses números milionários são oriundos de patrocinadores e
marcas que usam o esporte como ferramenta para promoção. Não só em
entidades, mas também em competidores e sua formação. Mas o
redirecionamento financeiro que cortará verbas do esporte será
inevitável. E o seu impacto pode durar décadas.
Além
desta geração estar comprometida por conta do cancelamento de diversas
competições ao longo de 2020, o adiamento das Olimpíadas pode derrubar
esportistas e legados que foram erguidos ao longo das últimas décadas. Sem o
evento, o dinheiro vai diminuir, sair por completo ou sendo aos poucos
retirado. Poderá não mais haver um estímulo privado para manutenção de
apoios cruciais para esses desportistas.
Um
exemplo são os atletas individuais. Estes são diretamente dependentes de
um aporte econômico que vem de patrocinadores que, neste momento,
sofrem com os efeitos da pandemia. São empresas de grande e médio porte
que agora precisam repensar seus investimentos. Algumas nem vão
conseguir se recuperar. Sem evento e dinheiro, por que investir no
esporte? E a causa disso será o desaparelhamento esportivo.
Estima-se
queda de até 60% nos patrocinadores em algumas modalidades, relata a
Sports Value. Muitos competidores dependem dos patrocínios para viver
exclusivamente do esporte. E o de alto rendimento não permite que um
atleta divida seu dia com trabalhos alternativos. Outrossim, a estrutura
gerada por essa ajuda vai desde a parte física de treinos até
profissionais diversos, como médicos, treinadores e outros. Um choque
gigante.
A base dessa pirâmide também
será afetada com a fuga do dinheiro: a formação de talentos. A queda da
receita e do investimento vai impactar também as próximas gerações, já
que os problemas econômicos vão amputar boa parte do desenvolvimento de
futuros atletas. E aí, vai desde aquela feita em escolas e setores
públicos, até a parte privada, envolvendo clubes e associações.
Um
levantamento da NBC, em abril, previa uma perda de até US$ 1 bilhão nas
grandes ligas americanas, como NBA, NHL e MLB. Porque foi justamente
durante a temporada destas competições que a Covid-19 gerou o isolamento
social e cancelamento em massa das disputas. Os prejuízos, segundo a
rede de TV, seriam sentido principalmente nas categorias de base destas
associações, onde já houve uma diminuição de fluxo financeiro.
A
Nova Zelândia, que se tornou um exemplo de combate ao novo
coronavírus, se antecipou aos acontecimentos e injetou cerca de US$ 157
milhões no esporte, de acordo com a agência Reuters. Este valor é para
ser empregado na formação de atletas e suporte aos profissionais,
segundo o Ministro do Esporte local, Grant Robertson.
A
verdade é que o estrago já está feito. A Covid-19 tirou centenas de
milhares de vidas e deixou heranças malditas. Uma delas será paga pelas
próximas gerações. Mas os atletas atuais já sentem seus efeitos muito
além dos sintomas do coronavírus.
Foto: Divulgação
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