O adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio por causa da pandemia de coronavírus pode levar a organização gastar entre US$ 2 e 6 bilhões a mais com o evento, que já havia passado da marca dos US$ 12 bilhões de orçamento. Mas o bilionário mundo da organização olímpica não reflete a vida dos atletas que competem no evento. Muitos já estão alegando dificuldades financeiras causadas pelo adiamento das Olimpíadas e pela paralisação do esporte.
Este é o caso da arremessadora de martelo norte-americana, Gwen Berry, que foi entrevistada pelo USA Today, um jornal dos Estados Unidos.
"Para o atletismo, contamos com eventos de atletismo, eventos no exterior", disse ela em relação a paralisação dos torneios. "Porque não há literalmente nada, nenhuma competição e essa é a nossa forma de ganhar dinheiro".
Berry encontra-se em uma situação menos complicada, pois ainda recebe uma bolsa da USA Track & Field e está conseguindo utilizar as instalações de uma escola secundária no Texas para treinar. Mas ela afirma que trata-se de um valor que não é possível nem se sustentar por alguns meses.
Entretanto, ela considera procurar um emprego para complementar a renda enquanto não houver campeonatos para disputar. Mas a perspectiva assusta. Mais de 20 milhões de norte-americanos ficaram desempregados no mês passado, elevando a taxa de pessoas sem trabalho para 14,7%, a maior em 70 anos.
"Os melhores atletas da América podem estar trabalhando como entregadores ou em mercearias e o que mais eles precisarem fazer", disse Brant Feldman, um empresário que representa atletas olímpicos e paralímpicos.
A parada do esporte pode significar para muitos atletas, não ter mais dinheiro. “Muitos deles são ou foram 'trabalhadores clássicos'. Eles fazem palestras, apresentações”, disse Sarah Hirshland, CEO do Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA (USOPC). "Embora, em qualquer um dos casos, os trabalhos possam não ser significativamente lucrativos, muitos deles sustentam alguns desses caras e muito disso se esgotou", ressaltou Hirshland, sobre a falta de renda no esporte e a queda no emprego nos Estados Unidos.
A paralisação das competições e o adiamento dos Jogos Olímpicos afetaram a USOPC e os órgãos governamentais que cuidam de cada modalidade. A entidade norte-americana já cortou por exemplo, entre 10 e 20% das despesas neste mês.
“A maioria dos atletas tem menos de seis dígitos em contratos com marcas de calçados, e alguns estão bem abaixo. Outros não tem nem contrato, portanto, o dinheiro gerado com as premiações é essencial para sua sobrevivência como atleta e permite que eles pagam o aluguel, comprem mantimentos, etc”, disse John Nubani, representante cerca de 30 atletas de atletismo, em entrevista ao USA Today.
Eventos de natação, atletismo, ciclismo e golfe já estão sendo remarcados para o segundo semestre desse ano, com diversos protocolos de segurança à saúde e restrições como a não presença de público nos ginásios e estádios. Além disso, torneios de tênis já estão rolando em solo norte-americano, e esses tipos de eventos podem fortalecer a renda dos atletas que estão passando por dificuldades.
Foto: Maratona de Pittsburgh |
Outro atleta afetado pela paralisação do esporte foi o maratonista Martin Hehir, de 27 anos. Ele programava participar das maratonas de Boston, Chicago e Nova York, mas a pandemia de coronavírus adiou essas provas. Estudante de medicina, Hehir acredita que a disseminação da doença pode afetar mais ainda o calendário esportivo.
"Do ponto de vista financeiro, é meio difícil saber que realmente não haverá oportunidades de ganhar prêmios em dinheiro ou capitalizar bônus de contrato", disse Hehir. "Espero que todas essas corridas aconteçam no outono, mas tudo é muito incerto no momento".
Foto: Andy Lyons/AFP
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