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Surto Opina: A má distribuição de renda no esporte olímpico


Um estudo realizado pela Global Athlete em parceria com a Ryerson University e a Escola de Administração Ted Rogers, em Toronto no Canadá, afirma que o Comitê Olímpico Internacional (COI) tem em média US$ 1,4 bilhão de receita por ano e apenas 4,1% deste valor é repassado em remuneração aos atletas olímpicos, o que equivale a aproximadamente US$ 56 milhões.

Os valores indicados mostram que o ciclo olímpico 2013/2016 foi muito rentável. Foram US$ 2 bilhões arrecadados nos dois primeiros anos, incluindo receitas das Olimpíadas de Inverno em Sochi, na Rússia em 2014. 

Os outros US$ 3,6 bilhões de receita recolhidos em 2015 e 2016, têm ligação com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. De acordo com o estudo canadense, as maiores fontes de receita são os direitos de transmissão e o marketing, que juntos, compõem 91% de toda essa renda.

Com um repasse tão pequeno é mais que óbvia a dependência da maioria dos atletas olímpicos perante as federações esportivas de cada país, já que além disso, aqueles 4,1% de repasse são feitos para uma pequena porção de atletas, justamente aqueles que são de "primeiro escalão" e que talvez seja o grupo que menos precisa.

Este modelo de arrecadação se assemelha ao das ligas esportivas norte-americanas. A questão é que essas ligas são "empresas". Já o COI tem viés de organização sem fins lucrativos. O problema fica mais grave ao analisar quanto da arrecadação dessas ligas são repassadas aos seus atletas.

Foto: Frank Gunn/The Canadian Press
A National Hockey League (NHL / Hóquei no Gelo), a National Basketball Association (NBA / Basquete) e a National Football League (NFL / Futebol Americano) repassam entre 40 e 60% de sua arrecadação às franquias, que pagam os salários dos atletas. E essa grande porcentagem de distribuição de renda só foi alcançada após muitas discussões, locautes e greves.

Os atletas das ligas esportivas norte-americanas foram pioneiros ao se mobilizarem em busca de condições melhores de trabalho, além de uma distribuição melhor das receitas, conseguindo salários maiores, uma vez que eles são as grandes estrelas.

Esse seria um momento muito oportuno e justo para debater a importância de uma boa distribuição de renda dentro do esporte olímpico. O tema já está sendo discutido dentro do tênis, por exemplo, com possível a criação de um fundo de auxílio aos tenistas com ranking mais baixo.

Por mais que seja legal a mística olímpica da superação de barreiras, do enfrentamento das dificuldades, é claro que os atletas hoje em dia são extremamente profissionais, seguem uma linha de trabalho visando resultados, conquistas e lucro também. Então o COI deveria premiar esses atletas, assim como todo torneio dentro do universo de cada modalidade faz. Sem atleta, não há Olimpíada.

O estudo canadense ressaltou ainda que há uma possibilidade dos atletas assumirem protagonismo na remodelação do movimento olímpico e na distribuição da renda arrecadada, com a tentativa de negociação coletiva. "Caso o COI e seus filiados não quiserem ou não puderem compensar seus atletas, a negociação coletiva mudará a face do Movimento Olímpico".

O estudo foi lido por vários atletas, causando repercussão entre eles. O bicampeão olímpico do salto triplo Christian Taylor afirmou estar "chocado" com o estudo.

"É um absurdo ver o quanto de verba é repassada ao atleta. As Olimpíadas são um negócio próspero. E nós atletas não estamos vendo os frutos disso. Que sirva de alerta" apontou Taylor.

Foto: Adrian Dennis/AFP
O outro lado

Entretanto, o COI rebateu a pesquisa e soltou uma nota afirmando que redistribui a maior parte da arrecadação. "Redistribuímos 90% da renda gerada nos Jogos Olímpicos para ajudar e desenvolver atletas e esportes em todo mundo. Como resultado, todos os dias o COI distribui cerca de US$ 3,4 milhões em todo mundo para ajudar os esportes", dizia o comunicado.

Além disso, o COI alega que o dinheiro é repassado para comitês olímpicos de diversos países, federações internacionais, programas de base e a Agência Mundial Antidoping (WADA).

A Tréplica

O diretor geral da Global Athlete, Rob Koehler afirmou que ficaria feliz caso o COI pudesse de fato desmentir o estudo realizado, desde que os atletas pudessem checar profundamente os números. Segundo ele, os dados divulgados pela entidade são apenas uma estimativa, uma vez que o COI perde o controle dessa contabilidade ao repassar verba para diversas subsidiárias que não são reconhecidas pela transparência financeira.

“Minha resposta ao COI é bastante simples. Se estivermos errados, abra seus livros ”, disparou Koehler. “Precisamos de transparência. É o que falta no movimento olímpico. Precisamos ter mais noção de onde o dinheiro realmente está indo. Com certeza não vai para os atletas".

Koehler disse ainda que esta será uma grande queda de braço e que precisará do envolvimento de muitos atletas para buscar a negociação coletiva.

O COI realmente dispõe de toda essa força, afinal, são anos de tradicionalismo comandando o esporte olímpico. Mas com a pandemia de coronavírus, a entidade patinou em decisões que deveriam ter sido tomadas com mais agilidade, como o adiamento dos Jogos Olímpicos. A opinião dos atletas falou mais alto, ocasionando a cobrança veemente de um posicionamento, enquanto todo o mundo do esporte, já havia anunciado decisões e postergado torneios.

Saiba mais sobre as entidades que produziram o estudo

A Global Athlete é um movimento internacional liderado por atletas para forjar novas lideranças e buscar mudanças no esporte, dialogando com seus respectivos administradores.

A Ryerson University é uma universidade canadense que conta com mais de 45 mil estudantes e mais de 50 programas de mestrado e doutorado. Já a Escola de Administração Ted Rogers, que integra a Ryerson University, é considerada a maior escola de administração do Canadá.

Foto: Agência EFE

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