Poucos atletas brasileiros enfrentaram aflição semelhante à da
velejadora Isabel Swan para garantir uma classificação nominal para os Jogos Olímpicos de 2016.
Barco quebrado na véspera do dia decisivo da disputa da vaga, fantasmas
do passado e enorme tensão ao assistir de longe o seu destino ser
decidido. Depois de muitos percalços, porém, a velejadora comemora: será
a representante do Brasil na classe Nacra 17 da vela
ao lado de Samuel Albrecht. “Foi resultado de muito trabalho e
dedicação. Confesso: chorei muito”, lembra Isabel, que em 2009
participou da campanha para trazer os Jogos Olímpicos de 2016 ao Brasil.
A saga de Isabel começa em 2008, quando ela e Fernanda Oliveira se
tornaram as primeiras brasileiras a ganhar uma medalha Olímpica na vela,
um bronze na classe 470 feminina. No ano seguinte, valorizada pelos
resultados em Pequim, a velejadora carioca contribuiu ativamente na
candidatura de sua cidade natal aos Jogos de 2016. Viajou para
Copenhague, Dinamarca, e colaborou com o sucesso na empreitada de trazer
a principal competição esportiva do planeta pela primeira vez para o
continente sul-americano. “Participei da eleição do Rio fazendo o
discurso na apresentação para o Comitê Olímpico Internacional”,
relembra.
Depois do episódio, porém, Isabel enfrentou grandes decepções. Na
principal delas, a velejadora foi uma das responsáveis pela
classificação do Brasil para a classe 470 da vela feminina nos Jogos
Londres 2012 (ao lado de Martine Grael), mas perdeu a disputa interna
pela vaga para sua ex-parceira, Fernanda Oliveira, que formou dupla com
Ana Barbachan para o ciclo Olímpico que levaria à competição na
Grã-Bretanha. Quatro anos depois, nova derrota para a dupla, que também
ficou com a vaga dos Jogos Rio 2016. “Lembrei muito do que aconteceu com
a Fabiana Murer (nos Jogos Pequim 2008, a atleta do salto com vara teve
o desempenho prejudicado pelo sumiço de uma de suas varas durante a
competição). O recomeço te faz mais forte, mas não é fácil.”
Como o Brasil tem representantes garantidos em todas as provas de vela
dos Jogos Rio 2016 (pela qualidade de anfitrião do evento), a
Confederação Brasileira de Vela (CBVela) determinou que os atletas do
país na classe Nacra 17 e na 470 masculina seriam definidos a partir da
somatória de resultados do Campeonato Sul-Americano e da Copa Brasil.
Isabel formou dupla com Samuel Albrecht há seis meses com a intenção de
lutar por uma vaga na prova estreante no programa Olímpico. Estavam em
vantagem na disputa com os principais rivais, João Bulhões e Gabriela
Nicolino. No torneio continental, abriram vantagem: chegaram em 7º lugar
na classificação geral contra um 13º dos adversários.
Mas o fantasma de ver a chance de ir aos Jogos escapar mais uma vez
reapareceu. “Na véspera do dia decisivo da Copa Brasil, uma peça da
nossa proa quebrou. Passamos a noite em claro consertando. Conseguimos
colocar o barco na água, mas a estrutura sentiu”, relembra Isabel.
“Velejamos toda a última regata da fase de classificação torcendo para
que o barco não quebrasse."
A dupla terminou a participação no
evento em 12º lugar – insuficiente para integrar o grupo de dez
participantes da match race, a regata final. Do outro lado, Gabriela e
Bulhões mostraram evolução e conseguiram garantir a chance de seguir
competindo. Isabel teve de ver seu destino ser decidido em terra, sem
nada poder fazer. Se os rivais chegassem em uma posição superior a
sétimo lugar na classificação geral, tudo estaria perdido. A velejadora
que contribuiu para trazer os Jogos Olímpicos ao Rio poderia,
ironicamente, ficar de fora da festa.
Tensa, Isabel não assistiu à regata em terra. De um bote na praia de São
Francisco, em Niterói, viu seus adversários à vaga terminarem a Copa
Brasil na oitava posição. E pôde finalmente comemorar a presença nos
Jogos Rio 2016. “Vinha plantando coisas positivas. Sabia que em algum
momento tudo iria melhorar”, contou a velejadora, em sintonia com os
ensinamentos da Igreja Messiânica, que passou a frequentar com mais
assiduidade enquanto enfrentava as adversidades. “Acho que todo esse
processo que passei fortaleceu minha fé", conclui. O ano de 2016 começa a
todo vapor, e a meta é chegar aos Jogos no melhor da forma. "Em janeiro
já temos duas competições nos Estados Unidos: a Copa do Mundo, em Miami
e o Mundial, em Clearwater."
Foto: Brasil 2016
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