Considerada a modalidade mais nobre do programa olímpico por
representar as origens gregas do evento, o atletismo exige índices
internacionais para que um atleta tenha o direito de representar seu
país nos Jogos Olímpicos. As 47 provas (24 masculinas e 23 femininas)
têm um pré-requisito de qualidade rigoroso. E simplesmente obter a marca
não garante participação. Como cada país pode inscrever no máximo três
atletas por prova, em alguns casos – quando o número de atletas com
índice é superior a três – é necessária uma seletiva interna.
Assim, o primeiro semestre de 2016 torna-se estratégico para muitos
atletas brasileiros, não apenas por ser a reta final de preparação. O
prazo para a obtenção dos índices teve início em 1º de maio do ano
passado e, para a maioria, a conquista das marcas olímpicas pode ser
obtida até a data limite de 3 de julho. A exceção fica por conta das
provas de maratona e marcha atlética 50km, cujo prazo vai até 6 de maio.
Superintendente de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de
Atletismo (CBAt), Antônio Carlos Gomes revelou que a entidade espera
contar com uma grande delegação para defender o Brasil nos Jogos do Rio.
“Nós torcemos para chegar a 60 atletas, que seria a maior delegação da
história do atletismo do Brasil nos Jogos”, adiantou o dirigente.
Até o fim de dezembro, a CBAt contabilizava 40 atletas com índices
olímpicos para 45 provas (cinco deles conquistaram a marca para duas
disputas). São 22 representantes no masculino, em 12 provas, e 18 no
feminino, com marcas para 11 provas.
Entre os homens, os brasileiros têm índices nos 200m, 400m, 1.500m,
110m com barreiras, 400m com barreiras, salto com vara, lançamento de
dardo, decatlo, 20km da marcha atlética, 50km da marcha atlética e
maratona. Desses, apenas na maratona o país ultrapassou a cota de três
atletas. Até aqui, são 10 corredores com tempos abaixo das 2h17min
exigidas.
Entre as mulheres, as brasileiras já obtiveram índice para as provas
de 100m, 200m, 400m, 800m, salto com vara, salto em distância, salto
triplo, arremesso de peso, lançamento de disco, 20km da marcha atlética e
maratona. Assim como entre os homens, apenas na maratona o limite de
três atletas foi superado, com seis corredoras credenciadas.
A definição dos representantes do Brasil na maratona seguirá
critérios determinados pela CBAt, ressaltando-se o fato de que uma prova
em particular, o Troféu Brasil, em maio, será determinante para os
pretendentes, pois o campeão e a campeã estarão automaticamente
garantidos nos Jogos Olímpicos.
Vaga assegurada
À exceção da maratona, como em muitos casos o limite de três atletas
por prova dificilmente será atingido, a maioria dos atletas com índice,
no masculino e no feminino, já sabe que competirá no Rio. Oficialmente,
entretanto, o único que pode comemorar é o maratonista Solonei Rocha da
Silva, em função de ter terminado a prova da maratona do Campeonato
Mundial de Pequim na 18ª posição.
Com esse resultado, ele cumpriu o item 3 dos critérios de convocação
para os Jogos Olímpicos Rio 2016 da CBAt, que prevê que “estarão
automaticamente classificados para as provas da maratona os atletas que
se classificarem do 1º ao 20º lugar nas provas dos Campeonatos Mundiais
de Atletismo de 2015”.
Ouro no Pan de Guadalajara 2011, campeão da Maratona de São Paulo em
2012 e sexto no Mundial de Moscou em 2013, Solonei está orgulhoso. “É um
meio de demonstrar para as pessoas, para a família e para os amigos que
você conseguiu atingir o objetivo máximo e que tudo, todo o esforço,
valeu a pena. Se for definir em uma palavra o que sinto, seria orgulho
por poder defender o Brasil dentro do meu país”, declarou.
Solonei ainda não definiu o calendário para o primeiro semestre, mas a
prioridade é mais treinar que competir. “Vamos trabalhar com
tranqüilidade, analisando aos poucos o cenário. Provavelmente eu faça
uma prova preparatória antes dos Jogos. O importante é trabalhar com
segurança, fazer bons treinos e focar em agosto”, disse.
Duas medalhas
O plano de metas para os Jogos Olímpicos do Rio, segundo Antônio
Carlos Gomes, ainda não está definido. A CBAt pretende estabelecer os
parâmetros a partir do instante em que a delegação estiver definida.
“Só em maio é que devemos fechar os prognósticos. Nesse momento,
temos planos de disputar duas medalhas. Uma com a Fabiana (Fabiana
Murer, no salto com vara), e, se o prognóstico do Duda (Mauro Vinícius
da Silva, do salto em distância) se confirmar, ele é o outro candidato.
São só esses por enquanto”, disse o dirigente. “Mas isso pode mudar até
maio, a depender dos resultados. Não dá para prever ainda”, ressaltou.
Antônio Carlos Gomes explicou ainda que, além de medalhas, a
confederação tem outros objetivos. “O objetivo número dois é ter a maior
quantidade de atletas nas finais. E o objetivo número três é ter a
maior quantidade de atletas fazendo os melhores tempos ou marcas de suas
vidas”, revelou.
Apoio
Por se tratar de um esporte com múltiplas provas, cada um com sua
característica, a confederação prefere que cada atleta, com seu
treinador e clube, trace seus planos. Cabe à confederação dar o apoio
logístico.
“A gente se envolve pouco com os planos de treinamento porque a
preparação é feita nos clubes, com os técnicos de cada um”, afirmou
Martinho Nobre dos Santos, superintendente Técnico da CBAt. “Como cada
prova exige um treinamento específico, não temos como interferir. O que a
gente faz é exigir o cronograma e tentar assegurar que os atletas que
já têm índice estejam se preparando de forma adequada para os Jogos de 2016”, completou.
Sem pressão
Apontada como a maior esperança para um pódio no atletismo nos Jogos
Olímpicos, Fabiana Murer diz estar pronta para lidar com a pressão e com
a expectativa em torno dela.
“Acho bom competir em casa. Gosto de ter a torcida a favor”, disse a
saltadora. “Lógico que dá aquele nervosismo maior por ser Olimpíada, mas
o atleta tem de saber lidar com isso. A pressão só vai crescendo ao
longo da carreira e quem não souber lidar com isso não tem como ser
atleta de ponta, de alto nível. Todos os que foram bem-sucedidos
souberam lidar com isso. No meu caso, se estiver bem treinada e tiver
feito boas competições antes das Olimpíadas, nada vai me atrapalhar”,
disse Fabiana, que em 2015 foi vice-campeã mundial em Pequim e em 2014
sagrou-se bicampeã da Diamond League.
Foto: Getty Images
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