Sandro Hiroshi deixou o futebol há dois anos, mas manteve a rotina de
esportista. Trocou os pés pelas mãos e mudou radicalmente o tamanho do
alvo. Quando atacante, tinha a missão de acertar o gol, de 7,32 metros
de largura e 2,44 metros de altura. Agora, o objetivo é atingir um disco
de apenas 11 centímetros de diâmetro, lançado a mais de 120 quilômetros
por hora. É na fossa olímpica - modalidade de tiro ao prato - que ele
tenta preencher o vazio após a aposentadoria. Em 10 meses, a nova
carreira já rendeu a Hiroshi o título brasileiro da classe C.
- Jogava futevôlei e depois passei a praticar o tiro para poder esquecer
a tristeza de ter parado (com o futebol). Eu não esperava ser campeão,
mas os resultados começaram a aparecer. Sempre joguei para vencer. E
aqui não é diferente. Cada prato que sai ali quero quebrá-lo - conta o
ex-jogador, sem esconder a saudade do futebol, mas já adaptado ao novo
ambiente.
Tudo começou como um hobby. A convite de amigos de Americana, onde
mora com a família, passou a frequentar um clube de tiro. Era mais para
passar o tempo. Pegou gosto e entrou de cabeça na experiência. A bola e
as chuteiras deram lugar à espingarda calibre 12 em punho, colete,
óculos e abafador de ouvido. O que não mudou foi a velocidade, sua
principal característica em campo. Mas agora ele precisa ser rápido no
gatilho e não com as pernas.
Além da agilidade de raciocínio,
necessita de concentração, muita concentração. Tanto que nem dá tempo
de vibrar quando derruba o alvo. Rapidamente tem de se preparar para o
próximo lançamento. Bem diferente de quando balançava as redes e tinha
tempo para comemorar. A determinação tem dado resultado. Hiroshi
aprendeu rápido as manhas da modalidade. Recentemente, foi campeão
brasileiro da Classe C, com 114 acertos em 125 disparos. Na fossa
olímpica, são 25 tentativas por série. Os pratos são lançados em três
ângulos diferentes, de forma aleatória. Mais difícil que fazer um gol?
Depende do ponto de vista...
- No futebol, você tem poucas
chances ao longo de uma partida. Aqui, são diversas tentativas. Então, é
um pouco mais fácil. Por outro lado, se eu errar aqui, não tem um
zagueiro para me salvar lá atrás - brincou o agora atirador, comparando
as duas paixões.
Para chegar ao nível atual, Hiroshi passou
por todo o processo de preparação: fez cursos, testes, exames e tirou a
documentação exigida pelo Exército. A aptidão para o tiro já havia
ficado em evidência em outras categorias. Antes de passar para a fossa
olímpica, de um grau de dificuldade maior, teve experiências bem
sucedidas no "trap americano", conquistando o título paulista da classe B
e ficando com o vice brasileiro da classe C.
Como a idade não é problema no tiro, Hiroshi não tem pressa para
crescer dentro da categoria. Vai passo a passo. O mais importante, para
ele, é ocupar a mente após a saída dos gramados. Ele até queria ter
atuado por mais tempo, mas parou aos 33 anos por conta de seguidas
lesões no joelho - ao todo, foram quatro cirurgias de ligamento cruzado.
Se despediu no clube onde começou a trajetória profissional: o Rio
Branco de Americana.
A ascensão foi acompanhada de um drama
que atrapalhou a carreira. Pelo São Paulo, em 1999, quando vivia uma boa
fase, ficou marcado pelo caso de adulteração de idade, conhecido no
meio como "gato". Já sem grande destaque, seguiu em frente com as
camisas de Guarani, Flamengo e Figueirense, além de cinco temporadas no
futebol coreano. De volta ao Brasil, ainda teve tempo de defender
novamente o Rio Branco, por um curto período no início de 2013. De lá
para cá, mudaram o alvo e o equipamento, mas a paixão pelo esporte
continuou intacta.
Foto: Reprodução/EPTV
Fonte: Globoesporte.com
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