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Surto História: Cinco anos do adiamento das Olimpíadas de Tóquio

Phillip Fong/ AFP


24 de março de 2020 ficou marcado na história como o dia em que uma olimpíada foi adiada pela primeira vez. Em um mundo assustado por conta do avanço do vírus da Covid-19 e que gerou uma pandemia global, O comitê olímpico internacional (COI) fez de tudo para que os Jogos permanecessem em sua data original, mas depois cedeu às pressões dos países e dos atletas e anunciou o adiamento inédito na história.

Como já citado acima, foi claro e notório que o COI e o Comitê organizador de Tóquio-2020 esperaram o máximo que puderam para fazer o adiamento, muito por conta de todo o dinheiro envolvido naqueles jogos, e o que causou um desgaste desnecessário com a comunidade esportiva e até com alguns governos nos dias de março.

Em janeiro, A Covid-19 começava a avançar mais rapidamente com países como China e Itália sendo devastados pelo vírus, e já começavam os primeiros pedidos do adiamento das olimpíadas, já que parecia que seria impossível reunir atletas de tantos países em meio a um vírus desconhecido circulando pelo mundo. No fim de janeiro o primeiro caso foi identificado no Japão, país dos jogos e em 13 de fevereiro de 2020 os pedidos ganharam mais força após a primeira morte por covid-19. Esta morte fez Yoshiro Mori, presidente do Comitê Organizador de Tóquio 2020 vir a público  rapidamente para afastar 'rumores irresponsáveis' de que os Jogos olímpicos seriam adiados.

Mas em fevereiro aos poucos os cancelamentos de eventos começavam a acontecer inicialmente na Ásia e os pedidos para um adiamento começavam a ganhar força. Dick Pound, o membro mais velho do COI afirmou no fim de fevereiro que o vírus estava começando a sair do controle e que até maio seria dada a resposta se os jogos olímpicos seriam adiados ou não.

Só que o avanço em progressão geométrica do vírus  continuava a preocupar o mundo, menos o COI que continuava a ignorar o problema. Em 4 de março, dias antes da OMS declarar oficialmente estado de pandemia global por conta da Covid-19, O presidente Thomas Bach disse em entrevista que não estava sendo cogitado nenhum adiamento ou cancelamento dos Jogos naquele momento.

Até que veio o dia D. Com a pandemia declarada oficialmente em 11 de março e os casos de covid-19 crescendo a cada hora, competições começaram a ser suspensas. A NBA suspendeu sua temporada com jogos em andamento sendo suspensos - Por conta de um gesto infeliz de Rudy Gobert que resolveu passar as mãos nos microfones dos jornalistas em uma coletiva e um dia depois, descobriu-se que ele contraiu o vírus. Este acabou sendo caminho pelas competições de futebol e de tênis, já que no momento não tinham opções de proteção contra o vírus que não fosse o isolamento social. No Brasil, as  competições foram ficando suspensas  até 15 de março, quando o futebol brasileiro parou e fez todas as outras modalidades pararem também.

Neste cenário, já era mais do que claro que as datas da Olimpíada e da Paralimpíada de Tóquio tinham que ser, no mínimo, revistas. Mas o COI e o comitê organizador continuavam a sair pela tangente. Mesmo com o próprio COI adiando pré-olímpicos, como o de boxe, o que evitava que as vagas para os Jogos fossem preenchidas, o COI se mantinha impassível e com o plano de esperar para que surgisse alguma outra opção que não fosse o adiamento ou até o cancelamento.

Até que Thomas Bach fez uma reunião com a comissão de atletas em 18 de março, que era liderada pela hoje futura presidente do do COI Kirsty Coventry, e disse que os atletas apoiaram a decisão de manter as olimpíadas e paralimpíadas de forma unânime, e que 'ainda teriam quatro meses' para definir as situações.

Kirsty fez um vídeo para tranquilizar os atletas olímpicos e pediu para que os atletas 'continuarem o que estavam fazendo' treinando em suas casas. O nadador Bruno Fratus foi um dos primeiros a se pronunciar publicamente pedindo para Coventry 'reconsiderar e consultar com outros atletas pelo mundo." que assim como ele, não tinham onde treinar.


Os pedidos, que já eram grandes passaram a ser ensurdecedores para o COI, que passou a afirmar que a decisão do adiamento seria avaliada diariamente em 19 de março. Mais atletas como a campeã olímpica do salto com vara Ekaterini Stefanidi também pediram o adiamento dos jogos e como uma reação em cadeia, os Comitês olímpicos começaram a a se pronunciarem

O Comitê olímpico espanhol se tornou o primeiro a pedir oficialmente o adiamento dos Jogos olímpicos de Tóquio, já que o país fazia parte do epicentro da pandemia naquele momento ao lado de França e Itália, isso ainda no dia 18. Os dias seguintes  a tensão foi aumentando com mais comitês olímpicos como o da Noruega, Alemanha e do Brasil pedindo o adiamento, e federações nacionais como a de atletismo e a de natação dos Estados Unidos pediram publicamente para o comitê olímpico do país intercedessem pelo adiamento dos Jogos.

E estava ficando insustentável. A opinião pública do Japão se voltava contra o COI e o primeiro Shinzo Abe. A comunidade esportiva ficava cada vez mais unida pelo adiamento, sob alegações que não teria segurança comprovada para os atletas contra o vírus, além de que não teriam garantias de que exames antidoping seriam feitos, o que poderia comprometer a lisura dos Jogos.

O então primeiro ministro Shinzo Abe tentou ajudar o COI a manter os Jogos olímpicos na data original, mas em vão (Foto: Kyodo/ Reuters)

A pressão foi tanta que no dia 22, pela primeira vez o COI admitiu adiar a olimpíadas, mas se deu um mês para discutir isso para se alinhar com as 33 Federações internacionais que tinham modalidades no programa olímpico, por conta das competições futuras. Bach chegou a afirmar para uma rádio alemã que "Não se pode adiar os Jogos Olímpicos como se faz com uma partida de futebol para o próximo sábado", para dizer que isso precisaria ser muito bem pensado.

No mesmo dia, a Austrália resolveu fechar todas suas entradas e saídas do país por tempo indeterminado, colocando em risco sua participação olimpíada se ela acontecesse. Já o Canadá foi mais radical e avisou que se a olimpíada não fosse adiada, não enviaria atletas. 

E o que levaria um mês, levou apenas dois dias. Shinzo Abe, então primeiro ministro do Japão, fez um pronunciamento no dia 24 de março de 2020 afirmando que as olimpíadas e as paralimpíadas foram adiadas por um ano, em data a definir. Dias depois, ficou sabendo que 23 de junhos teríamos os jogos olímpicos e 24 de agosto, os paralímpicos.


Esta foi a primeira que uma olimpíada foi adiada. Antes ela tinha sido cancelada três vezes por conta da I e da II guerras mundiais. E pela primeira vez na história, ela foi disputada em um ano ímpar, 2021.

Meses depois, o que se viu foram muitas incertezas de que a olimpíada realmente aconteceria, se conseguiram reunir atletas de 200 países sem problemas, sem contar os prejuízos financeiros que o COI teve. Mas em conjunto com o comitê organizador e a OMS, e graças a rápida fabricação de vacinas, os Jogos olímpicos e paralímpicos puderam acontecer em 2021, sem público e com um rígido protocolo de uso de máscaras e higienização, mas sem restrições de países.

A Pandemia de Covid-19 marcou para sempre o mundo. O vírus infectou mais de 700 milhões de pessoas ao redor do mundo e matou mais de 7 milhões. No Brasil, foram 38,7 milhões de casos e 711 mil mortes. E no mundo olímpico, o vírus ficará sempre marcado como o causador de um adiamento de uma edição de Jogos Olímpicos.



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