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Surto Opina - Quer medalha? Chama o judô!

Miriam Jeske/ COB


O judô brasileiro fez história em Paris. Além de manter a incrível sequência de 11 jogos olímpicos seguidos subindo ao pódio - desde Los Angeles-84 - e ficar ainda mais isolado como modalidade em que o Brasil mais medalhas em Jogos olímpicos - 5 ouros, 4 pratas e 19 bronzes, 28 no total - , a modalidade mostrou que soube se reinventar após uma Olimpíada de Tóquio mais discreta e que continua sim, como o carro-chefe do Brasil.

Os jogos de Tóquio-2020 foram abaixo do esperado para o judô, apenas dois bronzes (Mayra Aguair e Daniel Cargnin), nenhum quinto lugar e três sétimos (Rafael Silva 'Baby', Ketleyn Quadros e Maria Suelen Althemann), além de cair na repescagem nas equipes mistas. O judô masculino teve um desempenho sofrível, com quatro derrotas na primeira rodada e com a geração dourada do judô feminino envelhecida -e desfalcada de Rafaela Silva, suspensa por doping - deixou a sensação que o judô começaria perder a força em olimpíadas.

A Confederação Brasileira de Judô (CBJ) ligou o alerta e resolveu renovar seu corpo técnico. Em dezembro de 2021, os lendários treinadores Luiz Shinohara, Rosicleia Campos e Mario Tsutsui, responsáveis por 14 medalhas olímpicas do Brasil, e japonesa Yuko Fujii, que treinava a seleção masculina, saíram. Para o seu lugar, foram chamados Kiko Pereira no masculino e Sarah Menezes no feminino

No masculino, veio um técnico consagrado, que treinou João Derly, Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, para tentar dar um novo ar no judô masculino, muito em baixa após Tóquio-2020 e nem de longe lembrava os áureos tempos de presença constante em pódios. Já Sarah Menezes foi uma aposta, já que a campeã olímpica em Londres-2012 tinha encerrado a carreira recentemente, aos 31 anos, por conta das graves lesões sofridas na carreira, e já pegava um grande desafio como treinadora, que era manter o o nível do judô feminino alto o suficiente como o da geração que ela fez parte.

Em pouco tempo a seleção já mostrou sua força entre as mulheres no mundial de 2022, com os ouros de Rafaela Silva e Mayra Aguiar, e a prata do jovem Talento Beatriz Souza. No masculino, Cargnin continuou sendo o brilho solitário com um bronze. Em 2023, um desempenho mais discreto, onde os pesados brilharam com bronze para Rafael Silva 'Baby' e Beatriz Souza e em 2024, a equipe passou em branco, o que novamente ligou o sinal de alerta, mas para os torcedores.

A renovação no comando técnico se mostrou necessária, e a renovação na seleção também. Apenas seis convocados para a olimpíada de Paris estavam em Tóquio, após o último mundial em branco, onde o Brasil acabou meio que escondendo o jogo, o que foi fundamental para a seleção chegar em Paris mais concentrado e sem muitas expectativas da mídia e da torcida por medalhas.

E o resultado veio em Paris, logo a melhor participação da história do Brasil no judô. Começamos com o bronze para Larissa Pimenta e prata para Willian Lima no mesmo dia, ótimos valores do nosso judô que precisavam de um grande resultado para ganharem confiança para se tornarem protagonistas da nossa seleção, o que aconteceu logo na principal competição do judô e que vai dar uma injeção de confiança para ambos. 

E teve o ouro de Bia Souza, que foi a grande descoberta do judô brasileiro dos últimos anos. Ela já poderia ter ido em Tóquio, mas a experiência de Maria Suelen Althemann foi escolhida. Suelen acabou encerrando a carreira após Tóquio e de 'rival', virou treinadora de Bia no Pinheiros. Em Paris, treinada por Sarah Menezes, foi impecável, venceu adversárias dificílimas usando toda sua técnica, botando elas no chão e dando prazer de ver um judô tão bem executado em meio a tantas lutas que só ficam decididas em shidos. Bia sai de Paris como o principal nome do judô brasileiro e por ser jovem, tem um potencial enorme para continuar subindo muito ao pódio no próximo ciclo olímpico - vamos orar para que as lesões passem muito longe dela nos próximos anos, amém. 

A Campeã olímpica Bia Souza é a grande estrela desta ótima participação do judô brasileiro (foto: Alexandre Loureiro/COB)

Na competição por equipes, com uma seleção mais homogênea e atuando muito bem, veio o resultado esperado - já que apesar da nossa melhora, ainda não dá para encarar Japão e França. Uma linda medalha de bronze contra a Itália, sendo decidida pela incrível Rafaela Silva - umas maiores judocas da nossa história , que ficou em quinto na sua categoria, mas foi decisiva demais por equipes, dando uma medalha que não somente ela merecia muito, mas para toda a equipe que merece demais estar no pódio.

O Brasil encerra sua participação no judô com um saldo muito positivo: Além da melhor campanha da história, mostrou que Kiko e Sarah fizeram ótimo trabalho no processo de renovação da seleção, que deve continuar para o próximo ciclo - Não teremos Mayra (outra judoca que é uma das maiores da nossa história, e se ela não é campeã olímpica, azar das olimpíadas!) e Baby, então já são duas vagas abertas na seleção. Kiko deu nova vida a seleção masculina, que foi mais combativa do que em Tóquio e apesar de algumas derrotas, teve bons destaques como Willian Lima e Rafael Macedo - que foi garfado, porque até agora não aceito esse shido 'indeterminado' dado pelos juízes - aumentando o nível da seleção para deixar a equipe mista homogênea, fundamental para brigar por medalhas - não dá pra para o judô feminino carregar sempre o Brasil nas costas

Já Sarah Menezes foi uma aposta muito acertada. Ela que se tornou a primeira brasileira campeã olímpica como atleta e treinadora, sai de Paris com três medalhas sob o seu comando e mostrou que mesmo sem ter experiência no comando técnico, seu conhecimento de olimpíadas como judoca foi fundamental para crescer melhorar a seleção feminina, destacando Larissa Pimenta e principalmente Bia Souza, que foi gigante em uma competição tão importante. Bia parecia estar competindo no intercolegial de tanta tranquilidade que ela aparentava - depois ela revelou em entrevistas que é uma pessoa tão zen que ela assistiu episódios da série grey's anatomy nos intervalos de suas lutas.

Temos que aplaudir e muito a qualidade do judô brasileiro, por sua incrível regularidade no pódio olímpico desde os anos 80, criando uma tradição fortíssima na modalidade, e sendo o porto seguro do Brasil nos Jogos olímpicos. Afinal, se tem uma modalidade que indo bem ou mal, nunca decepciona os brasileiros, que vai sempre estar no pódio olímpico e vai salvar quando a gente precisa na olimpíada esta modalidade é o judô. Como estão dizendo nas redes sociais, 'Quer medalha? chama o judô!'

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