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Parada das Nações Tóquio 2020 - El Salvador

Parada das Nações Jogos Olímpicos El Salvador

A República de El Salvador foi habitada por diversos povos americanos até ser ocupada pelo Império Espanhol no século XVI. Grande exportador da planta indigofera e café, hoje El Salvador é assolado por guerra de gangues que transformou o país num dos mais violentos do mundo. São Salvador, sua capital, já foi apontada como a cidade com mais assassinatos no mundo. 


Localizado na América Central, o país faz fronteira apenas com Guatemala e Honduras, que possui um território quatro vezes maior e menor população que o El Salvador. O pequeno país, curiosamente, é o único da América Central que não tem costa no caribe, com todas suas belas praias ficando no Oceano Pacífico.


No esporte, o país também persegue um futuro mais feliz. O país que demorou para estrear nos Jogos Olímpicos - apenas na Cidade do México 1968, com sua maior delegação disparada - ainda busca um pódio inédito olímpico, mas já tem dois atletas medalhistas nos Jogos Olímpicos da Juventude.


No Pan de Lima 2019 teve sua melhor campanha continental e o surfista medalhista de bronze, Bryan Perez pode surpreender em Tóquio, apesar de não estar na elite do esporte. A melhor colocação na história foi a da Maureen Kaila Vergara, ciclista que ficou em quinto lugar em Atlanta-1996. Vergara possui outro recorde: três edições olímpicas, ao lado do judoca Juan Carlos Vargas e da levantadora de pesos Eva María Dimas.

Selos de Atletas El Salvador Rio 2016
Selos usados para eleição popular para porta-bandeira de El Salvador na Rio 2016. A atiradora Lilia Castro (topo, à esquerda), mais velha da delegação aos 29 anos, foi eleita. O país ganhou uma oitava vaga de última hora, com Julio Salamanca, no Levantamento de Pesos


Da estabilidade ao rótulo de país mais violento do mundo, passando pela Guerra do Futebol

O território hoje ocupado pelo El Salvador fez parte do Império Mexicano e formou com vizinhos primeiro a República Federal da América Central entre 1823 e 1841 e a República Maior da América Central, desta vez apenas com Nicarágua, entre 1896 e 1898.


A política salvadorenha era relativamente estável até as primeiras eleições democráticas que aconteceram em 1930. Por ser um país pequeno e densamente populoso, muitos salvadorenhos migraram para Honduras durante as décadas, nação cinco vezes maior em território, mas com menos habitantes. 



Em 1969, cerca de 300 mil salvadorenhos moravam em Honduras, formando 20% da população daquele país. Pressionados por grandes empresas e capitalistas, o governo hondurenho retirou a posse de terras de vários campesinos originários de El Salvador e redistribuiu a terra entre hondurenhos, causando protestos entre junho e julho, culminando com uma rodada decisiva entre Honduras e El Salvador por uma vaga na Copa do Mundo do México. Por conta do contexto esportivo, o conflito ficou conhecido como a Guerra do Futebol, apesar de não ter sido causada diretamente pelo esporte.



As primeiras brigas intensas aconteceram justamente no jogo de Tegucigalpa em 8 de junho, e continuaram em São Salvador em 15 de junho.  Em 26 de junho, El Salvador conquistou a inédita vaga na Copa, num desempate na Cidade do México e no dia seguinte cortou todos laços diplomáticos com Honduras, citando que o governo de Tegucigalpa não fez nada para conter o “assassinato, opressão, esturpo, saques e expulsão em massa”, o que provocou a fuga de dezenas de milhares de salvadorenhos de Honduras.


Tudo culminou com uma invasão militar de El Salvador em 14 de julho, chegando próximo à capital hondurenha numa guerra que durou quatro dias, mas teve impacto na região por décadas. As tropas salvadorenhas só saíram quando tiveram a garantia do governo de Honduras que os cidadãos salvadorenhos seriam protegidos.


Em 1979, um golpe militar propagou uma guerra civil que durou de 1980 a 1992 e deixou de acordo com as Nações Unidas 75 mil mortos. Diferentemente do que aconteceu no Brasil, uma Comissão da Verdade para El Salvador foi criada imediatamente após os Acordos de Paz de Chapultepec, mas assim como no Brasil, o governo concedeu anistia para todos os lados do conflito. A anistia foi anulada em 2016 pela Corte Suprema do país para que criminosos sejam punidos.

O partido político conservador Aliança Republicana Nacionalista (ARENA) e a Frente Farabundo Martí para Liberación Nacional (FMLN), de esquerda, dominaram a política salvadorenha desde então até que Nayib Bukele, com então 37 anos, foi eleito presidente pela Grande Aliança pela Unidade Nacional (GANA). 


Um dos principais aliados do ex-presidente norte-americano Donald Trump, é conhecido por seu estilo despojado, usando bonés e óculos chamativos. O presidente, apesar de ser criticado por entidades internacionais por estar cometendo abusos de poder, ainda é popular em seu país, e criou um novo partido - Novas Ideias -, vencedor das eleições legislativas de fevereiro. 


Um dos seus principais legados parece ser os números de assassinatos que assolam o país e estão em franca queda. O país já foi considerado como o mais violento do mundo por inúmeras guerras entre gangues. Estudiosos de relações internacionais acreditam que o Presidente Nayib Bukele estabeleceu um acordo de paz secreto com as mais poderosas gangues locais enquanto estiver no poder.


Neste último sábado, 1º de maio de 2021, o novo Congresso tomou posse e como primeira medida destituiu o Supremo Tribunal e Procurador-Geral, que até então se mantiveram neutros e questionadores de várias das ações do Presidente, avisando à comunidade internacional para não interferir em assuntos internos. A oposição e imprensa local qualificou de Golpe de Estado, assim como várias entidades internacionais mostraram-se consternadas com a ação. 

 

História olímpica

O Comitê Olímpico de El Salvador foi criado em 11 de fevereiro de 1925, mas foi reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) apenas em 1938. Demorou mais de três décadas para finalmente enviar uma delegação olímpica, em 1968 para a vizinha Cidade do México, com 60 atletas, um recorde até hoje inalcançável. Munique 1972 e Pequim 2008 estão em um distante segundo lugar com 11 atletas.  

El Salvador time de futebol 1968
Time de futebol em 1968 na conquista por uma vaga olímpica. A base do time  disputariam os lendários confrontos contra Honduras para classificar o país à Copa do Mundo de 1970 - Foto: El Balón Cuscatleco 


O nadador Rubén Guerrero, com 13 anos, e o atirador Roberto Soundy, aos 68, até hoje possuem as distinções de serem os atletas mais jovem e mais velho a competir por El Salvador. Nenhum atleta do país passou de fase, inclusive o time de futebol que perdeu para Hungria e El Salvador e empatou com Gana. 


O país ficou não enviou representantes para Montreal 1976 e Moscou 1980, mas ao contrário do que se presume, não tem nada a ver com boicote. O país não foi ao Canadá por razões econômicas e à URSS por conta da guerra civil que começava a assolar o país. 


O país não se recuperou, mas conseguiu classificar-se para a Copa do Mundo de 1982, sendo uma das histórias que mais interessaram ao público brasileiro, como mostra essa reportagem da Revista Placar que destaca a presença de um psiquiatra na equipe do país, feito inédito dentre as seleções presentes na Espanha, já que todos os jogadores tinham familiares que haviam sido mortos na guerra:


El Salvador Placar Copa do Mundo de Futebol 1982
Revista Placar de 1982 é um lembrete que política e esporte estão sempre conectados - Foto: Reprodução /  Camisas de Futebol Retrô


Apesar de ainda viver em conflito, o país enviou dez atletas para Los Angeles 1984. A corredora Kriscia García, única mulher, foi a porta-bandeira. O judoca Fredy Torres perdeu para o brasileiro Sérgio Sano logo na estreia da categoria dos 65kg. A Memória Globo possui um impressionante acervo sobre a sua cobertura da Guerra Civil em El Salvador.


Em Atlanta 1996, El Salvador conseguiu seu melhor resultado na história, com o quinto lugar obtido por Maureen Kaila Vergara. Nascida nos EUA de mãe salvadorenha, decidiu representar o país da América Central e  foi uma das maiores surpresas de Atlanta 1996. Ela liderava a prova até 200 metros e  segundo relatos, poderia levar o ouro, quando caiu e terminou em quinto lugar na classificação final. Ela terminou em 17º em Sydney 2000.  

Rafael Arevalo Roger Federer tênis jogos olímpicos de Pequim 2008
Rafael Arévalo cumprimenta Roger Federer em partida de segunda rodada de Pequim 2008


Neste século, não tivemos atletas salvadorenhos próximos ao pódio. Em Pequim 2008, um dos destaques foi o tenista Rafael Arévalo, 447º do mundo na ocasião, que venceu um jogo e caiu apenas para o melhor de todos os tempos, Roger Federer, que na época era o rei absoluto do circuito. Antes da partida, o jogador salvadorenho, que alcançou o top10 do ranking juvenil em 2004, pediu uma camisa autografada para Federer. 


No tiro com arco, aconteceram duas quedas precoces para medalhistas: em Sydney 2000, Cristóbal Merlos caiu para o vice-campeão olímpico Vic Wunderle, dos EUA na primeira rodada. Nova derrota na primeira rodada em Atenas 2004: desta vez, no histórico estádio Panatenaico, sede dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, Ricardo Merlos, irmão mais novo de Cristóbal, para Wietse van Alten, dos Países Baixos por 152 a 151. Van Alten seria o medalhista de bronze.


Jovens medalhistas olímpicos de El Salvador

Marcelo Acosta venceu uma medalha olímpica juvenil, mas não engrenou na carreira adulta - Foto: Alchetron


Marcelo Acosta foi medalhista de prata nos 400m livre nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanquim em 2014. Neste mesmo ano levou medalha de ouro nos Jogos da América Central e Caribe e em 2015 carregou a bandeira de El Salvador no Pan-Americano de Toronto. 


Ele foi o primeiro nadador salvadorenho qualificado com índice A da FINA para os Jogos Olímpicos e terminou em 22º lugar nos 400m e 1.500m, competindo também nos 200m Ele foi o 14º melhor no Mundial de 2017 tanto nos 800m quanto nos 1500m.


Na mesma edição,  Sabrina Rivera Meza foi medalhista de bronze no torneio por equipes de saltos no hipismo, competindo pela equipe América do Norte, com colegas das Ilhas Cayman, República Dominicana, Equador e Guatemala.


A jovem amazona chegou a ser capa de uma revista de personalidades em El Salvador em 2014 - Foto ¡Hola! El Salvador / Reprodução


O país participa dos Jogos Pan Americanos desde a edição inaugural, em Buenos Aires 1951, apenas na natação. A primeira medalha veio com o bronze do boxeador Roberto Espinoza em Cidade do México 1975, e finalmente levou um ouro na Rio 2007, com Cristina López, na marcha atlética. 


Em Lima 2019, El Salvador obteve sua melhor campanha na disputa, com três ouros: Roberto Hernández, no tiro com arco composto, e Yuri Rodríguez e Paulina Zamora, campeões no fisiculturismo clássico masculino e fiitness feminino. Todas são provas que não fazem parte do programa olímpico.


Algumas das entrevistas realizadas com personalidades do esporte salvadorenho - Reprodução / Canal do Youtube: Team ESA Sports - Comité Olímpico de El Salvador



É importante destacar o trabalho que o Comitê Olímpico de El Salvador tem feito através de seu canal no youtube em que disponibiliza entrevistas feitas com vários atletas, dirigentes e estudiosos da atualidade e da história do país. As entrevistas são transmitidas localmente através da rádio e da televisão, buscando promover uma popularização do esporte no país. 


Esportes de destaque


Futebol

O Estadio Cuscatlán na capital São Salvador é o maior de toda a América Central. O país se classificou para duas Copas do Mundo, mas é geralmente lembrado pela derrota por 10 a 1 para a Hungria em 1982.


Fisiculturismo

Incluído como esporte apenas no Pan de Lima 2019, El Salvador ganhou as duas únicas medalhas de ouro disputadas na história. Como é improvável que volte ao programa pan-americano tão cedo, o pequeno país permanecerá como líder incontestável e invicto do esporte por muito tempo na história do evento.

Atletas de Destaque

Bryan Perez 

Surfista nascido em Punta Roca promete ficar no topo contra estrelas do surfe mundial nos Jogos Olímpicos - Foto: Estrategia y Negocios 

Medalhista de bronze no Pan de 2019 ao perder para os finalistas Luca Mesinas e Leandro Usuna em sequência, o surfista Bryan Perez é uma estrela local e esperança de medalha para Tóquio. O pré-olímpico mundial acontecerá em El Sunzal, na costa do país entre 29 de maio de 6 de junho, e é um dos favoritos a levar uma das cinco vagas disponíveis no evento.


Enrique Arathoon 

Velejador de 29 anos disputará segunda olimpíada em julho - Foto: Reprodução Youtube / Team ESA Sports - Comité Olímpico de El Salvador


Ele ficou em 24º lugar no Rio de Janeiro na categoria laser da vela e até o momento deste especial é o único atleta do país confirmado em Tóquio 2020. No Pan-Americano de Lima 2019 teve um início ruim, mas se recuperou, vencendo a última regata regulamentar e a regata da medalha para terminar em 4º lugar geral.

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