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Coluna Nihonde wa Surto - Um cortador de bambu, uma princesa e o monte mais alto do Japão


Por Luane L. Magalhães Shimabuku

Como é de prever, o Japão tem um folclore riquíssimo recheado de lendas muito belas. Uma das minhas preferidas e uma das mais lindas e mais antiga com certeza é o chamado “Conto do Cortador de Bambus” (竹取物語 Taketori Monogatari) que traz a história da Princesa Kaguya (かぐや姫, Kaguya Hime, 赫映姫 ou 輝夜姫). Até o século X a história foi passada aos mais novos pela oralidade, o primeiro registro escrito aconteceu depois.

A história narra a história de um velho cortador de bambus que, certo dia, encontra uma pequenina menina dentro de um broto brilhante. A garotinha linda é uma uma Princesa da Lua. Ela cresce como filha do cortador de bambu e sua esposa e se torna uma linda mulher como todas as princesas são.

Sua beleza fora do comum logo chama atenção e ganha fama no Japão. É aí que nobres pretendentes começam a surgir para conhecer a moça de quem tanto se fala. Eles todos caem de amor e fazem mil propostas de casamento. Kaguya não quer marido algum, ela só quer viver com os pais e em paz.

Mas Kaguya não poderia deixar tantos nobres no 'vácuo', então ela lança um desafio impossível para os cincos rapazes mais insistentes e que permaneciam acampados esperando uma resposta dela.

“Irei me submeter àquele, dentre os cinco, que me trouxer aquilo que desejo ver, o que provará a superioridade de sua afeição”: Uma joia rara de cinco cores presa ao pescoço de um dragão, uma relíquia feita com pedras dos deuses, conhecida como a “Sagrada Tigela de Buda” que nunca se quebra e brilha como a luz do sol; um manto forrado com a pele do “Rato-de-Fogo” que nunca se queima; um ramo de uma árvore no Monte Horai cujo tronco é de ouro, suas raízes de prata e de seus frutos crescem pedras preciosas. E uma “concha koyasugai, que a andorinha carrega no ventre e põe junto com seus ovos”.

Obviamente nenhum deles consegue trazer uma artefato que seja original. Até tentam enganá-la com réplicas.

Passado um tempo, o Imperador fica sabendo do fracasso do nobres e fica curioso com a fama de beleza da moça filha do cortador de bambus. Ordena que ela vá até o palácio, mas ela se nega. O Imperador, ao contrário do que pode se pensar em um primeiro momento, não se enfurece com a audácia da negação, apenas fica mais curioso. E vai até o povoado onde Kaguya mora. No bosque, ele passeia furtivo esperando encontrá-la e quando isso acontece, ele se sente cada vez mais atraído e se aproxima da princesa. No momento em que ele toca a manga do seu kimono ela desaparece no ar. Ele entende que só poderia contemplá-la de longe. Certamente ela não era uma ser deste mundo.

Passado um tempo eles começam a trocar correspondência em que escrevem poemas, tankas. Passado quatro anos, Kaguya anuncia que irá voltar para a Lua. Seu povo irá buscá-la na próxima Lua Cheia. Os pais ficam tristes e pedem ajuda ao imperador que envia um exército para resguardar a casa na tentativa de não deixar que ninguém a busque.

Na noite de Lua Cheia anunciada, uma luz muito forte e brilhante desceu do céu. Tão forte que o povo não conseguiu ver a comitiva de seres celestiais que viam em uma rica carruagem buscar Kaguya. Quando a luz fica mais fraca, a carruagem já voava no céu.

Tristes, os velhos pais foram até o quarto da filha e encontraram uma último presente: um potinho com um pó mágico que lhes garantiria vida eterna. Mas sem a filha, de que valia a vida eterna? Juntaram todas os pertences da princesa e levaram para o monte mais alto do Japão e lá os queimaram com o potinho de pó mágico. Do alto do monte, uma fumaça branca foi vista. A lenda diz que a palavra imortalidade (不死 fushi ou fuji) deu nome ao “Monte Fuji” por isso e que até hoje, se prestarmos bem atenção, podemos ver a fumaça branca saindo do cume do monte.

Tem um filme lindo, maravilhoso e sem defeitos produzido pelo não menos lindo, maravilhoso e sem defeitos Estúdios Ghibli que eu recomendo que vocês assistam sobre essa lenda.

Aqui, o trailer:




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