Ao lembrar dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1984, talvez você se lembre mais da medalha de ouro de Joaquim Cruz, nos 800m rasos, ou da prata da seleção masculina de vôlei, mas entre a delegação brasileira formada por 166 atletas estava um que fez história num dos principais esportes hoje do país nos Jogos. Luiz Onmura, então com 24 anos, foi o primeiro brasileiro nascido no país a conquistar uma medalha no judô, ao ficar com o bronze na categoria peso-leve, conquista que neste ano completou três décadas. Antes dele, apenas o japonês naturalizado Chiaki Ishii tinha levado o país ao pódio, com a medalha de bronze em 1972, em Munique.
A disputa na Califórnia foi histórica para o judô. Sob o comando técnico de Massao Shinohara, que mais tarde ainda viria a treinar medalhistas como Aurélio Miguel e Carlos Honorato, o Brasil chegou a três medalhas olímpicas, com a prata de Douglas Vieira (meio-pesado) e o bronze de Walter Carmona (médio), além do bronze de Onmura, que lembra com carinho daquela geração, que ainda teve o ouro de Aurélio Miguel em 88.
- Essa geração começou a trazer resultados e a partir dela o pessoal que vinha da base começou a ver que teria condições de chegar a uma medalha. Começaram a acreditar mais que poderiam alcançar uma medalha - conta Onmura, que já havia participado dos Jogos de 80, em Moscou, e ainda participaria das Olimpíadas de 88, em Seul.
Em 1984, as lutas preliminares duravam cinco minutos, enquanto as finais eram de sete minutos, numa batalha física de alto nível. A luta pela medalha de bronze com o canadense Glenn Beauchamp foi até o final. Onmura jogou o adversário por um koka, pontuação mínima à época e já abolida, e depois segurou a luta até o final. Antes disso, havia perdido a semifinal para o campeão olímpico de 80, o italiano Ézio Gamba, que ficaria com a prata, ao ser derrotado pelo sul-coreano Ahn Byeong-Keun. Onmura cita a importância do intercâmbio no Japão para que o país começasse a se tornar uma potência.
- O que faltava mais era intercâmbio, e nós conseguimos esse intercâmbio no Japão. Os treinamentos eram feitos no Japão, pena que não tinham tantas competições como temos hoje, em que o Brasil a cada mês está num país. Tinha 20 anos quando passei cerca de dois meses no Japão. A adaptação é demorada, cerca de uma semana para se acostumar com o fuso horário, fora o frio, que na época de janeiro a março é muito grande. Tinham treinamentos que abriam todas as janelas e portas e a gente lá com frio. Diziam que era para ver até onde chega o espírito de um judoca. Acho que a partir daí, o pessoal se conscientizou mais de que poderia trazer melhores resultados.
Hoje, aos 54 anos, Luiz Onmura trabalha na Academia da Polícia Civil de São Paulo, formando novos policiais com aulas de condicionamento físico, defesa pessoal e tiro, além, naturalmente de aulas de judô e também aikidô. Ele diz que o início foi difícil no esporte, e que aconteceu por conta do pai, que o queria tirar das ruas, aos dez anos de idade.
- Comecei através do meu pai, ficava na rua direto, então ele falou: vou te levar para treinar judô. Era em outro lugar (a academia do sensei Massao), e aí comecei para ver se me adaptava. Em um mês já participava de competições, e dali para frente deslanchou. Naquela época era muito rígido, e tinham bons atletas aqui (na academia). No meu caso sempre apanhei aqui e voltava chorando para casa, tinham uns atletas que judiavam bem. Foi muito bom porque deu aquele espírito do judô: mesmo que você apanhe, e persista apanhando, uma hora chega no resultado positivo - afirma.
Além de treinar na Vila Sônia, em São Paulo, Onmura ainda treinou no Tênis Clube de São José dos Campos e no Flamengo, onde encerrou a carreira, que ainda teve três medalhas de pratas em Jogos Pan-Americanos, em San Juan (79), Caracas (83) e Indianápolis (87). Para o judoca, o brasileiro se destaca pela criatividade em cima do tatame.
- A gente coloca um pouco de malícia no meio, o brasileiro tem criatividade, isso é importante para os atletas. Geralmente, nas competições, o pessoal não tem tanta criatividade como os brasileiros, por isso que nos sobressaímos um pouco mais.
O bronze de Onmura em Los Angeles foi no peso-leve, categoria que voltou a ter representantes no pódio olímpico em 2000, nos Jogos de Sydney, com a prata de Thiago Camilo. Quatro anos depois, Leandro Guilheiro foi bronze em Atenas. Em Pequim, Guilheiro foi bronze de novo, em 2008. Entre as mulheres, Ketleyn Quadros também foi bronze na China. No total, o judô do Brasil soma 19 medalhas nos Jogos Olímpicos, a modalidade que soma o maior número de conquistar. E Luiz Onmura é parte importante dessa história.
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