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Surto Opina: Sucessão de erros da CBF mina evolução da seleção feminina


Sob pesadas críticas, Vadão completou 20 partidas em seu retorno à frente da seleção feminina de futebol. Com 11 vitórias, 1 empate e 8 derrotas, o técnico tem um aproveitamento de 56,6%. 

A pressão sobre Vadão cresceu ainda mais após o mal resultado do Brasil no torneio amistoso She Believes, nos Estados Unidos, com três derrotas em três jogos e amargando, agora, uma sequência de 7 jogos com derrotas, um recorde negativo para a seleção feminina, duas vezes medalhista de prata em olimpíadas (Atenas/2004 e Pequim/2008), vice campeã mundial em 2007 (na China) e um terceiro lugar em 1999 (nos Estados Unidos). 

Na verdade, muitos não queriam a saída da antecessora de Vadão, Emily Lima, a primeira mulher técnica da seleção feminina brasileira, devido estar ainda no início de seu trabalho. Outros não queriam o retorno do atual técnico, que dirigiu o time nas olimpíadas do Rio. Porém, a CBF decidiu bancar a saída de Emily e a volta de Vadão. 

Emily Lima teve menos oportunidade que seu sucessor (e também antecessor). Foram somente 13 jogos: 7 vitórias, 1 um empate e 5 derrotas, equivalente a um aproveitamento de 56,4%. Ou seja, tecnicamente igual ao do atual treinador, sendo apenas 0,2% inferior. 

Porém, algo é diferente. Vadão comandou a seleção no pré-olímpico, em que participaram apenas selecionados da América do Sul, sabidamente com nível técnico bem inferior ao Brasil. Assim, se o foco forem os jogos contra países que não são da América Latina, Vadão e Emily jogaram exatas 11 vezes. No caso do atual técnico, o aproveitamento é desastroso: 2V, 1E e 8D, em torno de 21,2%. Emily, por sua vez, contra países fora da América Latina, tem: 5V, 1E e 5D. Aproveitamento superior ao de Vadão: 48,4%. 

Outro comparativo são as piores (e últimas) sequências de cada treinador. Nas últimas 7 partidas de Emily diante da seleção, contra times de primeiro escalão (exceto Israel), a técnica conseguiu 1V, 1E e 5D (saldo de gol de -9), o que culminou em sua demissão. Vadão vem com a pior sequência da história da seleção feminina: 7 derrotas (saldo de gols de -9). 

Obviamente, os times que ambos enfrentaram são, em parte, diferentes. Contudo, em ambas as trajetórias, foram os times com maior grau de dificuldade confrontados. A diferença é que Vadão teve sete jogos a mais para desenvolver, principalmente, a parte técnica da equipe, dar “cara” a seleção, o que não aconteceu até agora. 

A Confederação Brasileira de Futebol perdeu muitas chances de lutar e investir em mais adequada estrutura para o futebol feminino, principalmente após o período vitorioso da seleção entre 2004 e 2008, com duas medalhas olímpicas e um vice mundial. As jogadoras bem que tentaram fazer campanhas, mobilizar meios de comunicação e órgãos esportivos, mas pouco mudou naquela época. Só a partir de 2013, passada quase uma década, a CBF organizou uma competição a nível nacional com maior profissionalismo. 

A exigência da Conmebol, de que os times masculinos só poderiam participar da Copa Libertadores da América se tiverem times femininos, também é uma medida que aumenta a perspectiva de que a modalidade se desenvolva na região. 

O futebol feminino também tem se internacionalizado mais. Grande parte das meninas que estão na seleção jogam em ligas importantes. Mas isso não é o suficiente. A própria história da seleção masculina, com jogadores que são destaques nas maiores ligas do mundo, tem demonstrado isso: o Brasil não ganha de um europeu em mata mata de Copa do Mundo desde a conquista do último título, em 2002. 

A seleção feminina tem grandes talentos, isso é indiscutível. Aliás, temos Marta, a melhor do mundo (talvez da história). O que falta, então? Falta alinhar todo esse talento com técnica. A seleção feminina, hoje, não tem personalidade, um modo de jogar, uma expertise e isso não pode ser colocado na conta das jogadoras. 


É também responsabilidade, em grande parte, da comissão técnica levantar o ânimo das atletas, criar um ambiente propício à luta, à garra, ao desejo de vencer e esse espírito não tem sido visto na seleção. Há apatia. Faltando tão pouco para o Mundial, é preocupante que isso persista. Quando falta técnica, a raça equilibra. E quando faltam os dois?

Poder-se-ia até se falar em pouco entrosamento. Contudo, essas meninas se conhecem e a base da seleção é a mesma há alguns anos, com pontuais alterações. 

Após um grande acerto dos últimos anos, quando a CBF trouxe a primeira técnica mulher para comandar a seleção, uma sucessão de erros: demissão precoce de Emily (poucos jogos para avaliar seu trabalho inicial), mal estar entre as atletas e a entidade, vez que bancaram a permanência de Emily e não foram atendidas, e a contratação de técnico que saíra há pouco tempo da seleção e cuja passagem não teve resultados expressivos. 

A saída da treinadora tanto não agradou as jogadoras que, na época, três importantes peças anunciaram que não mais defenderiam a seleção: Cristiane (maior artilheira da história das olimpíadas), Franciele (meio-campista) e Rosana (lateral). 

Em declaração, Franciele chegou a afirmar que o elenco estava satisfeito com o trabalho da técnica e que solicitou sua permanência (e o da comissão técnica), o que, como sabemos, não foi atendido. 

O fato é que o início do mundial, o primeiro em que todos os jogos da seleção serão televisionados pela maior emissora do país, será em 7 de junho. Ou seja, falta menos de três meses. Complicado opinar até mesmo o que seria melhor para a seleção nesse momento. A realidade nos diz, no entanto, que dificilmente esse panorama irá mudar e Vadão deverá ser o técnico da seleção na França. 

Apesar de tudo, como bons torcedores, devemos acreditar no potencial e no talento dessas meninas. Como adiantado, o país possui joias do esporte e é encabeçada pela rainha Marta. Esse mundial será, para nós brasileiros, o de maior repercussão, em virtude de ser televisionado. Isto, certamente, funcionará como combustível para as meninas, que darão tudo de si. É o que nos resta: torcer! Avante, Brasil!

Fotos: Primeira Hora / Divulgação

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