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Surto Entrevista: Alex Pussieldi

Por Juvenal Dias

Alex Pussieldi é uma das maiores sumidades sobre natação no mundo e dispensa muitas apresentações. Editor e responsável pelo site Best Swiming, blog do Coach, comentarista do canal SporTV e colunista do Swim Channel, o coach esteve na festa da revista Swin Channel especial sobre Thiago Pereira, e o Surto olímpico teve uma longa e ótima conversa com ele, falando sobre vários assuntos, sobre Thiago Pereira, Cesar Cielo, o futuro da natação, a natação feminina, a crise da CBDA... o Coach não se privou de dar sua opinião em nenhum momento e você confere esse bate papo abaixo:

O que você achou da homenagem da revista Swin Channel para o Thiago?

A revista já existia há alguns anos e hoje a swin channel não é só uma revista, ela é uma plataforma com várias linhas, várias correntes e mais recentemente eles identificaram que não era interessante ter uma revista que tratasse do que a gente já lê em outros lugares.Então a revista passou a ser temática. Hoje a Swin Channel não é aquela revista que você lê e depois joga fora. Agora você lê e você guarda, ela virou uma revista livro, edição de colecionador. A grande dificuldade da Swin Channel é encontrar quem vai ser a capa da próxima edição, com um assunto que seja realmente de uma dimensão grande. E a despedida do Thiago casou com isso. E eu tive a honra de poder escrever sobre a medalha de prata dele em Londres e o título da matéria é uma relação de amor e ódio. Eu até falo um pouquinho que o Thiago odeia os 400m medley. Ele sempre odiou, só que todas as conquistas dele foram nos 400m medley. No meu artigo traz um pouco disso, como é ruim odiar e como é bom amar. 

E a ideia da festa, foi ideia pessoal do Thiago, porque ele está celebrando muito essa sua despedida. Ele está fechando a carreira de forma bem legal e ele queria que isso fosse dessa forma, que ele reunisse os amigos, as pessoas importantes, os ex-companheiros, a família, e pessoas que fizeram parte da carreira dele. Eu acho que é um momento bacana,e agora o Thiago começa uma nova fase na carreira dele. Thiago tem muito para fazer por nós. Por que eu digo isso? Não só pelas coisas que ele faz como o Camp, o troféu Thiago Pereira, Ele é o representante dos atletas na Fina, faz parte da comissão de atletas do COB, da UANA, da ODEPA, é um cara que vai ficar muito tempo no esporte, aproveitar essa figura que ele é, pois ele é uma pessoa muito simples, simpático, alegre, positivo. Eu já tive a oportunidade de trabalhar com ele, hoje somos sócios. E eu gosto demais do Thiago atleta e do Thiago Pessoa. E ele se diferencia um pouco dos outros atletas e creio que ele se dará muito bem nesse espaço que está abrindo para ele.

O que diferencia Thiago de outros atletas?

Você um atleta de alto nível e ele tem mais ou menos um perfil. E ele tem esse perfil. Thiago é especial, ele é incapaz de recusar um autógrafo, ou uma selfie. Se passar alguém com frio ele empresta o casaco, e ele sempre foi assim. Uma história interessante dos bastidores, que em um determinado momento da carreira ele brigou com o Cielo. E eles se afastaram. No dia do casamento do Thiago, eles não estavam bem, mas Cielo foi porque ele se respeitam muito. No dia que o Cielo fez aquele open em 2015, que ele praticamente abandonou a temporada, não voltou para a final dos 50m, foi embora da competição e o Thiago não nadou no último dia. Quando ele chegou em São Paulo, ele olhou para a Gabi, que é a esposa dele, e falou 'Vamo na casa do Cesão'. O Thiago sempre foi assim, muita gente perguntaria porque ele foi na casa do Cesão, e o Thiago diria: 'Porque ele precisava de mim'. Foi muito bacana da parte do Thiago e isso é o que diferencia dos outros atletas. E as pessoas não sabem desse lado. Na seleção brasileira, o apelido dele é 'presidente', porque ele sempre se preocupava com o grupo. Com certeza ele vai fazer falta nas piscinas, mas quem sabe em outras coisas ele apareça para fazer algo pela natação brasileira.

Você acredita que esse convívio com o Thiago incentivou o Cielo a voltar?

Com certeza, o Thiago incentivou muito para o Cielo voltar. E quando o Thiago se aposentou, o Cielo foi um dos primeiros a saber. Existe uma boa relação entre eles. As pessoas desse nível se conhecem, são atletas diferenciados. Tomara que venha uma nova geração, mas acho difícil que existam um novo Cielo ou um novo Thiago. Vai demorar algum tempo, a gente não vislumbra um sucessor no futuro próximo. Também ninguém esperava que surgisse alguém para suceder o Gustavo (Borges) e o Fernando (Scherer), mas veio e surgiu dois nadadores melhores. Agora vamos ver quanto tempo vai surgir outra dupla de nadadores tão boa ou melhor do que eles.

Você acredita que a Etiene Medeiros poderá atingir o mesmo sucesso que Thiago e Cielo?

Acho difícil. Mas tudo que ela conseguir nada carreira, já vai ser o melhor resultado da natação feminina do Brasil. Nosso melhor lugar em olimpíada é um quinto lugar. Se ela for quarto na próxima olimpíada ela será a melhor da história.

Você enxerga ela com essa possibilidade?

Acho que sim.

Em qual prova você acredita que a Etiene possa brilhar?

Nos 50m livre. Eu não gosto da prova de 50m de estilos. As pessoas podem achar emocionante, mas eu sou mais tradicional e eu gosto de olimpíada. E eu sei que as prova de 50m de estilos nunca vão estar nas olimpíadas, tem que se dedicar as provas que sejam livre. E ela tem chance nos 50m livre, ela foi finalista olímpica agora na Rio 2016 e grande parte do planejamento não foi para os 50m livre, e esse foi melhor resultado da natação do brasil na olimpíada.

Vou aproveitar que a gente entrou nesse assunto, como você avalia o pessoal que está indo para o mundial de esportes aquáticos em Budapeste?

Eu estou bem animado com o 4x100m livre, acho que vai fazer bonito no mundial, pois já temos 4 nadadores que estão abaixo de 48s. Os resultados tem acontecido com certa frequência e eu acho que vem uma medalha. O ouro é praticamente impossível, os Estados Unidos é muito forte,e acho que a gente pode ser prata, bronze ou quarto lugar. A disputa pelo pódio vai ser entre Brasil, Rússia e Itália.Vai ser uma briga boa e eu quero a prata. Se der um bronze é maravilhoso, mas se for quarto vai ser horrível. Infelizmente em esporte competitivo é assim.

E o restante da equipe?

Tem chance de medalha com o Fratus e com o Cielo nos 50m livre, Tem chance com o Nicholas dos Santos, que quer bater o recorde mundial, de medalha mesmo essas são as mais prováveis. Quem sabe o 100m peito também,mas eu não acho fácil. Está na briga, os dois podem chegar na final e quem chega na final, tem chance de medalha.O 4x100m medley também pode fazer uma gracinha, se o Guido nadar o que a gente espera, o Felipe e o João no peito e borboleta, e alguém fechando de cráu, pode ser um revezamento que pode surpreender. Até pelo o momento que a natação brasileira está, um resultado no revezamento seria muito especial para o Brasil, muito especial.

Infelizmente você só me falou de nome masculino...

Ah, no 50m costas a Etiene vai ser medalha, e...só.

Essa é uma dúvida que sempre carreguei comigo, porque a natação feminina não se desenvolve como a masculina?

Vai ser difícil te dar uma explicação exata sobre isso. Acho que a questão é mais cultural. O Homem gosta mais das conquistas individuais e a mulher das conquistas coletivas.A gente tem que mudar um pouco esse perfil. Quando fui técnico detectei isso e a gente tem que alterar o perfil. Não sei se vai ser nessa geração ou na próxima, mas temos que mudar um pouco esse perfil. E acho que a Etiene tem esse perfil um pouco mais egoísta, porque para se destacar no esporte individual você tem que ser egoísta, não pode pensar em equipe, tem que pensar em si mesmo. Podem até pensar, 'Esse cara tá ficando maluco', mas não tô maluco não, o atleta de esporte individual tem que pensar primeiro nele, sempre. O atleta individual tem que ser ambicioso, audacioso e também tem que ser egoísta.

E o que você achou da mudança que o COI fez nas provas de natação?

Para o Brasil foi uma porcaria.Nós não temos um revezamento 4x100 misto e os 800m masculino e 1500m feminino vão passar  não vergonha. Mas as pessoas precisam entender o porquê dessa mudança, por que os 50m estilos não entrou? Porque não traz o que o COI quer, o COI quer igualdade entre homens e mulheres. Quando você coloca o mesmo programa para ambos, igualou. Estamos com a natação na Olimpíada há 121 anos e pela primeira conseguimos ter um programa igual para homens e mulheres. Os dois tendo as mesmas chances, é isso que o COI quer. Os brasileiros querem as provas rápidas, não vai acontecer porque tem medalhas demais. Tem gente que gosta de mentir, dizer que na próxima quem sabe vai, mas não vai. Este é o quarto ciclo olímpico que a FINA pede mudanças ao COI e o COI recusa. Dezesseis anos pedindo o mesmo programa do mundial e levando não do COI. E ele vai continuar dizendo não. Ele só aceitou uma mudança para igualar os gêneros.

Mas você acha que esse revezamento misto pode servir de propulsão para o feminino?

Não muda nada, não tem efeito positivo para o Brasil. Não temos duas nadadoras de nível internacional nos 100m. A Etiene, que tem nos 50m 27s baixo, nos 100m tinha que ser 58s. E ela não nada para 59s desde 2015. Nossa melhor nadadora no peito tem 30s nos 50m, tinha que tem 1m06s nos 100m. Nosso 4x100 misto nem vai pegar vaga olímpica.

Se as mudanças do programa da natação do Brasil não foram boas, o que você achou das mudanças para o esporte?

De forma genérica, igualar os programas de homens e mulheres é um passo a frente. Eu gosto das provas de fundo, embora tem gente que não gosta, eu acho emocionante. Pro exemplo, a gente vai poder ver Sun Yang nadando uma prova. Gregorio Paltrinieri e Gabriele Detti, que nadam muito bem os 800m e mais uma prova de Katie Ledecky, como você pode reclamar? Pra quem gosta de esporte a mudança foi boa e se for pensar de forma corporativa foi bom para o esporte. E lembre-se de uma coisa: O esporte aquático, com a inclusão das novas provas, passam a ser a modalidade que vai distribuir o maior número de medalhas nos Jogos olímpicos, 49 medalhas de ouro contra 48 do atletismo. Só isso já é muito bom para nós.

Pra ser potência olímpica, eu tenho a concepção que tem que se investir nas modalidades que distribuem o maior número de medalhas e o Brasil tem esse potencial. Acha que a natação é um local que deveria ser investido se o Brasil quiser investir nesse projeto de potência olímpica?

Acho isso muito relativo. A Coréia do Sul para mim e uma potência olímpica e não é boa nem no atletismo ou na natação.

Esportes de inverno eles vão muito bem.

Na de verão também. Desde que sediaram os jogos em Seul, o crescimento foi enorme e estão muito a frente do Brasil. A Holanda é um país extremamente esportivo, e vai bem tanto nos esportes de inverno quanto de verão. Eu vejo assim, quando se quis fazer uma nação olímpica, o Brasil olhou para as medalhas. Devia ter olhado para baixo. O esporte olímpico precisa ser desenvolvido, terminou 2016 e já perdemos um bocado de pessoas. Se nós tivéssemos um ciclo esportivo, nós só renovaríamos, mas perdemos a chance. Nosso grande problema é que investimos na medalha e não no esporte.

Você já falou bastante sobre o assunto, mas é sempre bom ouvir sua opinião sobre a CBDA. O que você acha sobre toda essa crise, e da mudança de presidente?

A eleição acabou. As pessoas precisam ter consciência disso. Nós temos um presidente eleito, que tem milhões de problemas para serem resolvidos. Temos piscinas de 50 metros paradas no Brasil, O pólo aquático dividido por causa dessa liga, que é uma boa, o salto ornamental que quer sair da modalidade, que pode até ser uma boa, mas não é o momento agora, temos o nado sincronizado que está muito concentrado e nesse momento precisa se expandir para todo o país, temos a natação que perdeu os campeonatos brasileiros de inverno, seleções que deixaram de ir a campeonatos internacionais, temos a punição da FINA, temos muitos problemas.

Jefferson Borges e Cyro Delgado, muito obrigado, vocês fizeram muito, vamos contribuir agora, nós temos um presidente agora, que se chama Miguel Cagnoni. É ele que vai nos dirigir e levar o esporte para frente. Se ficarmos alimentando discórdia... O esporte aquático está dividido, mas agora temos um presidente que vai resolver os problemas do esporte. E tomara que as pessoas que estão presas sejam soltas, até porque já passou do tempo (Nota: A entrevista foi feita antes do ex-presidente Coaracy Nunes e os três ex-diretores saírem da cadeia para para prisão domiciliar), não faz bem para ninguém. Espero que isso seja resolvido,que as pessoas tenham a chance de se defenderem, e agora a CBDA tem um novo presidente e uma nova CBDA. Acabou, é hora de esquecer os rancores, as brigas, quem continuar promovendo e zombando do esporte, isso tem um nome, isso se chama terrorismo. Temos uma CBDA, um Brasil, temos que pensar assim agora.


foto: Reprodução        

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