O Brasil bateu o recorde de medalhas e ampliou o número de
modalidades que subiram ao pódio nas Paralimpíadas do Rio 2016. Foram 72
conquistas (14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes) em 13 esportes, algumas
inéditas como no halterofilismo, na canoagem, no vôlei sentado e no
ciclismo. A projeção agora é melhorar o desempenho no rumo a Tóquio
2020, a partir desta base consolidada. Para isso, o maior legado em
infraestrutura esportiva dos Jogos, o Centro de Treinamento Paralímpico,
em São Paulo, é visto como principal aliado.
“É um sonho realizado. Todos os países que estão à nossa frente no
quadro de medalhas têm os seus centros de diferentes modelos e aqui a
gente conseguiu fazer, com os nossos parceiros, um local fundamental.
Vamos tirar muitos frutos daqui, de forma perene”, afirmou Andrew
Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). “O Brasil
que pensa em um quinto, um sexto lugar no quadro de medalhas, ouro em
novas modalidades, tem toda essa estratégia passando aqui pelo Centro de
Treinamento”.
Os atletas têm chamado o local de “Disneylândia do esporte”,
encantamento traduzido nas opiniões de competidores experientes e que já
viram outras estruturas de ponta pelo mundo, como o corredor Yohansson
Nascimento, que coleciona um ouro, três pratas e dois bronzes em
Paralimpíadas desde Pequim 2008. No Rio, ele conquistou um bronze nos
100m rasos T45/46/47 e uma prata no revezamento 4 x 100m T42-47.
“Eu digo que uma medalha que o Brasil ganhou foi a construção desse
CT. Ele dá condições para os atletas que estão em alto nível continuarem
no mesmo patamar para Tóquio 2020 e para a descoberta de talentos,
trazer jovens promissores para treinar aqui e pegar experiência com os
atletas que estão competindo há bastante tempo. O Brasil ganha a
oportunidade de continuar o que o esporte paralímpico tem feito ao longo
dos anos”, projeta.
“A estrutura é excelente, não deixa nada a desejar para qualquer
centro paralímpico e olímpico que já fui pelo mundo. Tanto a parte de
reabilitação, de fisioterapia, vários tipos de piscina para recuperação,
toda a infraestrutura para os treinos, espaço para alimentação,
hospedagem. É excelente”, elogia Bruno Carra, halterofilista que ficou
na quarta posição nos Jogos Rio 2016, perdendo o bronze nos critérios de
desempate (peso corporal).
Uma das vantagens do CT, inaugurado no início deste ano, é a
capacidade de concentrar em um mesmo local 15 modalidades, com a
possibilidade de o número crescer a partir da adaptação de estruturas
multimodais. “A idéia é ter essa força de conjunto. Você tem toda essa
interdisciplinaridade, com profissionais de diversas áreas, de
modalidades distintas, não só os atletas, mas todos os profissionais
interagindo, com intercâmbio de conhecimento e de pesquisa. O objetivo é
que aqui a gente atenda ao atleta como um todo, a parte psicológica,
nutricional, física, e que o atleta possa passar o dia aqui”, destaca
Parsons.
Bruno Carra ressalta o potencial de desenvolvimento conjunto das
modalidades, pois o CT oferece as condições para reunir profissionais
com maior expertise em algum aspecto da ciência do esporte junto a
especialistas de outras áreas. “Além do fator psicológico, de
motivação, você ver atletas de outros esportes que são medalhistas, o
que eles fazem, conviver junto, tem essa troca de conhecimento. Vamos
supor, na natação tem um preparador físico muito bom que pode passar
informações úteis no halterofilismo e vice-versa. Temos um conhecimento
maior desta parte de musculação, de hipertrofia muscular, podemos
oferecer algumas coisas para as pessoas de outras modalidades”,
exemplifica.
Além disso, a vocação do CT vai além do esporte de alto rendimento e
passa pelo desenvolvimento de atletas de base. “O interessante,
primeiro, é que o CPB conseguiu centralizar o processo e dar um
atendimento melhor aos atletas, otimizar recursos, com profissionais de
diversas áreas e avaliações sendo feitas no mesmo lugar. Ao mesmo tempo,
para os atletas, aqui acaba sendo um fator de motivação, de
encantamento. Isso vai ajudar o esporte brasileiro a evoluir, os atletas
trocando informações entre eles e, agora, na Paralimpíada Escolar, tudo
acontecendo aqui, de repente a gente vai descobrir um menino que está
no goalball mas poderia ser melhor no atletismo, então temos que
aproveitar essa ferramenta para potencializar o esporte brasileiro para
2020, 2024”, explica Ciro Winckler, coordenador de ciência esportiva do
CPB.
Alguns atletas da seleção, como os do atletismo e da natação, já
treinam diariamente no CT. Os clubes paulistas usam constantemente a
estrutura e, inclusive, disputaram no fim de semana torneio de basquete
em cadeira de rodas promovido pela Federação Paulista, dividindo o
complexo com os atletas que competiram no Circuito Caixa de atletismo,
halterofilismo e natação. No fim do mês, o local recebe os Jogos
Paralímpicos Escolares.
Foto: Brasil 2016
0 Comentários