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Boxeadora Adriana Araújo confia que volta do Mundial com a vaga olímpica


O dia 8 de agosto de 2012 foi uma data de sentimentos distintos para a boxeadora baiana Adriana Araújo. A derrota para a russa Sofya Ochigava na semifinal representou o fim do sonho de lutar pelo ouro olímpico. Contudo, o revés assegurou um lugar a Adriana na história do esporte nacional, já que, no boxe, os dois atletas superados na semifinal garantem a medalha de bronze.

Quando subiu ao pódio, Adriana tornou-se a primeira mulher da história do boxe brasileiro a conquistar uma medalha em Jogos Olímpicos. De quebra, encerrou um jejum de 44 anos, já que a última medalha olímpica do país na modalidade (e até então a única) tinha sido conquistada na Cidade do México, em 1968, por Servílio de Oliveira.

Desde que voltou dos Jogos de Londres, Adriana passou a alimentar o sonho de chegar ao ouro no Rio de Janeiro, em 2016. Para isso, a baiana, nascida em Salvador, em 4 de novembro de 1981,  terá, primeiro, que brigar pela vaga olímpica no Campeonato Mundial em Astana, no Azerbaijão, disputado entre 24 de janeiro e 6 de fevereiro.

“O Brasil, no feminino, possui apenas uma vaga garantida (por ser país-sede). Mas o que a gente está buscando é classificar o país nas três categorias para não ter que depender dessa única vaga”, diz a atleta, contemplada com a Bolsa Pódio do governo federal. “O trabalho que estamos fazendo agora é para nos prepararmos para o Campeonato Continental, que ainda não tem local ou data definidos. Sabemos apenas que será em novembro. O principal mesmo vai ser o Campeonato Mundial, em janeiro, que vai ser o classificatório para os Jogos Olímpicos”, ressalta.


Para este ciclo, as regras da classificação olímpica mudaram e, segundo Adriana, o caminho ficou mais tranquilo. “Estou confiante de que há uma boa possibilidade de que consiga a vaga no Mundial, como fiz em 2012. Dessa vez será mais fácil do que em 2012, quando, na minha categoria (60kg), tinha apenas uma vaga para toda a América (do Sul, Central e do Norte). Ainda assim, fui lá e conquistei a vaga”, recorda. “Agora está mais fácil, porque são três vagas. Ou seja: a primeira, a segunda e a terceira melhores das Américas no Mundial vão conseguir a classificação”.

Vida longe de casa

Para se preparar para 2016, Adriana abriu mão de viver e treinar em Salvador e mora em São Paulo, onde segue uma rotina intensa com a Seleção Brasileira. “Todo esse abandono foi por um motivo maior, por um sonho olímpico. É justo a gente fazer qualquer sacrifício por um título ou uma medalha olímpica”, explica.

“Eu treino de segunda a sábado. Pela manhã, faço a parte física, com musculação ou corrida, dependendo do dia. Acordo às 7h e os treinos são das 8h às 9h30, no máximo. À tarde, a gente trabalha a parte técnica. É quando estamos em cima do ringue, fazendo os trabalhos técnicos e táticos. E aos sábados temos os trabalhos com sparrings, que são as simulações de luta”, detalha.

Com seis dias de ralação por semana, sobra o domingo para relaxar. E é quando a saudade de Salvador e da família aperta. Longe de casa, Adriana busca outras formas de se distrair e aproveitar o tempo livre. “Se eu estivesse na Bahia, com certeza estaria na praia, comendo um camarãozinho e sentindo a brisa do mar. Em São Paulo geralmente vou ao shopping, aos parques, às vezes pego a bicicleta ou saio com meu cachorro para poder distrair a mente e repensar a vida”, enumera.

Trabalho psicológico

Adriana é uma das poucas atletas que, apesar de ressaltar a importância dos Jogos Olímpicos serem realizados no Brasil, fala abertamente sobre o desconforto em lutar em casa e ter que lidar com a pressão de competir diante da torcida brasileira, dos familiares e amigos, além de ter que conviver com a expectativa que pesa sobre os atletas em torno de resultados, em especial sobre uma medalhista olímpica.

“Lutar em casa faz a responsabilidade dobrar, seja para quem for. No meu caso, nunca gostei de lutar dentro de casa, justamente por esse fato, pela responsabilidade ser bem maior”, confessa a boxeadora. Por isso mesmo, há todo um trabalho psicológico em curso para minimizar esses efeitos.

“Já venho há muito tempo fazendo esse acompanhamento psicológico para que a gente possa controlar completamente (a ansiedade e o nervosismo). Eu tive uma prova disso em 2012, quando entrei para a primeira luta nos Jogos Olímpicos de Londres. Graças a Deus soube me controlar, mas, mesmo assim, às vezes o descontrole vinha. Eu tive um problema no quarto round da primeira luta, quando o juiz deu o stop, mas continuei batendo na menina. Eu não estava nem ouvindo e a vontade de ganhar era tanta que nem entendi que era stop, que era break. Eu queria apenas ganhar a luta”, recorda. “Agora tenho mais maturidade. Tenho um acompanhamento com nossos profissionais e tenho certeza de que em 2016 eu estarei preparada completamente para poder representar bem o país”.

Apoio e amadurecimento

Pouco mais de três anos depois de ter subido ao pódio em Londres, Adriana se considera uma atleta completamente diferente daquela que representou o país na Inglaterra. Atualmente, vive a melhor fase de sua vida no esporte, cercada por uma estrutura profissional como nunca teve.

“Eu lembro que há dois ciclos eu não tinha nada. E hoje o suporte está sendo grande. O investimento por parte do governo federal está sendo forte e prova disso é o amadurecimento que venho tendo por conta do trabalho realizado com todos esses profissionais (de sua equipe multidisciplinar)”, explica.

Para ela, o investimento na equipe feminina ganhou força nos últimos anos e isso tem sido importante na preparação. “O trabalho está sendo intenso. Está havendo um investimento junto à confederação (Confederação Brasileira de Boxe), que tem visado que os atletas, principalmente do feminino, busquem novos conhecimentos e amadureçam bastante a parte técnica”.

Por tudo isso, ela confia que no ano que vem, no Rio de Janeiro, o Brasil pode ter ainda mais sucesso do que em Londres 2012, quando o país conquistou três medalhas no boxe – além de Adriana, Esquiva Falcão faturou a prata na categoria peso médio (até 75kg) e seu irmão, Yamaguchi Falcão, levou o bronze no meio-pesado (até 81kg).

“Se não fosse esse apoio, eu não teria essa equipe do meu lado. E, junto com a Seleção Brasileira, a gente vem fazendo um trabalho tão grande que o normal é realmente tudo dar certo em 2016”, encerra Adriana.

Foto: Getty Images

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