Um dos esportes olímpicos com menos recursos do Brasil, o
levantamento de peso tenta aproveitar a realização das Olimpíadas no Rio
de Janeiro para se desenvolver. Mas enquanto a confederação sonha com a
construção de um centro de
treinamentos até 2016, o principal atleta do país, Fernando Reis, tem
queixas em relação à entidade. E o treinador das melhores atletas do
Brasil, o romeno Dragos Stanica, teme que a modalidade não agarre a
oportunidade para evoluir.
Enrique Dias assumiu o comando da Confederação Brasileira de
Levantamento de Peso (CBLP), em 2013, após uma intervenção do Comitê Olímpico
do Brasil (COB) em 2008. A entidade alegou que a assembleia geral para eleger a
nova diretoria da CBLP havia sido feita com atraso de quatro meses, em maio de
2005, indo contra o estatuto da própria confederação. O número de membros no
Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), sete, também foi contestado
pelo COB. Segundo a Lei Pelé, é preciso a presença de ao menos nove membros. Depois de uma
transição que Dias chama de “demorada”, o ano de 2014 foi marcado por uma
intensa agenda, de acordo com o dirigente:
- Podemos citar a participação de campings no Equador,
Estados Unidos, Romênia e Brasil, participações em todas as competições
internacionais, proporcionamos diversos tipos de auxílios aos atletas e melhor
estrutura em competições, condições jamais proporcionadas no país. Realmente
nosso esporte enfrenta dificuldades, onde a exposição na mídia é pequena e o
volume de recursos, idem. Mas tenho a certeza de que qualquer atleta, técnico e
dirigente terá o reconhecimento que essa gestão é exponencialmente superior às
anteriores - disse Enrique Dias.
Nono colocado no último mundial do Cazaquistão na categoria
pesado (+105kg), Fernando Reis enxerga uma melhora na relação com a
confederação. Porém, reclama da falta de conexão da entidade com o seu
treinador, o cubano Luiz Lopez, contratado do Pinheiros. Em 2013, sua família
teve que pagar as passagens de Lopez para as competições.
- A relação com a confederação está melhorando. Mais ainda
está longe do que deveria ser. Para um país sede de uma Olimpíada, a gente faz
pela gente. Tem a estrutura do Pinheiros, mas o meu treinador não tem nenhuma
conexão com a confederação. É engraçado que ele é o técnico do melhor atleta do
Brasil, e todos os melhores treinam com ele. Acho isso curioso. É algo que tem
que ser perguntado ao presidente da confederação – disse Reis.
Enrique Dias alega que o treinador acompanhou os atletas nas
principais competições internacionais em 2014 e que ele está em contato direto
com o coordenador técnico da CBLP, Edmilson Dantas.
- A única falta de
conexão é que ele não é funcionário da confederação. Todas as solicitações
feitas por ele à CBLP foram atendidas em 2014. Além disso, ele e os demais
atletas possuem acesso à presidência. Luiz não é funcionário da confederação
por motivos legais. Ele é estrangeiro – alegou Dias.
Até novembro do ano passado, 38 treinadores estrangeiros
trabalhavam para as confederações, todos vinculados ao COB.
Dias sonha terminar o seu mandato, que vai até dezembro
de 2016, com a construção de um centro de treinamento encaminhada. A ideia é
que ele fique em Minas Gerais, sede da confederação. Teria apoio dos governos
estadual e municipal.
- O CT está em um período embrionário. Existem uma ideia e
duas opções. Tem algum aceno das partes envolvidas e os apoios dos governos
estadual e municipal. É um projeto ousado, mas não impossível. Sou servidor
federal e trabalho em cima da lei da responsabilidade fiscal. Gostaríamos de
ter mais recursos. Mas mesmo com os recursos que gerenciamos tivemos um salto
quantitativo.
Fazem parte da confederação apenas seis federações
estaduais: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba, Paraná e
Rio
Grande do Sul. As três do Sudeste são as principais. A CBLP recebe
recursos da Lei Agnelo/Piva e da Petrobras. A
primeira é oriunda de 2% de recursos das loterias federais aos esportes,
dividida
entre as confederações olímpicas pelo COB. Em 2014, o levantamento de
peso estava inserido no menor patamar junto a outras cinco entidades que
receberam R$
1.904.000. Da Petrobras, que também patrocina as confederações de boxe,
esgrima, taekwondo e remo, o valor recebido ano passado foi o menor: R$
1.513.000. Os valores do patrocínio para
2015 com as cinco entidades ainda estão em negociação. De acordo com a
assessoria de imprensa da Petrobras,
a operação Lava Jato, que investiga o pagamento de propinas da empresa a
empreiteiras, não afetou o patrocínio nas confederações.
No Rio, o romeno Dragos
Stanica treina as principais atletas do país em um espaço cedido por um
clube de funcionários da Caixa Econômica Federal em Jacarepaguá, Zona
Oeste. O aluguel é pago pela CBLP. Dragos lamenta o desinteresse do
poder público em um projeto voltado para crianças. Ele também
teme que as Olimpíadas passem sem que a modalidade se desenvolva.
- Apesar do currículo que tenho, não consigo implementar um
projeto com crianças com a prefeitura. A confederação fala que tem que dividir
a verba com outros lugares, como Viçosa (em Minas Gerais). Temos que fazer uma
base de levantamento em todos os estados. Minha relação com a confederação é
muito boa, o presidente é meu amigo. Mas não conseguimos criar uma situação de
trabalho favorável. A confederação está em Belo Horizonte, e eu vivo no Rio. Os
Jogos estão chegando e no levantamento de peso não conseguimos realizar nada de
palpável. Não conseguimos um centro, a prefeitura não se interessa pelos
atletas. Se sua própria cidade ou estado não se interessa, fica difícil atrair
até o olhar da confederação.
Paralelamente à carreira de aleta, Fernando Reis atua como empresário. Neste mês, inaugurou sua segunda academia de crossfit,
em São Paulo, visando o levantamento de peso como complemento da
preparação física. Tem como clientes destaques do jiu-jítsu, o saltador
Jadel Gregório e o judoca Leandro Guilheiro. As 10 plataformas e o
equipamento são das mesmas marcas usadas nas Olimpíadas de Londres 2012.
O objetivo é privilegiar os clientes, mas atletas do levantamento de
peso têm a porta aberta.
- De certa forma pode servir
para o treinamento dos atletas da seleção. A estrutura estará aberta se
a confederação quiser usar. Mas como é um centro privado, há contas a
pagar, mensalidade. Mas conforme o nível do atleta, temos bolsistas,
como campeões mundiais de jiu-jítsu.
Foto: Inovafoto/COB
Fonte: Globoesporte.com
0 Comentários