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Sem espaço na seleção brasileira, judocas que tentarem naturalização terão que desembolsar até R$150 mil reais


A disputa por vagas na seleção principal de Judô é uma tarefa das mais difíceis. Esporte de alto rendimento por aqui, poucos são aqueles que conseguem alcançar a equipe principal, além de que, mesmo sendo bons, a concorrência é sempre um fator de grande dificuldade.

Imaginem a situação de David Moura ou Beatriz Souza. Ambos se encontram no top 10 do ranking olímpico. Quais países não queriam judocas de tamanha qualidade para defender sua bandeira. Acontece que, mesmo em alto nível, entre os melhores do mundo, eles correm sérios riscos de não estarem em Tóquio/2020. Ocorre que, à frente deles, Rafael Silva e Maria Suelen Altheman dominam as categorias +100kg e +78kg e estão ainda melhores colocados que os companheiros de equipe.

Essa realidade dura tem levado alguns atletas do judô a optarem pela naturalização em outras nações, com o propósito de realizar o sonho de ir aos Jogos Olímpicos.

O caso mais recente é o de Amanda Dutra (-63kg). Ela pretende obter a naturalização pelo Líbano, ante a falta de espaço na seleção brasileira. Seu sonho é a Olimpíada de Tóquio. Seus pais estão apreensivos com a viagem, a filha vai sozinha e nunca morou fora do País. Amanda confessa que foi difícil tomar a decisão, mas está indo atrás do seu grande sonho.

Amanda se junta a, pelo menos, outros três atletas que procuraram a CBJ (Confederação Brasileira de Judô), com a finalidade de trocar o país ao qual irão defender. O movimento tem aumentado com o sucesso que Rochele Nunes (+78kg) e Bárbara Timo (-70kg) estão fazendo em Portugal. As brasileiras, que por muito tempo defenderam as cores verde e amarelo, não conseguiam vencer a disputa interna e ficavam distante do sonho olímpico e de grandes competições. Defendendo as cores portuguesas, no entanto, encaminham-se com certa solidez para conseguir a vaga olímpica.

O receio do êxodo fez a CBJ publicar uma resolução administrativa, a qual determina que os competidores com pretensão similar aos dos citados atletas tenham de desembolsar entre R$ 50 mil e R$ 150 mil, como uma espécie de reparação pelo investimento feito pela entidade no desenvolvimento do atleta. Se o atleta assim não proceder, tem de seguir o regulamento internacional de transferências que prevê uma espécie de quarentena de três anos sem competições oficiais antes de o atleta mudar de bandeira.

Embora o número de pedidos seja baixo, os dirigentes coçaram a cabeça quando viram a idade dos atletas: todos no início da carreira, com mais ou menos 21 anos. Isso aponta uma mudança no perfil de quem arruma as malas. Não são apenas os mais experientes atrás de novos rumos em uma modalidade concorrida, os juniores também estão seguindo para os aeroportos.

Até 2018, os casos envolviam atletas mais experientes. Um dos primeiros a partir foi Nacif Elias, meio-médio (- 81 kg) que virou libanês em 2009. Camila Minakawa preferiu ir para Israel em 2013.  Além deles, citadas Rochele Nunes e Barbara Timo.

Nacif Elias falou sobre o assunto dizendo: “Acredito que o Brasil está investindo apenas em poucos atletas, e as pessoas vão se naturalizando pelas oportunidades que surgem na carreira”.

Outro fator é a diferença no número de torneios lá fora. Na seleção brasileira, o competidor faz apenas quatro ou cinco competições ao ano. Em uma seleção europeia, consegue fazer até oito torneios por temporada. Quando mais competições, mais chances de somar pontos no ranking internacional e mais convites para as disputas. A medida da CBJ é polêmica. Advogados ouvidos pelo Estado questionam a cobrança da taxa. “As normas da CBJ têm aplicação restrita ao Brasil e não podem limitar de qualquer forma a liberdade de trabalho e o direito que possuem os atletas de representar outros países, caso satisfaçam os requisitos de nacionalidade fixados por aquele país e pela federação internacional de judô”, opina Eduardo Carlezzo, advogado especialista em Direito Desportivo em São Paulo.

A entidade se defende citando as regras da Federação Internacional de Judô. “Não impedimos ninguém de sair do Brasil. Os atletas podem sair, mas devem seguir a determinação internacional. São três anos sem competir. Não é uma determinação da CBJ, mas sim da Federação Internacional de Judô”, rebate Ney Wilson, gestor de Alto Rendimento da CBJ.

O especialista explica que a determinação brasileira está alinhada ao que fazem hoje países como Canadá, Alemanha e Holanda. “Nós nos inspiramos nesses países para criar essa forma de reparação pelos investimentos. Não saiu da nossa cabeça”.

Amanda conseguiu escapar da cobrança por ter financiado, do próprio bolso, as competições de que participa desde 2007. Com isso, caiu por terra o argumento de reparação da confederação. Para completar a renda, ela dá aulas de judô em três escolas e já fez bicos em um salão de beleza, como maquiadora e cabeleireira. “Não investiram em mim. Saio frustrada com o país. Para não me frustrar com o esporte, que sempre foi minha paixão, estou buscando outro lugar para defender, outro país”, diz a dona de duas medalhas (prata e bronze) em pan-americanos.

Vários fatores explicam o começo da debandada dos judocas. Em algumas categorias, a concorrência é pesada, pois o Brasil é um grande formador de atletas. Em outros casos, alguns competidores esbarram na idade. “Seria possível chegar à Olimpíada pelo Brasil, mas existe a necessidade de renovar o time. Com isso, as apostas para mim seriam menores e entendo isso”, diz Rochele Nunes.

Fonte: Istoé.
Foto: Divulgação

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