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Surto Entrevista: Mario Tsutsui


Por Lays Guerrero

Eleito um dos melhores técnicos do Brasil em 2018 por seu trabalho com a Seleção Feminina de Judô, Mario Tsutsui esteve presente em grandes conquistas como o ouro de Rafaela Silva e o bicampeonato mundial de Mayra Aguiar. Agora, o experiente sensei prepara a equipe para um calendário extenso, que inclui Pan-americano e Mundial, e busca reverter o ano atípico do judô, que inclui a participação discreta no Campeonato Mundial, em que o Brasil conquistou apenas uma medalha de bronze (com Érika Miranda na categoria até 52kg).

Há um ano e meio das Olimpíadas, o treinador reconhece que o tempo é curto e exige um trabalho extenso da comissão técnica e total empenho das judocas no tatame para vencer e somar os pontos necessários para garantir a vaga na equipe olímpica.

Antes de embarcar para três importantes competições (Grand Slam de Paris, o Aberto de Oberwart e o Grand Slam de Dusseldorf), Tsutsui liderou um treinamento de dez dias na cidade de Pindamonhangaba, São Paulo,  e conversou com o Surto Olímpico sobre o planejamento para 2019. Veja a entrevista abaixo:

Como você avalia esse treinamento em Pindamonhangaba antes de iniciar uma temporada tão puxada, que envolve Pan, Mundial e disputa de vaga olímpica?

Cada ano que passa esse treinamento fica melhor. As atletas estão mais preparadas e com uma consciência melhor. E isso deixa a comissão técnica otimista para a temporada.

Nós trabalhamos muito a repetição, defesa e situações de luta. É algo complexo e que precisa de tempo, de envolvimento dos atletas. Por isso é necessário esse treinamento com todas as atletas no mesmo lugar e concentradas, junto de uma equipe completa da CBJ que envolve preparadores físicos, médicos e nutricionistas. Aproveitamos todo o tempo que temos sem distrações.

O Pan-americano está próximo e é uma competição muito importante no calendário do esporte brasileiro. A quem será dada prioridade de participação?

Nós trabalhamos com um grupo grande de atletas que são as titulares, teoricamente, mas também atletas, digamos, nível B, que estão um pouco abaixo das titulares. Um grupo embarca agora para uma série de três torneios na Europa e provavelmente dentre elas sairão as judocas do time brasileiro do Pan. A escolha é feita por momento e puro merecimento.

E essa equipe titular conta com novos rostos. As jovens judocas podem ser o destaque do Brasil neste ano?

Com certeza. Temos várias judocas na faixa dos 20 anos que já estão se destacando muito e podem surpreender ao longo do ano. Vale ressaltar o ótimo trabalho que a CBJ faz nas seletivas, descobrindo grandes talentos que participam de treinamentos de muita qualidade na base e chegam na seleção com ótima técnica e uma boa bagagem, o que torna mais fácil de inseri-las ao grupo. A equipe brasileira mescla juventude e experiência, elevando o nível do judô nacional e nos dando uma lista boa de atletas para cada competição que participamos.

Esse ano tem Campeonato Mundial e no próximo ano as Olimpíadas, as duas competições no Japão, o berço do judô. Você acha que isso influencia em favor dos donos da casa? As duas competições no mesmo lugar auxiliam na adaptação das atletas?

Vai ser mais difícil sim ganhar no Japão, principalmente quando for uma luta contra uma japonesa. O fator casa pesa muito, não apenas pelo barulho da torcida, mas na mentalidade da atleta, foi assim com a gente aqui em 2016. Mas precisamos trabalhar para surpreender e reverter essa possível vantagem das japonesas.

Sobre a adaptação, nós competimos todo ano no Japão, fazendo uma aclimação em Hamamatsu (JPN) e as meninas já conhecem o lugar, não acredito que teremos problemas com isso. A nossa preocupação maior é na evolução até o Mundial e nas adversárias.

O ano passado não foi muito bom para o judô brasileiro, com uma atuação discreta no Mundial em Baku. O que mudou na filosofia de trabalho da Seleção para reverter esses resultados?

Primeiro, é necessário ter todas as meninas saudáveis. Em 2018 lidamos com lesões de algumas atletas, o que prejudicou o planejamento. Para 2019, não falo em mudança de filosofia, mas sim de muito comprometimento, o que não falta da parte das judocas.

Nós precisamos ter bons resultados durante o ano e principalmente no Mundial, não só para as atletas garantirem suas vagas, mas para abrir o caminho para Tóquio. Não há outro plano além de vencer. Falta apenas um ano e meio para os Jogos, é pouco tempo para conquistar muita coisa.

Sarah, Rafaela e Mayra são três dos maiores nomes do judô brasileiro e estão em busca de mais uma Olimpíada, como você avalia o caminho delas para garantir a vaga em Tóquio?

O caminho não vai ser fácil, assim como o de qualquer outra, mas eu acredito na evolução delas. A Mayra não teve uma boa atuação no Mundial e tem que lidar com a chegada de novas atletas na sua categoria, mas ela é experiente e pode conquistar muito ainda. A Sarah é uma situação mais delicada, pois ela está lidando com a questão do peso e para se enquadrar na categoria, exigindo muito dela nos treinamentos. As competições em fevereiro serão um bom teste para avaliar sua estratégia. E a Rafaela é a atual campeã olímpica, uma atleta muito competitiva e tem condições de ser a melhor de sua categoria. Vale lembrar que antes das Olimpíadas do Rio, ela também teve resultados frustrantes, mas reverteu isso. Não há motivo para não acreditar nela vencendo de novo.

Eu acredito nas três e em todas as judocas dessa Seleção, são todas capazes de conquistar medalhas para o Brasil em qualquer competição.

Perguntei para as atletas sobre a competição interna pelas vagas nas Olimpíadas e todas disseram que é algo tranquilo. Mas como é para a comissão técnica lidar com essa situação?

Nós procuramos colocar na cabeça das atletas que as principais adversárias não são as atletas que treinam com elas aqui, mas sim as judocas de fora que elas enfrentam sempre em competições, é com essa atletas que elas precisam brigar. A vaga é conquistada por quem vencer mais e somar mais pontos, e isso é consequência do momento de cada uma.

É necessário para a comissão técnica ter todas as atletas unidas durante o treinamento e com o mesmo ideal. Temos que minimizar esse fato e fazer com que elas tenham um bom desempenho no treinamento e durante as competições conquistarem medalhas. Não dá para negar que é uma situação difícil, a disputa será muito dura por essas vagas. O que desejamos é ter todas as judocas saudáveis e sempre preparadas para vencer.


Fotos: Lays Guerrero

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