Mais um etíope usou os holofotes do esporte para protestar contra o governo do país. Na final dos 1.500m da classe T13 na Paralimpíada do Rio, o corredor Tamiru Demisse, que foi vice-campeão, ergueu os punhos cruzados ao cruzar a linha de chegada. O gesto é associado à luta contra violações de direitos humanos cometidos da Etiópia e foi repetido pelo atleta durante a cerimônia de premiação. Ele afirmou que não voltará por temer pela própria vida.
- O governo da Etiópia não é livre. É uma ditadura. Os oromos são 40 milhões! Não podem falar, não podem ir para a rua. Eu não vou voltar para a Etiópia. Eu vou para outro país. Se eu voltar, me matam. Tenho certeza - disse o corredor, após receber sua medalha.
Demisse explicou que seu plano é conseguir entrar nos Estados Unidos. Seus familiares, no entanto, estão na Etiópia.
- O governo está matando os oromos - repetia, mostrando de novo seu gesto aos jornalistas no estádio.
Durante os Jogos Olímpicos do Rio, outro atleta etíope fez o mesmo gesto ao celebrar sua segunda colocação na maratona. Feyisa Lilesa explicou que aquilo era uma forma de repudiar o governo do presidente Mulatu Tshome e do primeiro ministro Hailemariam Desalegn no seu país, que reprimiu violentamente manifestações. Na época, o vice-campeão olímpico explicou que temia por sua vida e pediu asilo no Brasil até conseguir entrar nos Estados Unidos.
No mês passado, dezenas de pessoas morreram em manifestações contra o governo etíope na região de Oromia. Os oromos vêm protestando há meses pelo que consideram uma perseguição injustificada por parte das autoridades etíopes e, até o momento, mais de 400 pessoas morreram desde o início das manifestações, segundo estimativas da organização Human Rights Watch (HRW).
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