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Coluna Gran Willy: O desabafo de Nick Kyrgios sobre a depressão


No último domingo (8), o mundo do tênis soube de um caso que talvez fosse difícil de imaginar. O australiano Nick Kyrgios, atual número 45 do ranking mundial da modalidade, revelou em entrevista à Stellar Magazine, que está fazendo tratamento contra a depressão. 

Logo de cara, parece incompreensível o fato de que um atleta tão jovem como Kyrgios, que tem apenas 25 anos, possa sofrer com essa doença. Para os mais 'chegados' em redes sociais, quem checar a página do tenista no Instagram, por exemplo, verá diversas fotos de festas, passeios, vai observar bens do australiano como veículos, roupas e calçados 'de marca'. Aparentemente uma vida excelente.

Mas está enganado quem pensa isso. Uma boa vida não pode ser resumida por bens materiais, imóveis, carros ou viagens paradisíacas. Porque se você que está lendo agora, ou qualquer outra pessoa, independentemente de sua posição na sociedade, não estiver bem psicologicamente, não adianta nada. 

Nos últimos anos, entre alguns títulos e muitas polêmicas, Kyrgios acabou desenvolvendo um quadro de depressão, em que ele preferia não fazer nada, como contou na entrevista.

"Eu sentia que ninguém queria me conhecer como pessoa. Eles queriam me ver como um jogador de tênis e me usar. Eu sentia que não podia confiar em ninguém. Era um lugar solitário e escuro. Teve um momento em que eu não queria ver a luz do dia", revelou o atleta, que surgiu aos olhos do mundo do tênis ao bater Rafael Nadal em Wimbledon 2014. 

Essa fala acima, pode explicar muita coisa. Inclusive o fato dele ter dito há alguns anos que odiava o tênis e que jogou vários torneios sem vontade de estar ali. 

E é aí que eu coloco em questão uma coisa. Qual é a parcela de culpa nós da imprensa carregamos por atletas como Kyrgios terem esses casos de depressão?

É óbvio que uma das nossas funções é a de analisar o potencial de um atleta, assim como elogiar ou criticar. Isso é natural. Mas até que ponto nossas avaliações podem prejudicá-lo? 

Pegue manchetes de sites brasileiros que falem sobre o tenista australiano. Ou haverão críticas, ou frases dizendo como Kyrgios é uma promessa do tênis e que ele deverá ser o número um do mundo num futuro não tão distante. O quanto de pressão jogaram nas costas dele, desde sua adolescência, seja em seu país ou fora dele?

É claro, faz parte dos grandes atletas superar momentos de muita pressão. A mesma pressão sofrida por Kyrgios, deve ter sido transmitida para Federer, Nadal e Djokovic durante o início da estrada de ambos. Mas cada pessoa tem uma forma diferente de lidar com as situações da vida e não são todos que superam a angústia, o sentimento e medo do fracasso, a sede pelo sucesso rápido ou até mesmo a responsabilidade de ser tão talentoso e ter que cumprir com as expectativas criadas por outras pessoas.

Nós jornalistas, ao fazermos uma análise, precisamos considerar também a vontade de um atleta em ser um número 1 do mundo. Em ganhar um Grand Slam. Será que isso é o que basta para a felicidade de um atleta? Talvez apenas viver do esporte, com algumas conquistas e momentos marcantes seja o suficiente. Afinal, ninguém nasce para ser número 1 e ninguém morre por não conseguir chegar lá.

Quando uma pessoa passa por períodos de depressão, é muito importante contar com o apoio familiar. E foi isso que Kyrgios teve durante o período de isolamento social, devido à pandemia. Desistiu de disputar torneios em 2020 para se recuperar psicologicamente, com o carinho de parentes e da namorada. Aparentemente recuperado, o australiano deverá voltar às quadras para a disputa do Australian Open, logo no início de 2021. 

"Tem pessoas que vivem e respiram tênis e está tudo bem. Não estou dizendo que isso está certo ou errado. Mas eu cheguei a um nível de liberdade em minha vida que não me preocupo com o que as pessoas pensam de mim", acrescentou Kyrgios durante a entrevista. 

Toda hora temos a oportunidade de aprender a lidar com pessoas que estão passando por situações difíceis como essa. Apoiar e incentivar a procura por um tratamento é fundamental para a recuperação psicológica do próximo. Desabafos como o de Kyrgios mostram que precisamos muito evoluir como profissionais, fãs e principalmente como seres humanos. 

Foto: Reprodução

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