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A importância dos professores no desenvolvimento esportivo e social no Brasil

 


O forte desenvolvimento de diversas modalidades esportivas no Brasil ainda é algo que faz parte dos sonhos daqueles que gostam de Jogos Olímpicos e de uma maior variedade de esportes. Mesmo assim, iniciativas especiais comandadas por professores levam para algumas crianças a chance de ter contato com modalidades de menor popularidade no país. E esse é o caso do Projeto Mosqueteiros, que dá a oportunidade para que crianças possam conhecer e praticar esgrima


Então neste 15 de outubro, Dia dos Professores, o site Surto Olímpico traz uma entrevista especial com Rodrigo Baldin, técnico de esgrima especializado em sabre – uma das três armas utilizadas na modalidade –, para que possamos entender melhor o Projeto Mosqueteiros, o qual ele faz parte, além de compreender a importância do trabalho dos professores no desenvolvimento esportivo e principalmente social das crianças participantes.


O Projeto Mosqueteiros existe desde 2014 e foi idealizado pela esgrimista Carol Pontes, especializada em espada. Ela tinha como intuito levar a esgrima para as comunidades da cidade de São Paulo, começando no bairro de Paraisópolis. A iniciativa ganhou diversos apoiadores, incluindo a forte ajuda da Associação Brasileira de Esgrimistas (ABE) e cresceu. É nesse ponto em que Rodrigo entra na história. 


"Em 2018 eu fiz uma provocação para a ABE falando que o projeto só contava com aulas especializadas em espada e perguntei quando que eles colocariam aulas de sabre. É comum esse tipo de brincadeira entre sabristas e floretistas, tentarem 'puxar sardinha' pro lado de sua arma favorita", explicou o professor. 


"Só que eles me devolveram a provocação, dizendo que não tinham professores de sabre na equipe e perguntando se eu poderia assumir essa parte", revelou. "Então eu aceitei o desafio". 


Rodrigo treina na Academia Paulista de Esgrima (APE), na República, um bairro da região central de São Paulo e pediu para que seu mestre, Alkhas Lakerbai, lhe desse um espaço para que fosse possível iniciar o projeto, disponibilizando dez vagas gratuitas para crianças poderem ter aulas de sabre pela iniciativa. 


"A gente queria envolver além da comunidade, as crianças de escolas públicas, vendo quem queria praticar. Não estávamos buscando talento, biotipo, mas sim quem queria ter essa experiência com a esgrima", falou Rodrigo. 


Após um período de desenvolvimento inicial dos jovens atletas, Rodrigo se deparou com um problema. A falta de equipamentos e vestuário adequado para cada aluno usar nas competições. Foi então que eles passaram a buscar doações dentro da comunidade de praticantes de esgrima, o que foi o suficiente para disponibilizar todo o material necessário. 


Tinha toda uma questão de orgulho pessoal sabe? Elas entrarem não com roupa emprestada ou com roupa maior que o corpo, mas sim com algo que é dela. Foi muito importante passar por esse processo, para entender como é que de fato pode-se fazer uma inclusão. É colocar em pé de igualdade. Dar exatamente a mesma oportunidade e deixar de lado o aspecto de coitadismo. Isso é uma ajuda. Depois que você coloca a pessoa em pé de igualdade, ela vai ter que treinar muito assim como qualquer outro. E nós conseguimos resultados bons com eles, não só esportivos, mas sociais também.


Uma das histórias que Rodrigo revelou mais gostar de contar quando aborda as questões sociais dentro do desenvolvimento esportivo é a de um aluno medalhista de bronze em uma competição municipal. Após perder alguns jogos, o garoto se recuperou na fase eliminatória, classificando-se para as semifinais e garantindo a medalha. 


No dia seguinte a diretora o chamou para uma conversa. Chegando lá ele perguntou, 'poxa, mas o que eu fiz dessa vez?'. E ai a diretora falou que chamou para lhe parabenizar pelo desempenho no campeonato. E ai o menino revela a'i que era a primeira vez que era chamado na diretoria para que alguém desse parabéns. Então tem muitos lados desenvolvidos através do esporte quando você dá a oportunidade para que uma criança pratique um esporte que ela jamais faria em outras condições.


 



Expandindo o projeto


Um dia Rodrigo recebeu diversas mensagens sobre um professor de educação física da rede estadual que estava dando aula de esgrima para crianças da escola Alfredo Paulino, na região oeste de São Paulo. Curioso, Rodrigo foi ver a iniciativa e conheceu o professor Eduardo Simões, que além de tentar ensinar a modalidade para seus alunos, incentivava a produção de espadas e proteções utilizando material reciclável, como papel e papelão, quebrando a barreira falta de acessibilidade aos materiais caros. 


"Marquei com a escola de ir ver como tudo estava sendo feito, o que estava acontecendo apenas. Quando cheguei lá, me deparei com todo o quarto ano, algo em torno de 60 crianças, todas enfileiradas querendo aula de esgrima. Fiquei bobo com o trabalho desse professor, é incrível. As crianças estavam descobrindo um esporte novo graças a mente criativa desse professor. Para mim ele é um gênio para sempre", explicou. 


O projeto do professor Eduardo era tão bom que rendeu uma parceria com Rodrigo e cinco meninas passaram a integrar a equipe de sabre liderada pelo esgrimista no Projeto Mosqueteiros. 


O enfrentamento da pandemia 


Durante o período mais forte do isolamento social, que se fez necessário por causa da pandemia de coronavírus, Rodrigo deu aulas pela internet para os integrantes de sua equipe no projeto e para quem tivesse interesse em entrar. 


"Durante toda segunda, quarta e sexta eu levava um tema e nós faziamos exercícios de esgrima, tudo dentro do que era possível. De forma segura, levei materiais para os alunos para que eles pudessem montar bonecos que iriam auxiliar no treinamento em casa". 


Como popularizar o esporte?


Mas afinal, como desenvolver a esgrima e outros esportes menos praticados no Brasil? A tarefa não é nada fácil, mas Rodrigo explica o que fei feito no Projeto Mosqueteiros. 


"Um dos principais fatores que podem servir como ponte é levar o esporte para o povo. Sair dos núcleos fechados de clubes e academias privadas, que têm custo elevado para grande parte da população e levar isso para a escola pública. Dando oportunidade, sabendo cativar o aluno através de um caminho mais lúdico e explorando todos os resultados importantes dos nossos atletas profissionais, é possível desenvolver o esporte", relatou Rodrigo. 


Quando eu era criança e jogava bola na escola, eu falava que era Romário, Ronaldo, pois eram os ídolos que a gente tinha. Então por que não uma criança não poderia entrar na sala e dizer 'eu sou a Nathalie' (Nathalie Moellhausen, primeira campeã mundial de esgrima pelo Brasil), nessas brincadeiras em que a elas se espelham em alguem.


A participação dos pais na vida esportiva e escolar dos alunos também tem sido fundamental para o sucesso do projeto. 


"A maioria dos pais (dos dez alunos contemplados no projeto) são bastante participativos. Eles levam os filhos, assistem as aulas, aos poucos eles passaram a entender as regras para conversar sobre o que está acontecendo nos jogos, então esse é outro lado excelente da iniciativa", concluiu Rodrigo. 


Foto: Reprodução/Instagram

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