Faltando menos de 100 dias da abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, os ajustes
finais nas operações também estão sendo feitos na área de segurança.
Na quarta-feira (27), o Ministério da Defesa encerrou uma
atividade integrada que teve como objetivo testar protocolos que poderão
ser utilizados em caso de contaminação química, biológica, radiológica
ou nuclear durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
O curso envolveu 60 pessoas,
entre militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e também do
Ministério da Saúde, Corpo de Bombeiros e outras instituições. Para a
atividade, que ocorreu na Base Aérea dos Afonsos, Zona Oeste do Rio de
Janeiro, foi simulado um cenário de incidente químico durante uma
competição esportiva. O exercício propunha a evacuação aeromédica de uma
vítima de ataque de agente químico.
O principal objetivo da atividade foi desenvolver a integração entre
os órgãos participantes, que discutiram sobre as capacidades de cada um e
qual a melhor forma de utilizá-las para preservar a integridade física
das eventuais vítimas.
“Esse exercício tem uma dinâmica didática mais intensa, porque as
agências já trabalharam dentro de cada instituição, então agora nós
estamos juntando as experiências, os protocolos, as ações, a fim de
verificar a engrenagem funcionando de maneira mais adequada. Às vezes
pode parecer que há uma demora, mas isso é proposital, para que haja uma
análise minuciosa de todo procedimento e a gente possa ratificar ou
retificar algum procedimento independente”, explicou o assessor de
Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBRN) do Ministério
da Defesa, coronel Chamon De Lamare.
Durante o exercício, as equipes de defesa simularam o atendimento a
vítimas de ataque químico em instalações olímpicas. Depois de verificada
a gravidade da situação, as vítimas passam por uma tenda de
descontaminação e são levadas por uma ambulância do Corpo de Bombeiros
até o helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB), que em seguida decola
em direção ao hospital de referência, no caso o hospital da base aérea
do Galeão.
Na simulação, foi utilizado um composto químico chamado Levisita, que
causa erupções na pele e sensação de pequenas agulhadas. “Em quatro
horas, essas reações se intensificam e podem ocasionar até uma parada
cardiorrespiratória. O cheiro do produto é semelhante aos de tempero de
comida, como caldo de galinha, alho e mostarda, o que faz com que passe
despercebido entre leigos”, disse o capitão do Exército Hartuiq.
“A atuação na chamada ‘zona quente’, que é a área contaminada, é
essencial para testarmos nossa capacidade de pronta resposta e
aperfeiçoarmos continuamente nosso procedimento de atuação
interagências”, acrescentou o coronel Chamon De Lamare. A etapa
pós-evacuação, que envolve a descontaminação da aeronave e da tripulação
envolvida no resgate, também é de extrema importância.
“Nossa responsabilidade nesse plano de resposta a uma ameaça
terrorista com vitimas por agente contaminante é a evacuação aeromédica,
ou seja, o transporte das vitimas por meio aéreo. Então, colocamos aqui
um helicóptero à disposição para fazer o transporte do ponto do evento
esportivo até o hospital mais próximo, se houver essa necessidade”,
disse o major Gava, da Força Aérea Brasileira (FAB).
De acordo com o major, o transporte pelo modal aéreo se justifica
devido à gravidade da vítima, a urgência do atendimento dela e a
distância que ela está do hospital ao qual será encaminhada. “Isso é uma
decisão dos órgãos de saúde pública do Rio de Janeiro”, acrescentou.
Aviões da FAB também poderão ser utilizados caso haja ocorrências nas
cidades-sede do futebol (Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Salvador e
São Paulo), em que o aporte dos hospitais da cidade não suporte a
demanda. Nesse caso, a aeronave levaria a vítima para outras cidades ou
até para o Rio de Janeiro. “Caso infelizmente aconteça um evento
desastroso que chegue à capacidade máxima dos leitos de hospitais aqui
do Rio e eu tenha que tirar vítimas daqui para outros grandes centros,
como São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, que possam atender essas
vítimas, nesse caso o avião também será utilizado”, acrescentou o major
Gava.
Experiência e legado
O coronel De Lamare lembrou que o Brasil já sediou outros grandes
eventos, como a Copa do Mundo, e possui experiência nesse tipo de
operação. “É o sétimo grande evento que o Brasil sedia e incidentes de
natureza QBRN nunca aconteceram, mas isso não quer dizer que não devemos
treinar, por isso estamos aqui nos preparando para mitigar eventuais
ameaças”, disse.
A cooperação internacional e a constante atualização das forças de
segurança nacionais são fundamentais para a prontidão diante de ameaças
terroristas. “Obviamente, as conjunturas internacionais nos interessam.
Os atentados de Paris, na Bélgica, mesmo agora essas pretensas ameaças
do Estado Islâmico, tudo isso entra no escopo para que nós planejemos,
mas não houve modificação substancial nas nossas ações fruto disso que
está sendo ventilado na mídia”, completou o coronel.
Para o major Gava, a integração entre as forças de segurança nacional
e órgãos da sociedade civil ficará como legado para a população
brasileira após os Jogos Rio 2016. “É realmente um ganho no apoio à
população brasileira. Estamos muito mais integrados do que antes e para o
futuro a gente ainda vai aprimorar mais. Nosso principal objetivo agora
é Olimpíada, mas esse plano contra terrorismo é permanente, então a
gente precisa estar integrado em todos os meios”, afirmou.
Foto: Brasil 2016
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