A poluição da Baía de Guanabara, que receberá o iatismo nas Olimpíadas
do Rio, em 2016, continua tirando os velejadores do sério. Embora os
organizadores dos Jogos insistam em dizer que as raias olímpicas — Ponte
Rio-Niterói, Escola Naval, Pão de Açúcar, Copacabana e Niterói —
estarão em condições satisfatórias para a competição, o que se vê é
desanimador.
No Rio para a segunda edição da Copa Brasil de Vela, que
terminou sábado (20), em Niterói, campeões olímpicos e mundiais não poupam
críticas à poluição. Um dos mais contundentes é o britânico Nick
Dempsey, bicampeão mundial e prata em Londres-2012 na RS:X, a mesma do
brasileiro Ricardo Winick, o Bimba. Embora rasgue elogios ao nível da
competição carioca, que reúne os 20 melhores do mundo em sua classe, ele
muda o tom quando o assunto é a Baía de Guanabara:
— É a pior água em que já velejei na minha vida. Suja,
poluída, cheia de detritos, e não há nada que nós, atletas, possamos
fazer. Eles (os organizadores dos Jogos) deveriam estar preocupados com
isso.
Bimba concorda. Um dos críticos mais ferrenhos da poluição da baía, ele acrescenta:
— A quantidade de plástico está reduzida, mas a qualidade da
água está muito ruim, cheia de espuma e mau cheiro. Há uma língua de
esgoto que sai na Marina da Glória. É tipo a corrupção, dá para
melhorar, basta querer. Se a gente sabe que as Olimpíadas vão ser na
Marina há cinco anos, por que ainda cai esgoto lá?
COLETA PALIATIVA
Campeã
mundial e eleita a melhor velejadora de 2014 pela Federação
Internacional, Martine Grael, que compete ao lado de Kahena Kunze na
49erFX, questiona a eficácia do uso de redes para coletar o lixo. Em
janeiro, a atleta fez sucesso nas redes sociais ao postar uma foto em
que estava sentada na prancha de frente a uma TV, encontrada na baía.
— A água está muito suja, já sabemos disso há tempos. Acho
que paliativos como coletar lixo não resolvem nada. Até porque nós não
vemos redes novas de coleta. O que vemos são poucas ações efetivas, além
de muitos peixes mortos e agonizantes — reclama.
Vice-campeão mundial na Nacra, classe que fará sua estreia
nos Jogos do Rio, o argentino Santiago Lange também entra na discussão,
mas com cuidado:
— Sem dúvida, a água está suja, mas a raia é espetacular. Eu
espero que os Jogos de 2016 sirvam para conscientizar as pessoas sobre a
necessidade de despoluir a baía, porque é um lugar maravilhoso.
A um ano e oito meses do início das Olimpíadas, ainda não se
sabe a qualidade da água que os velejadores vão encontrar durante a
competição. Uma coisa, no entanto, é certa: o compromisso de despoluir
80% da Baía de Guanabara, assumido com o Comitê Olímpico Internacional
(COI), não será cumprido. E, pelo menos esse legado, os Jogos de 2016
não deixarão.
Foto: CBVela
Fonte: O Globo
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