Cabelos longos, baixa estatura e sorriso de menina. O apelido
diminutivo pode até enganar, mas quem observa Edna Santini não imagina
sua força e capacidade de adaptação. Jogadora da seleção brasileira de
rúgbi, a menina de 21 anos desafiou barreiras e os próprios limites para
se tornar profissional em um esporte ainda com pouca visibilidade no
país. Em sua cidade, São José dos Campos, não havia um time feminino.
Destemida e persistente, começou a jogar em uma equipe masculina e,
desde então, nunca mais parou.
- Foi um momento muito interessante e essencial para o meu
desenvolvimento no esporte. Jogar com meninos fez com que me esforçasse mais,
para poder competir de igual para igual. Assim desenvolvi várias habilidades
importantes para a modalidade. Joguei com os meninos dos 10 aos 14 anos - disse.
Foi através de um projeto social que encontrou seu primeiro palco no
rúgbi. No início tudo não passava de uma brincadeira, quase uma
recreação. O caminho até para a profissionalização foi lento. Protegida
pelos companheiros de equipe, a jogadora, conhecida carinhosamente como
Edninha, lembra com saudosismo daquela época.
- O bom de
jogar com eles é que eu era bem protegida. Não podiam ver outros meninos puxando
meu cabelo ou me batendo que logo me defendiam. Eram todos como irmãos e até
hoje cuidam de mim. Era
engraçado também a reação das pessoas quando me viam jogando entre eles.
Achavam diferente e alguns até se assustavam quando eu, mesmo menina, me
destacava - relembra.
Atualmente, a jovem alcançou um dos
estágios que mais almejava: um lugar em uma renovada e promissora
seleção brasileira de rúgbi de sete, que busca evoluir a passos largos
até os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Filha de uma
costureira e de um autônomo, ela lembra com emoção os sacrifícios que a
família também teve que fazer por acreditar em seu sonho. Mesmo com um
orçamento apertado, todos da família se mobilizaram de alguma maneira
pelo objetivo de Edna.
- Sou de família
simples. Filha de uma costureira e um autônomo. Sou a caçula de quatro
filhos e a única que seguiu a carreira de atleta. Para jogar rúgbi sempre tive a ajuda do
clube para viajar e disputar torneios. Minha
família também era envolvida. Para ajudar no orçamento de casa,
minha mãe lavava os uniformes das equipes do São José, e meu pai alugava um
quartinho para guardar materiais de treino, que ficava ao lado do campo onde treinava.
Aliás,
daí o meu interesse pelo rúgbi - conta.
Os anos se
passaram, o apelido ficou e a menina que encarava os homens se destacou
entre as mulheres. Edninha foi considerada a melhor jogadora de rúgbi de
sete
do Brasil no ano passado, além de figurar entre as 15 maiores
pontuadoras do Circuito
Mundial. Agora, a atleta sonha ser referência e ver o reconhecimento do
esporte. Mas
lembra que, por pouco, não desistiu.
- Pensei em parar para estudar e trabalhar. Na época, não
pensava chegar tão longe. Sonhava, mas via tudo bem distante da realidade. O que
me fez nunca desistir foi o amor pelo esporte e o apoio das pessoas e da
família. A vontade de viver pelo esporte - revela.
Aos 21 anos e uma trajetória de desafios na modalidade, Edna Santini
já assume um papel importante e pede um olhar mais atencioso ao rúgbi.
Ela aponta a falta de conhecimento e apoio como os principais percalços,
lembrando que alguns atletas ainda precisam de investimento próprio
para jogar em nível competitivo. Mesmo assim, aponta o segredo para os
bons resultados obtidos pela seleção feminina recentemente.
- Temos que
ser verdadeiras atletas dentro e fora de campo. Ter uma rotina de
treinos, preparação e seguir em uma evolução constante. Manter e
aperfeiçoar o que está
bom, corrigir e melhorar o que está falhando. E acreditar - completou a
atleta.
Edna vive em São Paulo com as companheiras de seleção, em uma casa custeada pela Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu). Na semana retrasada, a equipe brasileira feminina conseguiu avançar para as quartas de final do Circuito Mundial, terminando na oitava colocação.
Foto: Divulgação
Fonte: Globoesporte.com
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