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Recuperação do complexo lagunar da barra continua só no papel


Ilhas de lixo e lodo. Mau cheiro. E água preta e pastosa, tomada de esgoto, ou verde florescente, coberta de cianobactérias. O panorama evidencia que não há mais tempo a perder para a despoluição das lagoas da Barra e de Jacarepaguá. Não bastassem os sinais de agonia, as margens do complexo lagunar abrigarão importantes instalações das Olimpíadas do Rio, com a recuperação ambiental do sistema incluída na lista de compromissos da cidade para os Jogos. Mas se começasse hoje e ocorresse no tempo estipulado atualmente, uma das principais intervenções para cumprir a promessa já não seria, em tese, concluída antes da chegada dos atletas: a dragagem de aproximadamente 5,7 milhões de metros cúbicos de sedimentos poluídos do fundo das lagoas. Tão atrasada quanto outras obras na região que também tropeçam nos prazos.

No caso da dragagem, a Secretaria estadual do Ambiente (SEA) afirma que seriam necessários dois anos e meio para finalizá-la. Ou seja, se mantido o prognóstico, terminariam quase dois meses depois da abertura das Olimpíadas, em agosto de 2016. Na tentativa de evitar que isso aconteça, o órgão garante que as obras começam ainda no primeiro semestre deste ano, e diz estudar alternativas para acelerá-las, como reforço nos turnos de trabalho. Mas ainda aguarda a descentralização dos recursos (R$ 672 milhões, sendo R$ 402 milhões de um empréstimo do Banco do Brasil e R$ 271 milhões do Fundo Estadual de Conservação Ambiental) e a liberação da Licença de Instalação pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

O projeto prevê dragar um perímetro de 15 quilômetros de extensão das lagoas de Marapendi, Tijuca, Jacarepaguá e Camorim, além dos canais de Marapendi e da Joatinga. Está licitado desde julho de 2013. No entanto, após denúncias de formação de cartel na concorrência vencida pelo consórcio Complexo Lagunar — formado por Queiroz Galvão, OAS e Andrade Gutierrez —, o então secretário do Ambiente, Carlos Minc, suspendeu a homologação da licitação. Medida que foi cancelada em fevereiro deste ano, depois de o estado alegar o curto prazo para cumprir o compromisso olímpico.

Enquanto isso, nas ilhas de lixo da Lagoa da Tijuca, garrafas PET e sacolas plásticas são o de menos: há sofás, pneus, para-choques de carros... Perto dali acontece um fétido “encontro das águas”: de um líquido escuro do Canal do Anil e do Arroio Fundo com o esverdeado, cheio de cianobactérias, vindo da Lagoa de Jacarepaguá. Esta última que receberá em seu entorno equipamentos como o Parque Olímpico e a vila dos atletas.

Especialistas ainda alertam: apenas a dragagem não é suficiente para recuperar o sistema lagunar. Sem medidas que impeçam que o esgoto chegue às lagoas, os efeitos das obras seriam apenas temporários. Nesse sentido, o Plano de Gestão da Sustentabilidade dos Jogos Rio 2016 afirma que as ações para a região combinam intervenções de saneamento e desassoreamento com outras de macrodrenagem.

As obras de ampliação da rede de esgoto na Barra e no Recreio estão em andamento. Segundo a Cedae, a meta é até o final de 2015 ter 100% dos clientes desses bairros conectados à rede formal de coleta. Contudo, até em regiões atendidas pelas redes, como o Jardim Oceânico, ainda é possível ver dejetos lançados nas galerias de águas pluviais.



Já outra proposta apresentada no plano de gestão sequer tem recursos garantidos. A cargo da prefeitura, seriam instaladas quatro Unidades de Tratamento de Rio (UTRs) em cursos d’água poluídos que desembocam nas lagoas. Elas ficariam nos rios das Pedras, Arroio Pavuna e Pavuninha, além do Canal do Anil. E funcionariam nos moldes da que já existe no Arroio Fundo, próximo à Cidade de Deus. De acordo com a Rio Águas, o projeto depende da captação de recursos via governo federal (o orçamento inicial é de cerca de R$ 140 milhões), o que estaria em andamento. E, mesmo ficando prontas, diz Paulo Cesar Rosman, professor de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, seriam um paliativo.

— As UTRs removem parte do lixo e reduzem a carga orgânica. Mas não totalmente. O que não é suficiente para um sistema de baixíssima taxa de renovação das águas, como as lagoas. O que deve ser feito é o saneamento das comunidades — diz ele, lembrando também a proposta feita pela Coppe, desde 2004, de ligação das lagoas de Marapendi e de Jacarepaguá ao Canal de Sernambetiba, criando um novo fluxo de renovação das águas das lagoas com o mar, que hoje ocorre apenas pelo Canal da Joatinga.

Sem UTR nem saneamento, quem vive em lugares como as margens do Arroio Pavuna, com níveis de oxigênio dissolvido próximos de zero e coliformes fecais dezenas de vezes acima do tolerado, segundo o Inea, sofre com a poluição. E os mais velhos sentem saudade do passado.

— Eu nadava no rio e na lagoa. Os pescadores chegavam com barcos abarrotados. Hoje, ver a situação que está aí dá vontade de chorar — diz Zélia Dazzi, moradora da antiga vila de pescadores Arroio Pavuna, na desembocadura do rio com a Lagoa de Jacarepaguá.

Foto e fonte: oglobo.globo.com

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