Após sofrimento pós-olímpico, Felipe França diz: 'É o ano da ressurreição'
Os olhos não desviavam. Miravam aquela medalha dourada nos Jogos de Londres. Nenhuma outra cor parecia contentar Felipe França. A confiança era tanta que dias antes da estreia já avisava na entrevista coletiva: “No dia 29 de julho vocês vão me ver com o ouro”. Seria a recompensa para tantos sacrifícios, que passava por um regime alimentar rigoroso, para sair de um percentual de 17% de gordura para apenas 10%. Mas ela não veio. Campeão mundial dos 50m peito, o nadador não passou da semifinal dos 100m peito, amargando o 13º lugar.
Os dias que vieram depois dali foram os piores que já tinha vivido. O sofrimento não tinha fim. França não conseguia deixar de pensar naquela prova e já não tinha mais vontade para continuar. Se casou, engordou 20kg e nem se importava de se olhar no espelho. Treinava, mas não queria mais aquela rotina com a mesma força. Não conseguiu vaga na delegação que foi ao Mundial de Barcelona e logo depois foi submetido a uma cirurgia no apêndice. Precisou ficar parado por um mês.
- Foi o pior sofrimento que já tive. Quase tive uma depressão, mas agradeço a Deus por ter passado por isso e não ter desistido da natação. Orei muito durante esse período. Naquela época, eu estava muito confiante nas minhas próprias mãos. Eu achava que a mente podia fazer você ficar em primeiro ou em último. Só que o treino dá suporte maior do que a mente inabalável. Minha cabeça ficou presa ao passado até agosto. Em setembro me desprendi de tudo – disse.
A partir dali, começou a perder peso e a querer novamente corrigir o rumo. Tudo com os pés bem presos ao chão e com muita disciplina.
- Hoje sei que ser o melhor é consequência. Às vezes, a gente se perde e tem que mostrar humildade e paciência. Agora tenho um amadurecimento da visão da medalha nas Olimpíadas. Foi um aprendizado. Se tiver que definir, esse é o ano de ressurreição para mim.
Nesta quarta-feira, na piscina do Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, França voltou ao alto do pódio. Foi o mais rápido nos 50m peito, no Torneio Open, prova na qual já foi campeão e recordista mundial. Com 27s03, deixou para trás seu companheiro de Pinheiros, João Gomes Jr. (27s40), e Felipe Lima, do Minas (27s68). A marca também foi índice de participação para o Pan-Pacífico da Austrália. Ainda serão realizadas duas seletivas para fechar a equipe brasileira.
- Eu treino só uns dois meses e meio e o tempo que fiz foi dentro do que esperava. Essa vitória me dá confiança nesse retorno. Estou feliz.
Enquanto ainda sofria com o resultado olímpico, França viu seus adversários irem ganhando espaço. Felipe Lima conquistou o bronze nos 100m peito no Mundial. João Jr. foi o quinto colocado nos 50m.
- Acho que é uma boa oportunidade para mim, para a gente crescer junto. É chato você competir e estar 2 segundos na frente sempre. Nunca senti obrigação de ganhar e sei que ninguém é invencível. E isso é bom. Quero é fazer o meu melhor. Sei que ser o melhor é consequência. Tenho conversado bastante com meu técnico (Sérgio Marques) e queremos subir degrau por degrau. Sim, os Jogos do Rio em 2016 estão na lista. Tem tempos que quero alcançar e vou perseguir isso. Acho que a medalha olímpica é possível e está dentro dos planos.
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