Vuelta España - 1ª Semana

Vuelta España 2012: Semana 1 de 3: calor, montanhas, quedas, polêmicas... e Lance Armstrong

A terceira e última grande volta ciclística do ano, a Vuelta España, encerrou a sua primeira semana com muita coisa para contar. A prova, que antes não tinha tanto brilho pois vinha apenas um mês e meio depois do Tour de France (que é a principal volta ciclística do mundo), na edição 2012 ganhou destaque especial, por marcar a volta de Alberto Contador, depois da punição por doping no Tour de France de 2010. Aliás, o doping foi assunto recorrente nessa semana, envolvendo um ciclista que nem disputando mais está, mas falo disso daqui a pouco. 

A Vuelta 2012 começou em Pamplona, em um prólogo em contra-relógio por equipes que determinou quem iria sair com a camiseta vermelha de líder (a equivalente à camisa amarela do Tour de France) no primeiro estágio da competição. O contemplado foi o espanhol Jonathan Castroviejo (Movistar), que manteve essa camisa até o terceiro estágio. A camisa vermelha então foi assumida por outro espanhol, Alejando Valverde (Movistar). E aí, começaram as polêmicas. 

Desde o prólogo, a Vuelta España 2012 está marcada por alguns fatores que tornam a competição até mais difícil que o Tour de France. Logo de cara, já tivemos etapas de alta montanha, determinando quais seriam os ciclistas a disputar o título da prova. Some isso ao forte calor que faz na Espanha, mesmo no final do verão, e as quedas ocorridas ao longo das etapas, e você tem um cenário um tanto quanto inusitado. O evento mais polêmico aconteceu no quarto estágio (entre Barakaldo e Estación de Valdezcaray), onde o pelotão se desmanchou em uma queda. Diz a norma da boa esportividade do ciclismo de estrada que, em etapas de alta montanha, quando um incidente acontece, as equipes esperam o restante do pelotão, para quando precisar subir a montanha, aqueles que estão em melhores condições subam com igualdade de condições, mantendo a competitividade. 

E quem disse que algumas equipes fizeram isso? 

Na queda, ficaram vários competidores favoritos, inclusive o então camisa vermelha, Alejandro Valverde, assim como parte da equipe Movistar. Sabendo disso, outras equipes com atletas candidatos ao título (e que não se envolveram na queda) forçaram o ritmo, acelerando para ganhar tempo. Entre elas, as equipes Saxo Bank, SKY e Katusha. Resultado: o espanhol Joaquim Purito Rodriguez (Katusha) assumiu a liderança geral da Vuelta, e até então é líder pela vantagem aberta, deixando Valverde e o belga Philipe Gilbert (BMC), envolvidos na queda, lá para trás. A decisão foi criticada por muitos, gerou falatório geral, e resultou em um recado claro vindo da equipe Movistar: "não vamos esperar ninguém em caso de incidentes". 

Mas, fora isso, Rodriguez foi muito bem nessa primeira semana da Vuelta. Em estágios de alta montanha, ele sempre chegou nas primeiras posições, e seus adversários diretos não conseguiram acompanhar o espanhol com eficiência. O reflexo disso está no quadro dos seus principais adversários. O vice-líder da Vuelta 2012 é o britânico Christopher Froome (SKY), com 53 segundos de desvantagem. Froome é um dos favoritos a vencer a prova, com destaque por ter ido muito bem no Tour de France, sendo o principal escudeiro de Bradley Wiggins, que não está presente nessa competição. Em terceiro, temos o sempre perigoso Alberto Contador (Saxo Bank), com 1 minuto de defasagem de tempo em relação à Rodriguez. Devemos levar em consideração que esta é a primeira competição oficial de Contador depois da punição, logo, ele só deve ganhar ritmo de prova a partir dessa semana. Em quarto, temos Alejandro Valverde, com 1'07 minuto de defasagem para o líder. 

Um fator importante dessa segunda semana da Vuelta que começa amanhã (28): na quarta-feira (29), teremos um contra-relógio individual, que pode mexer de forma considerável no posicionamento da camiseta vermelha. Rodriguez tem um contra-relógio mais fraco que Froome, Contador e Valverde, e a tendência é que esses atletas descontem tempo em relação ao líder. Vale a pena ficar de olho. 

Na disputa da camisa verde (classificação geral por pontos), Joaquim Rodriguez também é líder com 85 pontos, mas deve perder essa liderança para os seus adversários mais diretos na categoria. A saber: o alemão John Degenkolb (Argos-Shimano), com 76 pontos, Alejandro Valverde, também com 76 pontos, e Christopher Froome, com 51 pontos. Ciclistas como Contador e o italiano Daniele Bennati (Radioshak-Nissan) também devem conquistar pontos preciosos. O primeiro, por causa do contra-relógio de quarta. O segundo, por causa da chegada dedicada aos sprinters (ou velocistas) que temos nessa semana. 

Na camisa branca com bolinhas azuis (classificação geral para os melhores montanhistas), Alejandro Valverde está na frente de Joaquim Rodriguez (21 a 17). A disputa deve ficar entre os dois, principalmente quando chegarmos nas etapas com final em montanha. Eles podem ser ultrapassados pelos atletas que podem conquistar pontos nas metas intermediárias de montanha. Logo, fiquem de olho no australiano Simon Clarke (Orica Greenede), o holandês Pim Ligthart (Vacansoleil) e o espanhol Luis Angel Mate (Cofidis), que apesar de não figurarem entre os favoritos ao título da Vuelta, são ótimos montanhistas, e podem lutar de forma mais direta para ficar com essa camisa, na chegada em Madrid. 

A camisa branca tem função diferente da que tem no Tour de France. Na Vuelta España, não temos o líder geral entre os novatos. Em compensação, temos o líder das camisas combinadas, ou o ciclista mais regular em todos os quesitos. A contagem é feita pelos pontos perdidos por cada atleta. Aqui, é natural que os líderes da Vuelta sejam os líderes dessa modalidade: Joaquim Rodriguez, com 4 pontos perdidos, Alejandro Valverde, com 8 p.p., Christopher Froome, com 15 p.p., e Alberto Contador, com 17 p.p. O cenário certamente vai mudar de acordo com a movimentação desses atletas na briga pelo título da Vuelta. 

Na classificação por equipes, a Rabobank (uma das equipes que resolveu "disparar" no quarto estágio) é líder, com uma boa vantagem de 2:27 minutos para a AG2R. A SKY em terceiro (3:43), a Katusha, em quarto (3:43) e a Movistar, em quinto (5:35) são as equipes que mais estão envolvidas na disputa do título por equipes. E esse é o cenário mais imprevisível da Vuelta 2012, pois não sabemos quantas quedas ainda vão acontecer. Falo isso porque algumas etapas possuem um traçado estreito, mais propenso aos acidentes. 

Ah, e a polêmica do doping tomou conta da semana, quando saiu a notícia sobre a desistência da defesa de Lance Armstrong em relação às investigações promovidas pela USADA. Com isso, todos estão "de olho" na Vuelta, para saber quais outros atletas serão pegos no doping, uma vez que a vigilância sobre esse assunto está cada vez maior. Mas em momento oportuno, eu falo sobre isso. 

Na semana que vem, eu volto para falar sobre a segunda semana da Vuelta. Para mais informações, acesse o site oficial da Vuleta España, em www.lavuelta.com.