Por Bruno Guedes
O
que seria das Olimpíadas sem as grandes histórias? Como pensar nelas e
não lembrar dos muitos momentos, esses que nos inspiraram e fizeram
gostar de esporte? Pois isto não faltará quando lembrarmos de
PyeongChang 2018. Os Jogos Olímpicos de Inverno terminaram no último dia
25, mas a sua herança ainda está bem viva em nossas mentes.
Desde
a Grécia Antiga, a Olimpíada é o passaporte direto para o Olimpo, onde
simples mortais se tornavam semi-deuses e suas glórias eram narradas de
geração a geração. Talvez seja assim que Ester Ledecka, a quase
desconhecida tcheca de 22 anos, ficará escrita no Panteão dos imortais
olímpicos. Sua história poderia muito bem ter saído de algum conto
grego, de fato.
Ficando apenas 0.01 a frente da austríaca Anna Veith, que lutava pelo bicampeonato, Ledecka levou a medalha de ouro no Super G do Esqui Alpino de forma surpreendente e inesperada.
Mas o que era pra ser uma zebra acabou se tornando num dos momentos
marcantes desta edição. Incrédula e sem entender o que acontecia, Ester
ficou parada à frente do placar, imóvel e sem esboçar reação, ao ver seu
nome como a vencedora. Um câmera precisou alertá-la de que tinha levado
pra casa a competição.
Só que tinha mais...
Ao
se dirigir para a coletiva de imprensa, a tcheca apareceu ainda com os
óculos usados na competição e disse que não estava preparada para
ocasião (ganhar), ao contrário das meninas, já com maquiagem. Para
fechar com chave de ouro a primeira parte das suas façanhas, Ledecka
confirmou que usou os esquis emprestados da americana Mikaela Shiffrin, que não participou do evento. Nem Hollywood teria um roteiro melhor.
Só que a aspirante ao Olimpo conseguiu a cereja do bolo dias depois. Na prova onde é especialista, o Slalom Gigante no Snowboard, Ester pulverizou as adversárias e garantiu seu nome pra sempre na História dos Jogos Olímpicos: foi
a primeira mulher a levar dois ouros em duas modalidades diferente. Ao
ser questionada sobre seu talento sobrenatural, mostrou ainda a
humildade dos ídolos: “Não acredito que tenha um talento fora do normal, tive sim a sorte de
conhecer as pessoas certas ao longo da minha carreira".
Senhoras e senhores, reverenciem a nova deusa do Olimpo, Ester Ledecka.
Mas
saindo das montanhas e indo para as arenas, outras duas mulheres também
entraram pelo portão onde Métis é soberana: as russas Alina Zagitova e Evegenia
Medvedeva. Companheiras de treinos, ambas eram apontadas como
postulantes às medalhas na Patinação Artística, porém a segunda com
amplo favoritismo e holofotes mundiais.
Entretanto, esse quadro foi revertido já nas primeiras apresentações. Alina, de apenas 15 anos e
dois meses acima da idade mínima para competir, assombrou a todos e
terminou seu Programa Curto, classificatório para o Longo, em primeiro
lugar e quebrou o recorde mundial de pontuação. Para
Medvedeva, até então apontada como fenômeno do esporte, só restava
fazer uma apresentação memorável para conseguir superar sua compatriota.
Evegenia bateu o recorde mundial da modalidade ao anotar 81,61. Porém a rival,
em questões de minutos, derrubou sua marca, anotando 82,92 pontos. No Curto, não conseguiu, aumentando as expectativas para dois dias depois, onde rivalizariam. Era o primeiro ato de uma memorável semana.
Com
a atenção do planeta para elas, Zagitova e Evgenia foram antepenúltima
e última no Programa Longo, respectivamente. Mas a Patinação Artística
poderia mudar o nome para Duelo de Russas. Não havia espaço para as
demais competidoras. As amigas rivalizavam, mas hipnotizavam. Os
presentes pareciam não entender a importância e grandeza daquele
momento, mais um que fez os Deuses descerem para aplaudir.
O
nível apresentado pelas jovens estava muito acima das demais, o que se
refletiu nas notas. Com uma apresentação antológica, Alina atingiu o
valor de 239, 57. Medvedeva teria que ser, mais do que nunca, uma deusa
do Olimpo se realmente queria atingi-lo. Com programa carregado de
emoção e forte interpretação, o esperado, mesmo sob quase um minuto de
aplausos, aconteceu: ela estava destronada após alguns anos dominando a Patinação, com 238,26 pontos.
Sem
reações explícitas, as duas ficaram ali, diante do público,
distribuindo autógrafos e ainda digerindo a História recém escrita.
É, PyeongChang 2018 deixou grandes momentos para contarmos futuramente.
Fotos: Getty Images
Fotos: Getty Images
0 Comentários