Ministros israelenses ameaçaram abandonar a disputa do Giro D’Italia,
programada para começar em Israel, se o nome adotado pela organização para a
primeira etapa de “Jerusalém Ocidental” não fosse alterado.
Os organizadores da corrida inicialmente receberam conselhos
do Ministério das Relações Exteriores da Itália para descrever o ponto de
partida como o Jerusalém Ocidental, devido a reivindicações recorrentes de
israelenses e palestinos sobre a cidade. Entretanto, os políticos israelenses,
liderados pelo controverso ministro da cultura e esporte, Miri Regev, ameaçaram
retirar o apoio ao giro, alegando que o evento estaria violando o acordo.
Às 9 horas da quinta-feira, 30 de novembro, o site oficial do
Giro ainda apresentava o nome contestado por Israel, mas na parte da tarde os
organizadores revisaram a escrita e mudaram o nome do ponto de partida da
primeira etapa para apenas Jerusalém.
O ponto central da controvérsia está no estatuto da cidade.
Após ser conquistada e posteriormente anexada do lado leste de Jerusalém pelas
tropas israelenses durante a Guerra de Seis Dias em 1967, Israel reivindicou a
cidade como sua capital unida. Entretanto, a maioria das opiniões internacionais
se recusa a reconhecer essa afirmação, enquanto os palestinos reivindicam o
leste da cidade ocupado pelos israelenses como a capital de um futuro estado
palestino.
Foi nesse longo e complicado conflito que os organizadores
do Giro D’Italia acabaram se envolvendo quando decidiram organizar a primeira
etapa fora da Itália na história da competição, que ocorre desde 1909. O giro
italiano, que foi condenado pelos ativistas palestinos por terem optado por
manter a primeira etapa em Jerusalém, se viu na mira de Israel enquanto tentava
negociar uma política de meio século de ocupação.
A organização do evento anunciou com grande alarde este ano
que o giro começaria em Israel e teria suas três primeiras etapas disputadas no
país. O fato de ser o primeiro grande tour europeu a acontecer em terras
israelenses também foi exaltado pelos organizadores.
Mauro Vegni, diretor do Giro, disse que estava ciente das
sensibilidades políticas em torno do status de Jerusalém. "A realidade é
que queremos que seja um evento esportivo e fique longe de qualquer discussão
política", afirmou ele em entrevista para a Associated Press.
Regev, juntamente com o ministro do turismo israelense,
Yariv Levin, disseram em uma declaração que “em Jerusalém, a capital de Israel,
não há leste ou oeste”. Após a mudança do nome, os dois voltaram a se
pronunciar e disseram satisfeitos com o recuo dos organizadores. "Na
sequência da nossa resposta aos organizadores do Giro, estamos satisfeitos por
ver a pronta reação dos organizadores na remoção do nome "Jerusalém
Ocidental" de seus anúncios oficiais", disseram.
Receber as primeiras etapas do Giro D’Italia foi visto como
uma benção para Israel, que tem uma grande comunidade entusiasta do ciclismo de
estrada. De acordo com relatos no meio do ciclismo, Israel teria pagado cerca
de 10 milhões de euros para retirar o evento da Europa pela primeira vez, com Chris
Froome, atual campeão, que confirmou sua participação prevista em um tweet,
recebendo uma taxa adicional.
Sharaf Qutaifan, da Campanha Palestina para o Boicote Acadêmico
e Cultural de Israel disse que “começar o Giro em Israel, a todos os intentos,
recompensa Israel por seus abusos aos direitos humanos de décadas contra o povo
palestino, incluindo atletas".
Foto: ActionPlus/Getty Images
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