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Parada das Nações Tóquio 2020 - Iraque



A República do Iraque é uma nação localizada na região da antiga Mesopotâmia, berço de umas das primeiras civilizações do mundo, onde o ser humano passou a ler, escrever, criar leis e viver de formas mais organizadas. O Iraque foi o centro de impérios como o Acádio, Sumério, Assírio e Babilônico, além de ter feito parte do Império Otomano até ficar sob controle britânico depois da Primeira Guerra Mundial. 

Em 1921 o Reino do Iraque foi fundado, ganhando a independência da Grã-Bretanha em 1932, graças ao tratado assinado dois anos antes, que concedia diversas permissões aos britânicos, como participar dos assuntos do governo, manter bases militares no país e garantindo apoio local em futuras guerras. 

A derrubada dos monarcas aconteceu em 1958, o que gerou anos de instabilidade no Iraque, golpes de estado, além do envolvimento da nação na Guerra Irã-Iraque e na Guerra do Golfo. E claro, a ascensão do governo do ditador Saddam Hussein, entre 1979 e 2003. 

Outro grande aliado do Iraque em tantos confrontos e transformações ocorridas no planeta, foram os Estados Unidos, que apoiaram o pais de Hussein durante a guerra com o Irã. Mas o ‘amor’ acabou após os iraquianos invadirem o Kuwait, em 1990. 

Uma vez marcado pelo grande avanço econômico e desenvolvimento do país, o governo de Hussein passou a ser visto como o grande responsável por um colapso na economia, seguido por diversos casos de corrupção, que geraram tensões entre povos sunitas, xiitas e curdos. 

A relação de Hussein com os Estados Unidos piorou cada vez mais com o passar dos anos. Mas essa é uma história pra daqui a pouco. 

A entrada do Iraque no mundo olímpico 




O Comitê Olímpico do Iraque foi formado em 1948, sendo reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no mesmo ano. Assim, foi possível garantir a participação da nação na Olimpíada de Londres, onde formou uma delegação com 12 homens e nenhuma mulher. 

Com dois velocistas e dez jogadores de basquete, o Iraque fez sua estreia olímpica. Apesar dos resultados desfavoráveis, a participação foi um marco histórico para o país, ainda que o time de basquete iraquiano nunca mais tenha retornado a uma edição de Olimpíada. Na ocasião, eles ficaram com a 22ª colocação, com derrotas diante de Filipinas, Chile, Bélgica, Coreia do Sul, China, Suíça e Itália, nunca passando dos 30 pontos marcados por jogo.

Após enviar representantes aos Jogos de Londres-1948, o Iraque retornou ao evento apenas em Roma-1960. A nação não foi aos Jogos de Helsinque-1952 e boicotaram a edição de Melbourne-1956 devido à oposição à Crise de Suez.

Mas o retorno do Iraque aos Jogos ocorreu em grande estilo. O país contou com uma delegação de 21 atletas, novamente todos homens, para disputar a Olimpíada em Roma. E um desses esportistas, o halterofilista Abdul Wahid Aziz, voltou para casa com uma medalha de bronze na mala, conquistada na categoria peso leve. 

Foto: Reprodução/Chidlovski.net


Até hoje essa é a única medalha olímpica do Iraque. Mas não foi uma surpresa. Wahid Aziz começou sua jornada esportiva aos 19 anos, quando praticava futebol, basquete, natação e volêi. Mas foi no levantamento de peso que o polivalente mostrou talento de sobra. 

Apenas um ano após seu início na modalidade, Wahid Aziz ganhou a prata no Campeonato Iraquiano de levantamento de pesos. E não parou por aí. Venceu o Campeonato Árabe em 1957 e o Campeonato Asiático, no mesmo ano. Antes do bronze olímpico em Roma, ele foi bronze no Mundial, disputado em Varsóvia, na Polônia, em 1959. 

Wahid Aziiz morreu em 1982, sem ter participado de outra edição de Olimpíada após Roma-1960. Em sua homenagem, o Comitê Olímpico do Iraque fundou em 2014 o Campeonato Internacional de Halterofilismo Abdul Wahid Aziz. 

O sucesso iraquiano em 1960 não se repetiu nas edições seguintes. A crise atingia cada vez mais o país, que enviava cada vez menos atletas ao megaevento poliesportivo. Foram 13 em Tóquio-1964 e apenas três na Cidade do México-1968. 

Em protesto contra o Apartheid na África do Sul , o Iraque boicotou os Jogos Olímpicos de Munique-1972 e Montreal-1976, tornando-se apenas o segundo país de fora do continente africano a aderir o movimento, atrás apenas da Guiana. 

Quando voltou ao megaevento poliesportivo, em Moscou-1980, os iraquianos levaram sua maior delegação em toda a história olímpica, contando com a presença de 43 atletas. O país não conquistou medalhas, mas teve bons desempenhos com dois sétimos lugares no levantamento de pesos, um quinto lugar no boxe e uma quinta colocação no futebol masculino, caindo nas quartas de final diante a Alemanha Oriental por 4 a 0. 

A partir daí, a cada edição de Olimpíada a quantidade de participantes iraquianos caia cada vez mais. Até que chegaram os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Atenas-2004, outro marco na história do esporte do Iraque. 

A invasão liderada pelos Estados Unidos e as milhares de mortes 

Foto: Johan Charles Van Boers / Departamento de Defesa dos EUA


No dia 20 de março de 2003, uma coalizão formada pelos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Dinamarca e Polônia, contando com o apoio do Congresso Nacional Iraquiano, invadiu o país, no que se tornou o estopim para a a conhecida Guerra do Iraque

O conflito que tirou a vida de quase 200 mil civis no Iraque (dados não oficiais), teve como principal objetivo derrubar o governo de Saddam Hussein, com a alegação de que o ditador estava financiando o desenvolvimento de armas químicas e biológicas que poderiam ser fornecidas para grupos terroristas inimigos dos Estados Unidos. 

Inclusive, a Agência Central de Inteligência (CIA) afirmava constantemente que haviam indícios claros de que Hussein tinha envolvimento direto com a Al-Qaeda, uma organização fundamentalista islâmica, conhecida por ter assumido a autoria de diversos atentados terroristas ao redor do mundo. Entre eles, o ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center, no famigerado 11 de setembro de 2001. 

Além de tantas mortes provocadas, o conflito apresentou outro problema: um mês antes da invasão ao Iraque, a Organização das Nações Unidas (ONU) havia apontado que não existiam indícios de que o país estava fabricando armas de destruição em massa, desfazendo todo o argumento estadunidense para uma guerra. 

E é aí que entra o petróleo iraquiano. A nação asiática é a sexta maior produtora deste material no mundo, com 5% de toda geração no planeta Terra. Manter a Guerra do Iraque por quase dez anos trouxe muito lucro aos estadunidenses e seus aliados, já que isso determinou o controle de diversas reservas de petróleo. Por fim, a reconstrução do país foi toda feita por empreiteiras ligadas aos países da coalizão invasora. 

Hussein foi capturado em dezembro de 2003 e condenado à forca em 2006, por acusações relacionadas ao assassinato de 148 xiitas iraquianos em 1982. A execução ocorreu em 30 de dezembro de 2006. Sua ditadura foi responsável pela morte de aproximadamente 250 mil civis iraquianos

A redenção em Atenas-2004 


Em meio a tanto sofrimento com a guerra, a delegação olímpica do Iraque para Atenas-2004, foi composta por 24 atletas, 23 homens e uma mulher. A maioria dos classificados eram da equipe de futebol masculino do país, que superaria o desempenho de Moscou-1980. 

Com vitórias sobre Portugal, do promissor Cristiano Ronaldo (4x2), e Costa Rica (2x0) e apenas uma derrota, para Marrocos (2x1), o Iraque liderou o Grupo D do torneio olímpico, garantindo vaga nas quartas de final. 

No chaveamento os iraquianos encontraram a Austrália na partida de quartas e venceram mais uma vez, agora com o placar de 1 a 0. Estava ali a história. O Iraque garantiu sua vaga numa semifinal olímpica do futebol. 




A medalha não veio, após derrotas para o Paraguai (3x1) na semifinal e para a Itália do atacante Gilardino (1x0) na disputa pelo bronze. Mas conseguir superar uma guerra tão grande e lutar por um inédito pódio num esporte totalmente sem tradição, foi de fato algo muito significativo. 

Mas o conto de fadas não acabou por aí. Semanas depois, ainda em Atenas, o Iraque conquistou sua primeira medalha de ouro paralímpica. O halterofilista Faris Abed entrou para a história ao levar a bandeira de seu país para o ponto mais alto do pódio na categoria +100 kg masculino do halterofilismo. 

Na mesma modalidade, mas dessa vez na categoria 82,5 kg, Thaair Hussin ficou com a medalha de bronze, ficando atrás apenas de um atleta dos Emirados Árabes Unidos e outro do Egito. 

Sucesso paralímpico 


Se até hoje o Iraque aguarda uma nova medalha olímpica, o mesmo não pode se dizer dos esportes paralímpicos. Claro, o país ainda fica muito atrás no quadro de medalhas, longe de ser uma potencia, mas alguns atletas ja conseguem proporcionar momentos de alegrias bem intensos para o povo da nação. 

Ao todo são 13 medalhas conquistadas, com três títulos paralímpicos, incluindo o de Faris Abed. O primeiro pódio ocorreu lá em Barcelona-1992, com Ahmed Khalaf, no lançamento de disco THS3. 

A edição de maior sucesso dos iraquiano foi a Paralimpíada Rio-2016. Dos 14 atletas, cinco foram ao pódio. Kovan Abdulraheem conquistou o ouro no lançamento de dardo masculino F41, sendo acompanhado por seu compatriota Wilson Nukhailawi, que ficou com a prata. 

Garrah Tnaiash garantiu o segundo ouro iraquiano, agora no arremesso de peso masculino, classificação F40. Outras duas pratas foram conquistadas por atletas paralímpicos do Iraque na Rio-2016. Rasool Mohsin, no levantamento de peso 72 kg masculino e Ammar Ali, na esgrima para pessoas em cadeira de rodas, categoria espada b. 

Garrah Tnaiash, campeão paralímpico. Foto: Reprodução/Twitter 


A polêmica de Pequim-2008 


Como se já não bastasse todos os problemas que os atletas iraquianos passam devido à convivência com uma série de guerras e conflitos, eles quase não puderam disputar os Jogos Olímpicos de Pequim-2008. 

Isso porque o COI chegou a excluir o Iraque da Olimpíada de 2008 por causa de interferência política no comitê olímpico nacional e a disputa de poder entre sunitas e xiitas. 

Após cinco dias de negociações, o COI mudou sua decisão e reintegrou a delegação iraquiana aos Jogos Olímpicos daquele ano. Mas isso prejudicou muitos atletas. Dos sete que tinham se classificado, três ficaram de fora do megaevento que desembarcava pela primeira vez na China, por terem perdido o prazo de inscrição para suas competições. 


Esportes populares no Iraque 

+Futebol

Assim como em outros países, essa é a modalidade mais popular em terras iraquianas. A seleção nacional foi medalhista de ouro nos Jogos Asiáticos de Nova Délhi-1982, além de ter participado da Copa do Mundo FIFA de 1986, caindo na primeira fase, num grupo que tinha México, Paraguai e Bélgica. 

Em 2007, comandados pelo treinador brasileiro Jorvan Vieira, a seleção iraquiana conquistou o título da Copa da Ásia, superando todas as dificuldades geradas pela guerra, que impediu treinamentos e jogos no país. A base da equipe é aquela que foi quarta colocada na Olimpíada de Atenas 2004 e prata nos Jogos Asiáticos de Doha, em 2006. 

Desde 1974 o Iraque conta com uma liga de futebol, que leva o nome de Iraqi Premier Football League. O time de maior sucesso no campeonato é o Al-Zawraa, com 14 taças. Mas o atual campeão é o Al-Shorta, que ergueu o quinto troféu da liga em sua história. 

Foto: Al-Shorta SC


+Levantamento de Pesos

Das 195 participações de atletas que o Iraque acumula, 25 foram no levantamento de peso, modalidade responsável pela única medalha olímpica do país. 

Além claro, do bronze de Wahid Aziz, podemos destacar também o sexto lugar conquistado por Mohammed Yaseen Mohammed, em Los Angeles-1984, além da nona colocação obtida por Salwan Jassim Abbood, na Olimpíada Rio 2016. 

Atleta de destaque 

É importante ressaltar que até o momento da publicação deste texto, o Iraque ainda não conquistou vagas nos Jogos Olímpicos de Tóquio. 

+Safaa Rashed Al-Jumaili

Foto: Reprodução/Twitter 

Halterofilista da categoria até 85kg, ele participou dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, conquistando na ocasião a 11ª posição. Ele atingiu os níveis mais altos de sua carreira ao conquistar a medalha de ouro nos Jogos Asiáticos de 2018, disputado em Jacarta, na Indonésia. 

Seu melhor desempenho em campeonatos mundiais da modalidade também foi alcança em 2018, quando ficou com o sexto lugar. Além disso, Al-Jumaili foi medalhista de ouro nos Jogos da Solidariedade Islâmica em Baku, Azerbaijão, no ano de 2017. 


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