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Surto História: Agnes Keleti, a sobrevivente e campeã olímpica centenária


Imagine viver 100 anos. Ver a transformação do mundo, novos países surgindo, novos costumes sendo praticados, lidar com uma guerra que parecia interminável, crises mundiais de dinheiro e recursos naturais, evolução da ciência. A lista de coisas que dá para vivenciar em um século é enorme. Inclusive, dá para ganhar uma medalha e ouro olímpica também. Ou que tal cinco? A ex-ginasta húngara Ágnes Keleti conseguiu tudo isso e muito mais.





Keleti nasceu em Budapeste, capital da Hungria, em 9 de janeiro de 1921 e é atualmente a mais velha medalhista e campeã olímpica viva. Ao todo, a ex-ginasta, que completa 100 anos neste sábado, conquistou dez medalhas entre os Jogos de Helsinque 1952 e Melbourne 1956, sendo cinco de ouro, três de prata e duas de bronze. Ela é a segunda maior medalhista olímpica entre os judeus, atrás apenas do nadador Mark Spitz.





Na ginástica artística desde os quatro anos, Keleti parecia ter nascido para fazer saltos e piruetas. Aos 16 anos já era a campeã nacional da modalidade. Entre 1937 e 1956 ela tornou-se decacampeã da Hungria, sendo cotada entre os favoritos para diversos eventos esportivos, incluindo a Olimpíada de 1940. O problema era a forte escalada da Segunda Guerra Mundial, que cancelou as edições de 1940 e 1944.





Como se já não bastasse ter a carreira esportiva prejudicada pela Guerra, Keleti precisou alterar completamente o curso de sua vida. Seu país era aliado da Alemanha e da Itália, fazendo parte das potências do Eixo, o que levou a sua expulsão do clube em que treinava por não ser considerada ariana.





Ela precisou se esconder durante a guerra para sobreviver. Para isso, comprou documentos de identidade de uma garota cristã e passou a trabalhar como empregada doméstica num vilarejo.





Para evitar sua transferência para um dos campos de trabalho forçado dos nazistas, Keleti se casou às pressas com o ginasta húngaro István Sarkány, acreditando que aquilo tornaria menos provável sua captura. O divórcio ocorreu em 1950, após o término do conflito.





Com bravura, Keleti superou as dificuldades da guerra e sobreviveu. Sua mãe e irmã também sobreviveram, ao contar com o auxílio do diplomata sueco Raoul Wallenberg. Seu pai e seus tios, no entanto, não tiveram a mesma sorte e foram uns dos 550 mil húngaros com origem judaica mortos em Auschwitz e outros campos.





Na tentativa de reestabelecer sua vida pós guerra, Keleti voltou aos treinos, mas uma lesão no ligamento do tornozelo a tirou dos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. O relógio ia passando e a atleta perdia mais uma oportunidade de estar numa Olimpíada.





Mas novamente a húngara superou os obstáculos. Empilhou títulos nacionais, europeus e disputou até os Jogos Mundiais Universitários de 1949, já que trabalhava na Faculdade de Ginástica da Escola de Cultura Física de Budapeste. Neste evento, conquistou quatro ouros, uma prata e um bronze.





Até que aos 31 anos ela finalmente confirmou sua participação nos Jogos de Helsinque 1952. Em solo finlandês, Keleti subiu quatro vezes ao pódio olímpico, ganhando o ouro no solo, a prata na disputa por equipes e dois bronzes, um nas barras assimétricas e outro nos aparelhos portáteis.





Na Olimpíada seguinte, em Melbourne, 1956, Keleti já tinha 35 anos e atingiu seu auge, algo muito incomum num esporte que agride tanto o corpo e o psicológico, na busca pela perfeição. Além de manter o título olímpico no solo, a húngara subiu ao lugar mais alto do pódio nas provas de barras assimétricas, trave e aparelhos portáteis, garantindo quatro ouros. Ela ainda levou outras duas pratas, uma no individual geral (perdendo para Larisa Latynina) e outra por equipes.





Mas nem tudo estava indo bem. Durante os jogos de Melbourne 1956, a União Soviética invadiu a Hungria. Com isso, Keleti e outros 44 atletas húngaros decidiram permanecer no território australiano, pedindo asilo político ao término do evento. No ano seguinte ela se mudou para Israel e virou professora de educação física e mais tarde, aceitou o cargo de treinadora da seleção israelense de ginástica artística.





Neste tempo, Keleti foi introduzida no Hall da Fama da Ginástica Internacional em 2002, foi nomeada a 12ª atleta da Hungria em 2004 e além disso, seu nome foi dado a um asteroide, em homenagem feita pelo Minor Planet Center em 2014. No ano seguinte, resolveu finalmente voltar à sua terra, a Hungria, local onde mora até hoje.





Curiosidades do ano em que Ágnes Keleti nasceu





  • 1921 foi o ano em que o Cruzeiro Esporte Clube e o jornal Folha de S. Paulo foram fundados;
  • O Brasil completava 99 anos de independência;
  • Foi o ano da morte de Isabel de Bragança, a princesa imperial do Brasil.
  • Albert Einstein levou o Prêmio Nobel de física
  • Ano da proclamação da República da Turquia e da independência da Mongólia

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