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Coluna Surto Mundo Afora - Seguir o exemplo da NBA e ter uma 'bolha olímpica' em Tóquio, seria viável?





Por Bruno Guedes


Enquanto a nova onda da Covid-19 assola a Europa, o mundo do esporte aguarda com apreensão o futuro das Olimpíadas de Tóquio. Adiada de 2020 para o ano que vem, a intenção do COI e das organizações envolvidas era de que até julho de 2020, o coronavírus estivesse controlado. Dez meses após o primeiro registro da doença, isso ainda não aconteceu. Em meio às especulações, uma delas é sobre uma espécie de "bolha", aos moldes da NBA, para que atletas e envolvidos com o evento pudessem ficar. Mas isso seria possível?


A NBA, ao contrário dos outros esportes, achou uma saída criativa e radical para que pudesse ter a sua temporada quase que completa. Criou uma "bolha". Isolados na Disney, em Orlando, 18 hotéis foram reservados para os 22 times. O esquema de guerra, literalmente, teria custado cerca de US$ 170 milhões, algo que já se projeta ter sido maior, para financiar desde a estadia até os milhares de testes para a Covid-19.


Cada um que entra nessa "bolha", primeiramente fica isolado por 48 horas em seu próprio quarto e precisa testar negativo duas vezes para ser liberado para treinos e outros tipos de socialização apenas dentro do espaço estabelecido. Estão proibidas entradas de familiares e amigos, bem como as saídas dos membros, exceto para casos excepcionais como nascimento ou falecimento, por exemplo. Todos os jogadores e staff, que foram limitados a 37 integrantes por franquia, são testados diariamente pela noite, com seus resultados sendo liberados na manhã seguinte.


Ainda que pareça radical, a operação funcionou com perfeição. Nenhum caso foi detectado dentro desta "bolha", o que possibilitou que os jogos acontecessem sem nenhum problema por tal motivo. Bem diferente da MLB, a liga americana de beisebol, onde diversos atletas testaram positivo. O Miami Marlins, curiosamente do mesmo estado em que está o isolamento da NBA, teve 12 casos de Covid-19 no seu elenco e precisou adiar em vários dias a sua estreia. Outras equipes também tiveram o mesmo problema.


Com um exemplo tão positivo, entrou em pauta no meio esportivo se haveria viabilidade da recriação desta "bolha" para Tóquio. De fato, possibilidade há, mas isso dependeria de um esforço gerencial de uma mini cidade para que tudo funcionasse e provavelmente centenas de milhões de dólares na já catastrófica situação financeira das Olimpíadas. Vejamos o porquê: são estimados cerca de 12.750 atletas durante as competições. Fora o staff e toda a organização, voluntários e envolvidos indiretamente. Na liga de basquete, foram aproximadamente 900 pessoas, com esse número ampliado durante os playoffs.


Ao contrário da "bolha" americana, a de Tóquio poderia ocorrer na já construída Vila Olímpica, o que derrubaria drasticamente o valor de hospedagem ou gastos para tal. Ainda assim, a logística financeira seria exorbitante. Imaginemos que se implante a mesma metodologia de testagem que na NBA, diária e de todos os envolvidos. O impacto financeiro para testar quase 13 mil pessoas por dia, isso arredondando em números até inferiores ao que realmente devemos ver, seria fora da realidade. Além disso, seriam necessários aparatos ainda maiores de segurança, principalmente em estrutura médica e de profissionais de saúde.


Como o Surto Olímpico já trouxe aqui, o Japão tem uma quantidade de cerca de 1.700 testes para cada um milhão de habitantes, de acordo com o Worldometers. A empresa Fujirebio estaria comprometida a fornecer 200 mil kits por semana para acabar com o problema da pouca testagem. Números pífios para a amostragem e comportamento da bolha ser funcional. Com esta quantidade, apenas 23 dias e se 100% da testagem fosse integralmente para a "bolha olímpica". Para pleno funcionamento e preparação, as delegações precisariam de no mínimo 30 dias no local. Na Rio 2016, algumas chegaram no início de julho para a abertura somente no dia 5 de agosto.


Além desta possibilidade, outras periféricas deveriam existir para que tudo funcionasse perfeitamente. Além da ausência de público, o que já vem ocorrendo desde julho nos principais eventos esportivos, a própria imprensa e cidade teria que estar limitada em seu trânsito. Ao contrário da liga dos EUA, onde o complexo montado conta com arenas dentro da "bolha", as instalações olímpicas são fora da Vila. O que obrigaria o deslocamento de pessoas, atletas e todo o material de competição.


Entretanto, o protocolo seria ainda mais complexo. Estamos falando de pessoas do planeta toda. Para que essa "bolha olímpica" funcionasse, o rigor quanto a fiscalização e controles sanitários seriam tão difíceis quanto manter tudo em funcionamento. Um atleta que vem do Brasil, por exemplo, precisaria ficar em quarentena e ser testado antes mesmo de ingressar na Vila Olímpica. Fora isso, toda sua bagagem e material de competição obrigatoriamente passaria por higienização. E estamos falando de um competidor. Imaginem 13 mil!!!


De fato as Olimpíadas estão em apuros, por mais que tentem amenizar o assunto ou não questionar o seu cancelamento em definitivo. Ainda que tenhamos muitas opções, todas são tão complexas quanto o evento e caras para a combalida situação da Economia mundial. A única viabilidade realmente certeira seria a vacina. E esta, por enquanto, é apenas uma esperança. Assim como Tóquio 2020.


foto: Yahoo sports!

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