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A receita nordestina de sucesso dos atletas da região no futebol de 5



O futebol de 5 brasileiro tem fortes raízes no Nordeste, berço de algumas tradicionais instituições formadoras de atletas. Não à toa, o Instituto de Cegos da Bahia (ICB) é o maior campeão nacional da história, com sete taças, e a Seleção Brasileira atual conta com nove jogadores da Região. Mas é na comissão técnica que esse tempero nordestino ganhou ainda sabor e uniu a trajetória de cinco pessoas nascidas em Campina Grande para formar a "República da Paraíba". 

O precursor do grupo é o técnico Fábio Vasconcelos, de 46 anos, ex-goleiro da equipe e no comando do time nacional desde 2013. Tão logo pendurou suas luvas com o ouro paralímpico em Londres e recebeu o convite para dirigir a Seleção, impôs uma condição: o seu auxiliar teria de ser Josinaldo Sousa, o Bamba. 

"Comissão técnica é basicamente como uma família. Tem de ter pessoas da mais alta confiança, que se identificam com o treinador. E, é claro, ser competentes, vir para produzir. Quando assumi, levei Bamba de imediato, era uma das condições. Ele trabalhou bastante comigo e tinha vindo do profissional, sabia o que era o alto rendimento", conta Fábio, oito anos mais novo do que o colega.

Bamba, por sinal, é o mais experiente do quinteto. Quando trabalhava na preparação física da equipe de futsal da AABB de Campina Grande, conheceu o então goleiro Fábio. Lá se vão mais de duas décadas de convivência e amizade. Hoje, além de dividir treinos e estratégias da Seleção, ambos dão aulas no mesmo colégio (Alfredo Dantas) e são praticamente vizinhos.

"Facilita bastante. Estamos perto um do outro diariamente. Quando nos sentamos para conversar, resolvemos muita coisa juntos", explica o auxiliar, que além da preparação física comanda também o treinamento de goleiros da equipe.

O terceiro elemento foi convidado a se juntar ao dois logo em seguida. O fisioterapeuta Halekson de Freitas, 47 anos, também conhecia Fábio das quadras de futsal em Campina Grande. Na adolescência, haviam jogado juntos e em lados oposto da quadra. Muito tempo depois, veio o convite: "Em 2012, fui passar férias em João Pessoa e me encontrei com Fábio por lá. Tinha assistido a algumas partidas da Paralimpíada de Londres", relembra Haleks, chamado meses depois desse encontro.

Substituições na Seleção
Junto, o trio conquistou todos os títulos possíveis da modalidade: um ouro paralímpico (Rio 2016), dois Mundiais (Madri 2018 e Tóquio 2014), dois Parapans (Lima 2019 e Toronto 2015) e duas edições de Copa América (2019 e 2013). Ao seu lado, estiveram preparadores físicos, nutricionistas e outros profissionais que contribuíram com a trajetória vitoriosa da Seleção. O sucesso despertou a atenção do mercado e, pouco a pouco, algumas peças receberam convites para deixar o grupo. Era preciso repor as saídas.

Em 2018, o fisiologista Alexandre Silva foi uma das reposições. Quando criança, morava na rua de trás da casa de Fábio, mas os dois não eram amigos próximos. Mais tarde, já exercendo o cargo de professor da Escola Regina Coeli, teve Fábio como aluno quando o goleiro se arriscava também nas quadras de handebol.

"O Fábio queria uma pessoa com muita experiência na fisiologia e no futebol. Às vezes, não basta só o conhecimento técnico, é preciso ter experiência com a cultura da modalidade. E como trabalhei com futebol profissional em vários clubes do Nordeste, ele me convidou. Foi minha primeira experiência no paralímpico", conta Alexandre, de 52 anos.

No ano passado, foi a vez do caçula chegar à turma. Com 41 anos, Edson Júnior é o mais novo de todos. Curiosamente, por outro lado é também o mais vivido na modalidade. Começou como goleiro de futebol de 5 em 1999 e chegou a disputar o Mundial de 2002, no Rio, quando o Brasil acabou na terceira colocação – no ano seguinte, Fábio iniciaria sua trajetória como goleiro da Seleção.


"Nós nos conhecemos há mais de 20 anos, fizemos a graduação juntos, treinávamos juntos. Em 2007, tive de ir embora para Rondônia, foi quando cortamos pela primeira vez nosso laço de amizade", diz Junior.

Tóquio: novo teste para o Brasil
Os Jogos de Tóquio, adiados para 2021 por conta da pandemia do novo coronavírus, serão a primeira grande competição na qual a República da Paraíba colocará sua química para jogo. Quem é novato de Paralimpíada, como Alexandre, admite a ansiedade. Afinal, além de ser o principal evento do mundo, estará em disputa a invencibilidade do Brasil, ganhador das quatro edições já realizadas: Rio 2016, Londres 2012, Pequim 2008 e Atenas 2004.

Vale lembrar que o quinteto de Campina Grande ainda conta com a ajuda de uma paulista, a nutricionista Vivian Paranhos, nascida em Valinhos (SP). 

Fato é que, se o pódio vier novamente, a bandeira da Paraíba estará lá mais uma vez, orgulhosamente estendida nas mãos de Bamba, que a carrega para todas as competições.

Foto: Arquivo Pessoal

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