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Quatro anos da Rio 2016: Thiago Braz, o ciclo apagado de um herói olímpico


Dos sete ouros conquistados pelo Brasil nos Jogos do Rio em 2016, o mais inesperado certamente foi o de Thiago Braz, no salto com vara. Exatos quatro anos depois daquela noite histórica no Estádio Olímpico, o Surto segue revirando seus arquivos de reportagens para relembrar o feito do brasileiro e detalhar o apagado ciclo seguinte do atual campeão olímpico.

Thiago estava com 22 anos e chegava aos Jogos do Rio como franco-atirador. O jovem brasileiro havia sido prata nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2010 e campeão mundial júnior em 2012. Promissor, fez parte do projeto Vivência Olímpica, que levou jovens atletas para participar de experiências esportivas nos Jogos de Londres, em 2012. Antes das Olimpíadas, o paulista de Marília conquistou bons resultados na Diamond League (nas etapas de Lausanne, Roma e Paris). Chegou a quebrar o recorde sul-americano no início de 2016, com 5.93m.

No Rio de Janeiro, porém, Thiago sofreu para avançar à final. Na classificatória, errou os dois primeiros saltos para 5.45m e decidiu pular a altura para buscar uma única tentativa em 5.60m. Conseguiu. Na sequência, ainda saltaria 5.70m, marca que o garantiu entre os 12 finalistas.

Na decisão, Braz teria um adversário duríssimo. O francês Renaud Lavillenie era o atual campeão e recordista olímpico, além de ter vencido o Mundial Indoor cinco meses antes. O estadunidense Sam Kendricks, que liderou as classificatórias, e o canadense Shawnacy Barber, então campeão mundial, também despontavam como favoritos. Porém, como relatou ao Surto Erik Cardoso, que estava no Estádio, "Thiago queira mais, e sabia que podia mais”.

O que ocorreria no Estádio Olímpico naquela chuvosa noite de 15 de agosto de 2016 não estava nos planos dos atletas, dos torcedores ou dos especialistas. Thiago Braz surpreendeu o mundo ao saltar 6.03m, marca dez centímetros acima de seu antigo recorde pessoal e suficiente para superar os 5.98m de Lavillenie, que reclamou muitos das vaias dos brasileiros nas arquibancadas. Polêmicas à parte, os recordes sul-americano e olímpico foram batidos, e o primeiro ouro da história do Brasil no salto com vara, conquistado. Relembre os detalhes da campanha no texto de Regys Silva.

Braz celebra no pódio ao lado do medalhista de prata Lavillenie, à esquerda, e do terceiro colocado Kendricks, à direita (Foto: Edgard Garrido/Reuters)

Após a medalha inédita, o brasileiro não escondeu sua alegria e gratidão pela conquista. "Agradeço muito a Deus por tudo, por esse momento. As pessoas acreditaram em mim, estavam do meu lado me apoiando. Poder completar uma prova com recorde pessoal e recorde olímpico, ganhando medalha de ouro, é inexplicável”, disse na ocasião ao Globoesporte.com. Confiante, Braz ainda diria, em entrevista à Spikes, que o próximo objetivo era vencer o Campeonato Mundial de Atletismo. Porém, o ciclo do brasileiro viria a ser menos brilhante do que o esperado.

No início de 2017, Thiago obteve boas marcas na temporada indoor, vencendo o Meeting de Rouen com 5.86m, superando novamente Lavillenie, desta vez, na casa do francês. O restante do ano foi de decepções. O quarto lugar na Etapa de Xangai, na China foi seu melhor desempenho na Diamond League. O brasileiro chegou a passar em branco nas etapas de Eugene  e Rabat, e não competiu no Mundial de Londres, devido à má forma física.

Com a temporada abaixo do esperado, Braz desabafou nas redes sociais. O brasileiro reconheceu o mau momento e afirmou que “não era uma máquina”.

Lesões afastaram Thiago Braz do Mundial de 2017 (Foto: Wagner Carmo/CBAt)

Surte + Quatro anos da Rio 2016: o legado e a alma brasileira na cerimônia de abertura

O ano de 2018 foi igualmente decepcionante, com Thiago perdendo a liderança do ranking mundial já em fevereiro. Mesmo com o segundo título consecutivo do Meeting de Rouen - desta vez, com 5.90m, indoor -, Braz voltaria a passar em branco na Etapa de Eugene da Diamond League. O atleta também não obteve marcas na Etapa de Roma, foi quinto em Rabat, sexto em Londres e décimo em Bruxelas. O melhor resultado na temporada outdoor foi o salto de 5.70m, que lhe rendeu o título do Meeting de Rouen Outdoor, torneio menos importante.

No fim do ano, Braz anunciou que voltaria a treinar no Brasil, mas seguiria sendo orientado por Vitaly Petrov. O objetivo era fortalecer a preparação para 2019, visando a conquista do índice olímpico para Tóquio 2020 - que veio já em fevereiro, por ter obtido 5.80m em prova na França - e um bom resultado no Mundial de Doha. 

Depois de ir ao pódio pela terceira vez consecutiva no Meeting de Rouen Indoor - prata, com 5.65m - Thiago finalmente foi bem em uma prova da Diamond League no ciclo, chegando ao top 3 em Doha, no Catar. Na sequência, porém, o brasileiro passou em branco nas Etapas de Estocolmo e de Lausanne. A irregularidade continuaria: top 3 na Etapa de Mônaco, com sua melhor marca no ciclo olímpico outdoor (5.92m); seguido por um sétimo lugar em Zurique.

Com o fim da Diamond League, setembro reservava a Thiago a chance de se redimir no Campeonato Mundial. Em Doha, o brasileiro conseguiu chegar à final com o quarto lugar nas qualificatórias. Na final, porém parou nos 5.70m e encerrou sua participação em quinto lugar, mas  a 17 centímetros do bronze. 

Braz ficou em quinto no Mundial de Doha (Foto: Wagner do Carmo/CBAt)

A temporada de 2020, que seria olímpica, também tem sido conturbada para Braz. Devido a cortes de orçamento causados pela pandemia de Covid-19, o brasileiro foi demitido pelo Pinheiros. Além disso, em live no Instagram, a ex-saltadora Fabiana Murer atribuiu a ausência de bons resultados de Thiago a uma “crise motivacional”, como relatou Wesley Felix.

Nas primeiras competições pós-paralisação, o paulista anotou 5.50m no Encontro Triveneto, em Trieste (vencido por Braz) e na Etapa de Mônaco da Diamond League, na qual terminou em quinto e último lugar.

Ao mesmo tempo em que o ciclo não é bom, o brasileiro tem assistido seus adversários atingirem feitos expressivos, como o sueco Armand Duplantis, que quebrou o recorde mundial. Com o nome já na história pelo ouro olímpico, Thiago Braz busca provar que sua conquista não foi algo esporádico e que ele é, sim, um dos grandes nomes do atletismo mundial.

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Foto de capa: Gonzalo Fuentes/REUTERS






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