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Presidente interina da Federação Internacional de Levantamento de Peso se defende de acusações


A Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF) não vive dias fáceis. Na semana passada, Richard McLaren, professor canadense de Direito e membro da Agência Mundial Antidoping (Wada), divulgou relatório com compras de votos e acobertamento de doping pelo ex-presidente da IWF Tamás Aján. Pedidos de unidade e críticas ao Conselho da Federação Internacional foram direcionadas principalmente a Ursula Papandrea, atual presidente interina da Federação, que rebateu neste domingo (07) ao portal britânico "Inside The Games".

"Este Conselho ordenou a investigação e contratou McLaren. Este Conselho removeu Aján. Difamar agora a integridade de todo o Conselho é injusto. Trabalho sob pressão há vários meses, não estou sozinha nisso. Aproveitei a oportunidade que me foi oferecida e agora iniciei um caminho para a reforma", desabafou Papandrea que assumiu oficialmente a presidência interina em abril.

As críticas foram feitas pelo executivo-chefe da Agência Antidopagem dos EUA, Travis Tygart, a Global Athlete, representante mundial dos atletas, e pela Moira Lassen, ex-membro do Conselho da IWF. Segundo eles, o Conselho Executivo deve se afastar e permitir que um órgão independente administre a organização até a próxima eleição. O medo é que a corrupção, apontada como Aján sendo o grande pivô, seja sistêmica na Federação.

McLaren, que gerenciou o escândalo de doping da Rússia em 2015 e agora gerenciou esse grande escândalo no levantamento de peso, também criticou o ex-presidente Aján, dizendo que ele era "obcecado por controle" e que criou uma "cultura do medo" que prevaleceu na entidade mesmo após a sua suspensão em janeiro. Isso levou, segundo ele, a uma não cooperação generalizada com as investigações por parte de membros da IWF.

"No geral, encontrei uma organização que, por meio século, foi alvo de um líder autocrático e que criou vários mecanismos de controle em seu interior. A obsessão pelo controle criou uma cultura de medo, que acabou por inviabilizar uma vibrante e robusta administração esportiva. Encontramos falhas sistêmicas de governança e corrupção no mais alto nível na IWF. E essa cultura continuou mesmo após a sua renúncia. Apesar da requerida cooperação, somente dois vice-presidentes de cinco, excluindo a presidente atual, vieram falar. Dois de oito membros eleitos da mesa executiva e somente um de cinco presidentes de federações continentais apareceram. Um recusou quando procurado. O mais surpreendente foram os 20 presidentes de federações-membro ou secretários-gerais que foram contactados: somente quatro responderam, e um deu informações importantes" - disse McLaren.

Tamás Aján atuou na IWF por 44 anos. Desde 1976 ele possuía cargo na Federação Internacional - Foto: Divulgação/IWF

O relatório do professor McLaren dizia ainda que , quando Aján selecionava sua equipe, ele escolhia estrategicamente "indivíduos que são 'corruptos e que buscam status' ou completamente inconscientes e alheios ao que ele estava tentando realizar".

"Eu não sabia nada sobre a distribuição de dinheiro. Foi a minha primeira eleição", se defendeu Papandrea

Um dos membros do Conselho, Christian Baumgartner elogiou Ursula e afirmou que as críticas estão mal direcionadas.

" Ela está fazendo um bom trabalho. Ela é cautelosa com o que diz em público, mas tem uma imagem muito clara do caminho a seguir. Espero que ela possa aplicar suas ideias. Ela é a melhor escolha para a IWF no momento".

Ursula Papandrea deixou claro em entrevista ao Inside The Games o seu papel em desempenhar um esporte justo e feito para os atletas.

"Meu objetivo sempre foi construir um esporte melhor. Nunca fui partidário de ninguém, mas de uma filosofia de boa governança e de fortes políticas antidopagem". 

"Seria bom para o esporte se todos que desejam mudanças trabalhem juntos para esse fim, para que não continuemos a dividir o esporte de acordo com as linhas percebidas, de dentro ou de fora".

Quanto a ela e ao Conselho, Papandrea disse: "vamos fazer desta uma organização digna do status olímpico e do respeito dos atletas. Se não podemos fazer isso, ninguém precisa se preocupar, eu me afastaria por vontade própria. Eu trabalho apenas para o esporte e seus atletas", finalizou.

Fernando Reis foi 5º colocado na Rio 2016 - Foto: DAMIR SAGOLJ / REUTERS
Em uma reportagem feita em maio, também pelo Inside The Games, o superpesado brasileiro Fernando Reis, comentou a ajuda que Papandrea deu a ele e seu treinador para poderem competir após uma briga com a Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP).

"Ursula e Phill realmente me ajudaram, eles colocaram o atleta em primeiro lugar", disse Fernando citando outro membro do Comitê Executivo Phil Andrews.

"Ursula me disse: 'Estamos aqui para apoiar o atleta' e ela quis dizer isso. Eu disse a ela que adoraria copiar essa maneira de fazer as coisas no Brasil", comentou Fernando Reis.

O escândalo

A Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF) está sob investigação de compra massiva de votos nos dois últimos congressos eleitorais, acobertamento de pelo menos 40 casos positivos de doping e cerca de US$ 10 milhões (R$ 50 milhões) desviados. O escândalo veio a tona após a divulgação do documentário "Lord of The Lifters" da TV estatal alemã ARD

Tamás Aján, húngaro que presidiava a Federação desde o ano 2000, acabou afastado e depois renunciou pela pressão do Conselho Executivo e das investigações. Foi o fim de um ciclo ditatorial de 44 anos de reinado como secretário geral e presidente.

Ursula Papandrea

Uma das vice-presidentes, Ursula Papandrea - de origem latina - assumiu o cargo interino, sendo a primeira mulher na história a presidiar a IWF. Ursula já foi técnica de grandes nomes do esporte mundial e é conhecida por juntar culturas através do esporte. Em 2018 ela se tornou pioneira em um projeto de levantamento de peso no Irã, país onde até então as mulheres não podiam competir. Ursula também apoiou o CrossFit, o fenômeno fitness do século 21 que transformou o levantamento de peso em muitos países ao introduzir milhares de jovens no esporte.


Foto: Lifting Life/USAW

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