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SurtoRetrô do Rio 2016 - 19 de Agosto

Era o antepenúltimo dia dos Jogos. Aquela sexta-feira foi um pouco morna para os brasileiros que, depois de cinco dias consecutivos, não subiram no pódio. Mas, como sempre, cada dia dos Jogos Olímpicos é cheio de boas e bonitas histórias pra contar.

Sexta-feira, 19 de Agosto de 2016.

Um pouco parado, se tratando de competidores brasileiros, o décimo-sétimo dia de competições teve como principal resultado para os torcedores da casa a classificação da seleção brasileira de vôlei para a final da competição. O jogo era contra a temida Rússia, mesmo rival que proporcionou uma virada inacreditável contra o Brasil na final de Londres, ficando com o ouro. O jogo, que aconteceu às 10 da noite, foi aguardado com uma grande expectativa de ser bem difícil e parelho para ambos os lados. Se enganou quem esperou isso. Por 3 x 0 (25/21 25/20 25/17) e no seu jogo mais fácil no torneio - o primeiro sem perder sets - o time de Bernardinho "se vingou" dos russos e iria para a final tentar buscar o tricampeonato. A final seria a revanche de Atenas-04 contra os italianos, que venceram os Estados Unidos por 3 x 2.

No futebol feminino, infelizmente, a equipe do Brasil terminou os Jogos sem uma medalha. Na disputa do bronze, derrota para o Canadá por 2x1, o que frustou os sonhos de Marta, Cristiane e todas as outras meninas de um terceiro pódio olímpico para o futebol feminino do Brasil. Na final, a Alemanha venceu a Suécia pelo mesmo placar, conquistando o primeiro ouro olímpico da equipe bicampeã mundial.

Yane Marques, bronze em Londres 2012 no pentatlo moderno e porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura, não foi bem e terminou apenas em 22° lugar. Na prova, vencida pela australiana Chloe Esposito, nenhuma das favoritas chegou perto do pódio. A então campeã mundial, Sarolta Kovacs da Hungria, terminou em 16° lugar. A Campeã olímpica de Londres 2012 e favorita absoluta ao titulo, Laura Asadauskaite da Lituânia, teve problemas no hipismo e ficou tão pra trás na pontuação que mesmo batendo o recorde olímpico da prova combinada terminou a competição em 30° lugar, seguida de perto pela alemã Lena Schoneborn, campeã olímpica em Pequim e vencedora do mundial em 2015, que finalizou em 31°. Não foi o dia das favoritas no pentatlo moderno.

O taekwondo, talvez esporte mais democrático do programa olímpico fora o atletismo, mais uma vez marcou presença com histórias inéditas. Cheick Sallah Cissé da Costa do Marfim venceu, com um golpe no último segundo de luta, o britânico Lutalo Muhammed na final da categoria - 80kg e se tornou o primeiro campeão olímpico da história de seu país. O dia, aliás, foi ainda mais especial para os marfinenses, pois na categoria feminina -67kg a atleta Ruth Gbagbi conquistou o bronze, se tornando a primeira mulher de seu país a subir em um pódio olímpico. Antes desse dezenove de agosto (que deveria se tornar feriado no país africano) a Costa do Marfim possuia apenas uma medalha olímpica em sua história, a prata de Gabriel Tiacoh nos 400 metros rasos em Los Angeles-84. O ouro da categoria de Ruth foi para a coreana Oh Hye-ri.

No badminton, mais um ineditismo, vindo da jovem Carolina Marin. Ao vencer a final da categoria simples feminina sobre a indiana Pursala Venkata Shindu por 2 x 1,a espanhola se tornava a primeira não asiática a vencer essa categoria em Jogos Olímpicos. Então bicampeã mundial, a jovem de 23 anos confirmou o favoritismo perdendo apenas um set em todo o torneio, justamente na final.

Se no badminton e no taekwondo aconteceram conquistas inéditas, o mesmo não pode se dizer do nado sincronizado. Sem perder uma competição sequer desde 1999, as russas, lideradas por Svetlana Romachina e Natalia Ishchenko, se tornaram pentacampeãs olímpicas na prova por equipes. Vencedoras também do dueto, a última vez que a Rússia não levou a prova em Jogos Olímpicos foi com o ouro da equipe americana em Atlanta-96. No Rio, em ambas as provas, prata para a China e bronze para o Japão.

No Ciclismo BMX um mar de pessoas vestidas de amarelo estava apoiando a atleta favorita ao ouro na final olímpica. Os colombianos invadiram o Parque Olímpico de Deodoro para da suporte para Mariana Pajón, um dos grandes ídolos do país. A torcida deu certo e levou a jovem de 24 anos para o bicampeonato olímpico seguida pela americana Alise Post e pela venezuelana Stefany Hernandez. Jelle Van Gorkon da Holanda foi o único atleta de fora do continente americano a levar uma medalha na modalidade dos Jogos do Rio, conquistando a prata. O ouro da categoria masculina foi para Connor Fields dos Estados Unidos e o bronze para Carlos Ramirez da Colômbia, para delírio da multidão amarela que lotava a arena.

Uma história emocionante na final do salto individual no hipismo. Depois de sete edições de Jogos Olímpicos e um acidente em 2000 que quase o matou - Quebrou o pescoço ao cair de seu cavalo em uma prova e foi aconselhado a largar o hipismo - o britânico Nick Skelton, só de estar ali já possuia uma grande história. Provando verdadeiros valores olímpicos de nunca desistir do que se quer, realizou o sonho de se tornar campeão olímpico individual nos Jogos do Rio. Montando o cavalo Big Star, se tornou ainda, aos 58 anos,o campeão olímpico mais velho da história da Grã Bretanha. Uma das mais lindas histórias desta edição olímpica.

Enfim, o atletismo. Talvez a prova mais aguardada do mundo inteiro aconteceria na noite daquele dia e duraria menos de 40 segundos. Usain St Leo Bolt correria a última final olímpica da sua grandeosa carreira. O 4x100 masculino da Jamaica, que contava ainda com Nickel Ashmead, Asafa Powel e Yohan Blake não deu chances para os adversários e coroou Usain com seu oitavo ouro olímpico. O mito, junto com seus compatriotas, fez sua última volta olímpica com os olhos marejados e sob muitos aplausos de pessoas que estavam ali para ver sua despedida. A prata ficou para um surpreendente Japão e o bronze para o Canadá de Andre DeGrasse. Os Estados Unidos de Justin Gatlin e Tayson Gay errou uma das passagens e foi desclassificado. 

Se os americanos ficaram de fora do pódio entre os homens, entre as mulheres a coisa foi diferente. Ouro para o time formado por Tianna Bartolleta, English Garner, Tori Bowie e Alison Felix, deixando para trás a Jamaica de Elaine Thompson e Shally Ann Fraser Pryce e o bronze com a Grã Bretanha. 

A primeira final do dia no atletismo aconteceu pela manhã com um momento inusitado. Na final da marcha atlética de 50 km masculina, o francês e favorito ao titulo Yohann Diniz estava liderando com dois minutos de vantagem, mas teve problemas intestinais e estomacais durante a prova, que o fizeram parar para ir ao banheiro e desmaiar de tanta fraqueza pela desidratação provocada pelas diarréias. Mesmo assim terminou em oitavo lugar, em prova vencida pelo eslovaco Matej Toth. Outra final de marcha atlética, desta vez a feminina de 20km, também aconteceu pelas ruas do Pontal, coroando a chinesa Liu Hong como campeã. Os brasileiros Caio Bonfim (50km) e Érica de Sena (20km) conquistaram excelentes posições em suas provas, respectivamente nono e sétimo lugares. Voltando ao Estádio Olímpico, Ekaterini Stefanidi da Grécia venceu o salto com vara feminino, em final que poderia contar com Fabiana Murer,não fosse a lesão pré competição que a atrapalhou. Nos 5000 metros feminino,o Quênia provou seu domínio vencendo com com Vivian Cheruiyot. A outra final do dia com certeza deixou um país inteiro muito orgulhoso. O Tadjiquistão, país que pertenceu à União Soviética até sua dissolução em 1992, comemorava com Dilshod Nazarov o primeiro ouro da nação na história olímpica. A conquista veio com a vitória de Nazarov na final do Lançamento de Martelo, prova que contou ainda com o brasileiro Wagner Domingos em 12°.

Esporte de extrema tradição na Europa e na Argentina, mas desconhecido no Brasil, o hóquei sobre a grama teve sua final feminina disputada neste dia. Um dia após o ouro dos hermanos, Grã Bretanha e Holanda se enfrentavam pelo título entre as mulheres. O jornalista Bruno Guedes é quem nos dará o depoimento de hoje. Fã da modalidade, ele conta como foi aquela decisão disputada no Parque Olímpico de Deodoro entre duas das nações apaixonadas pela modalidade.


Por Bruno Guedes


Após duas semanas indo ao Parque Olímpico de Deodoro, aquela tarde de sol tímido era especial: a final do hóquei na grama feminino. De um lado a bicampeã Holanda, tentando alcançar a inédita terceira medalha de ouro consecutiva, do outro a quase zebra Grã Bretanha, buscando a primeira conquista dourada. E para uma ocasião especial onde dois reinos vizinhos se encontrariam, não poderia faltar nem mesmo a realeza. Até o rei da Holanda Willem-Alexander, e sua mulher, a rainha Máxima, deram uma passadinha por ali.

Era também o duelo que celebraria o fim de Eras no esporte. Lendas do hóquei holandês, Naomi van As, Ellen Hoog e Maartje Paumen, únicas remanescentes da Geração de Ouro que fez história com a Oranje, se despediam da Seleção. Pelo lado britânico, após o bronze em casa, uma nova leva de atletas se juntava a veteranas que alicerçaram o caminho que levou o time até ao posto de melhores do mundo.

Para mim, particularmente, era como estar acompanhando a final da Copa do Mundo. Foram oito anos de espera desde que assisti, pela TV e de madrugada, a histórica final entre Holanda e China, em Pequim 2008. Esperei tanto tempo por aqueles quatro quartos.

Arquibancadas lotadas, torcidas eufóricas. A britânica mais que a holandesa. Inclusive com um "Rei Arthur". Era Tom Mairs, namorado da defensora Samantha Quek. E foi ela a responsável pela primeira emoção do jogo. Cometeu um pênalti que Paumen não conseguiu converter. Talvez a muralha Maddie Hinch, melhor goleira do mundo, tenha intimidado.

Naomi van As, um dos meus ídolos no esporte, ali diante dos meus olhos e em uma das suas maiores atuações na carreira. Era Phelps na água, Bolt na pista e van As no campo. Driblava, lançava, deixava louca a fortíssima defesa da Terra da Rainha. Mas foi a Grã Bretanha quem abriu o placar com a jovem de 21 anos, Lily Owsley, no primeiro quarto. Sob pressão e fogo do poderosíssimo ataque holandês, Kitty van Male empatou o jogo no segundo. Naomi, na jogada seguinte, quase virou com bola na trave.

Enquanto todos seguravam o fôlego num jogo de muitas chances, Paumen se redimiu e virou a partida num pênalti curto, sua especialidade. Só que as valentes jogadoras de vermelho empataram com Crista Cullen, quase que na sequência. Como a Holanda imaginava, haja vista que tinha sofrido no Campeonato Europeu com as meninas da Grã Bretanha, o jogo era duríssimo. A goleadora Kitty van Male de novo colocou a Oranje na frente, mas por pouco tempo. Em outro pênalti curto, Nicola White deixou tudo igual e levou o jogo para as decisões nos shoot outs.

E aí, assim como o ouro, brilhou a estrela de Maddie Hinch. Atleta que atua no forte Campeonato Holandês, a goleira não deu chances às rivais. Holanda desperdiçou todas as cobranças e, mesmo com boa atuação da arqueira Joyce Sombroek, Helen Richardson-Walsh e Hollie Webb não. Grã Bretanha campeã. As holandesas estavam destronadas. Era o fim de um Geração. Era o Canto do Cisne de um time que, sob os braços abertos do Redentor, nos deu o privilégio de vê-lo de perto.

Foto: Getty Images


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