“Vida de atleta é assim.” A expressão não é em tom de lamento. Alguns
dos desportistas paralímpicos brasileiros do atletismo, halterofilismo e
natação, que há menos de dois meses estavam representando o país nos
Jogos de 2016 e vivendo o maior sonho da carreira, voltaram às pistas,
arenas e piscinas para competir na terceira etapa Nacional do Circuito Paralímpico, no último fim de semana, no Centro de Treinamento em
São Paulo.
Eles já estão voltados para o ciclo de Tóquio 2020. As
memórias das Paralimpíadas no Rio estão eternizadas, cada um guarda
momentos marcantes, mas novos objetivos estão traçados. Então é começar
tudo de novo.
“Estamos nos preparando para Tóquio, mas antes estamos nos preparando
para o Mundial do ano que vem (em Londres, no mês de julho). O tempo
está passando. Assim que acabaram os Jogos do Rio, a gente teve duas,
três semanas de folga... treinando. Depende do que você considera
folga”, comenta aos risos a velocista Verônica Hipólito, para
prosseguir: “Indo na academia de leve, só para não perder o físico.
Atleta nunca pára. Felizmente para uns e infelizmente para outros,
porque minha família e meu namorado já estão reclamando. Mas isso é o
legal, a nossa vida nunca está parada”, destaca a medalhista de prata
nos 100m e bronze nos 400m na classe T38 nos Jogos Rio 2016.
Os dias de descanso são importantes, segundo o halterofilista Bruno
Carra, quarto nos Jogos Rio 2016, para relaxar a mente e o corpo após um
período intenso de preparação. “Não só pelo fator psicológico, mas
nosso corpo não aguenta. A gente vive em dieta restrita, principalmente
para os Jogos, abdica de muitas coisas, não pensa em nada que seja
relacionado a problemas pessoais, coisas para fazer. Então, deixei tudo
para depois dos Jogos. Fiquei meses sem ver amigos, sem sair, tudo para
guardar energia. Treinava seis vezes na semana de forma intensa,
aeróbico diário para manter o peso, então quando se prepara muito tem
que dar um descanso”.
Mas nada que seja extravagante, afinal, se o atleta relaxa demais,
depois o tempo para recuperar a forma física será grande. “Fui viajar
com a minha esposa, mas logo após voltei à rotina de treinos e dieta,
preparando agora direto para Tóquio. Nosso esporte não tem como tirar
férias todo ano, porque quando tira perde muito tempo. Vamos supor, você
está levantando 160Kg, se tira 15, 20 dias de férias, volta fazendo
130, 140kg, demora meses para voltar a ter a mesma performance de
antes”, avalia Carra.
Os treinos mais leves, após alguns dias de descanso, também fazem
parte da rotina de fim de ano do nadador Ítalo Pereira, bronze nos Jogos
Rio 2016 nos 100m costas na classe S7. “A rotina pós-Jogos está
tranquila, estamos entrando em ‘destreinamento’ para começar o novo
ciclo. Os próximos anos vão ser puxados. Como será início de um novo
ciclo, os treinos tendem a ser maiores para fazer uma boa base”,
projeta, antes de revelar a maior dificuldade quando está de folga. “O
principal problema é com a alimentação. Tanto que depois das férias
fiquei um pouco ‘forte’ (risos). Faz parte, depois de um grande ciclo”,
brincou.
No entanto, há desportistas mais radicais, que prefeririam nem tirar
férias. É o caso de Alessandro Silva, ouro e recordista no lançamento de
disco na classe F11 nos Jogos Rio 2016. “Eu sou uma pessoa que não
gosta de férias. Acho que férias é quando morre. O descanso faz parte
para que o atleta evolua, mas é difícil pôr isso na cabeça, por mim eu
treinava 24 horas, mas precisa pausar, faz parte da recuperação do
músculo”.
Foto: Brasil 2016
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