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Longe da Superliga e da seleção, Jaqueline chora pela volta às quadras


Os olhos de Jaqueline se enchem de lágrimas. O marido Murilo tenta consolá-la, mas apenas consegue fazer a jogadora conter o pranto. A tristeza permanece e toma a bicampeã olímpica só de pensar na possibilidade de ficar mais uma temporada parada. Quase quatro meses depois de dar à luz o garoto Arthur, a ponteira luta para voltar às quadras e tem como maior adversária uma mudança nas regras da Superliga, que limita para dois o número de atletas de nível máximo por time - até esta temporada eram três. Aos 30 anos, Jaqueline teme não conseguir voltar a jogar em alto rendimento caso passe mais um ano parada.

- Não tenho opção. O Murilo tem mais um ano de contrato com o Sesi-SP. Eu não tenho direito de escolher para onde ir. Estou fazendo o que as pessoas querem que eu faça: ou ir embora do Brasil ou ficar mais um ano parada. Ficando mais um ano parada, como eu vou voltar? Eu já tenho 30 anos. Não é que eu vou me aposentar. Quero fazer o que eu gosto, que é jogar vôlei, mas a opção que eu tenho é essa. Parar eu não quero - disse Jaqueline.

Fora de quadra, o casal 20 do vôlei vive o sonho de ser pai de primeira viagem. Arthur dá forças para Jaqueline não jogar a toalha, mas ela parece estar longe de uma saída. Morar longe de Murilo, que tem vínculo com o Sesi até o meio de 2015, não é uma opção viável no momento, e não há equipes em São Paulo com investimentos para bancar uma bicampeã olímpica - excetuando os times que já têm duas jogadoras de nível máximo.

- Nós temos opções, mas não queremos por exemplo que eu jogue no Brasil e a Jaque vá morar na Turquia. É uma escolha muito difícil. Vai ficar mais uma temporada parada ou vamos ficar distantes? É algo que vamos ter de decidir nas próximas semanas. Ela está sofrendo muito por causa disso. Construímos a vida em São Paulo, tínhamos planos, e as coisas estão ficando difíceis por causa disso. Vai dar um jeito - disse Murilo.

''BRIGA DE CLUBE''

O ranking das jogadoras foi criado para equilibrar as equipes, apesar de na prática Osasco e Rio de Janeiro terem feito as últimas oito finais - as cariocas até já se classificaram para a decisão desta temporada, enquanto as paulistas disputam a semi contra o Sesi. Jaqueline, que jogava pelo Osasco e até está inscrita neste ano pelo time, é um jogadora de sete pontos. Só que a equipe tem também Sheilla e Thaisa de pontuação máxima, e os clubes votaram pela diminuição do limite de três para duas jogadoras de sete pontos por equipe. Murilo afirma que a medida, não adotada na versão masculina da competição, restringe o mercado para as estrelas brasileiras do vôlei e as afasta da Superliga.

- Hoje, o Sesi tem duas de sete pontos (Dani Lins e Fabiana), o Osasco tem duas e o Campinas também (Natália e Tandara). Só o Rio de Janeiro que poderia abrigar as outras duas, que são a Jaqueline e a Fernanda Garay (a ponteira está no vôlei turco). Para entrar em um time de São Paulo, ela precisaria de uma rotação ou de um patrocinador para investir em outras equipes. Não é a realidade no momento de hoje. Na minha opinião, ficou muito ruim para as jogadoras de sete pontos no feminino. Vamos torcer para mais patrocinadores aumentem o investimento nos times, porque temos quatro times para oito atletas, sendo que duas estão fora no momento. É o momento para valorizar as campeãs olímpicas e fazer com que elas fiquem no Brasil. Acho que estamos fazendo o caminho inverso - opinou Murilo, que ressaltou o fato de estrangeiras não serem pontuadas até a temporada 2013/14 e valerem cinco pontos a partir da próxima competição.

- Hoje, o Sesi tem duas de sete pontos (Dani Lins e Fabiana), o Osasco tem duas e o Campinas também (Natália e Tandara). Só o Rio de Janeiro que poderia abrigar as outras duas, que são a Jaqueline e a Fernanda Garay (a ponteira está no vôlei turco). Para entrar em um time de São Paulo, ela precisaria de uma rotação ou de um patrocinador para investir em outras equipes. Não é a realidade no momento de hoje. Na minha opinião, ficou muito ruim para as jogadoras de sete pontos no feminino. Vamos torcer para mais patrocinadores aumentem o investimento nos times, porque temos quatro times para oito atletas, sendo que duas estão fora no momento. É o momento para valorizar as campeãs olímpicas e fazer com que elas fiquem no Brasil. Acho que estamos fazendo o caminho inverso - opinou Murilo, que ressaltou o fato de estrangeiras não serem pontuadas até a temporada 2013/14 e valerem cinco pontos a partir da próxima competição.

A luta contra o ranking não é nova e parte de alguns atletas e alguns clubes. Segundo o diretor de competição de quadra da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Renato D’Avila, a entidade sugeriu o fim do sistema de ranqueamento em uma reunião com os clubes, em março, mas estes decidiram não apenas pela manutenção como também pela modificação que colocou Jaqueline em maus lençóis.

- Eles não querem fortalecer os times, eles querem que os outros não fiquem fortes. Existe essa briga entre os clubes. Estamos nivelando o campeonato por baixo, mas isso foge da nossa alçada - afirmou Murilo, que logo teve o apoio da esposa.

- Esse ranking só atrapalha nossas vidas, dos jogadores. Parece que somos mais valorizadas lá fora do que aqui no Brasil. É isso que estou sentindo agora. Tenho propostas de times do exterior, mas eu não quero deixar minha família. É briga de clube mesmo, é ego. O jogador que acaba se prejudicando. Infelizmente, os atletas não têm direito de opinar. Nós, que fazemos o espetáculo, não temos direito a isso.

Depois de saber da mudança, Jaqueline ainda tentou uma reavaliação da sua pontuação, já que cirurgias são avaliadas caso a caso. Ele enviou cartas aos clubes explicando a situação, mas apenas um time considerou que o parto cesariano merecia um decréscimo de um ponto para a bicampeã olímpica.

- É uma cirurgia muito delicada. Você não sabe bem como está por dentro. É complicado. Estamos buscando tanto isso, e chega uma hora que cansa, que eu falo: “amor, não adianta, não vão mudar”. Ninguém entendeu meu lado - lamentou Jaqueline.


 
DE OLHO NO RETORNO E NO MUNDIAl

Fora de quadra, Jaqueline faz tudo a seu alcance para recuperar a forma. Ele esperou os dois meses que os médicos pediram de resguardo para então começar a fazer academia e exercícios aeróbicos, como bicicleta e natação. Quase quatro meses depois do parto, a ponteira já perdeu mais de 10kg e só não começou a treinar com o Osasco porque o time está em ritmo intenso de fim de temporada. Ela está inscrita pela equipe paulista nesta Superliga, mas todos decidiram não apressar a volta para não colocá-la em risco.


- O que eu posso fazer no momento é a parte física. O que estou mantendo é isso. Não posso treinar, porque os times estão em final de temporada, então é complicado. Eu poderia estar treinando antes, mas muitas coisas aconteceram, e eu preferi ficar fora agora, baixar a poeira para pensar no que vai acontecer comigo.Há um ano sem jogar, a saudade só cresce. Ver os jogos do Osasco a faz sentir mais vontade de soltar o braço em pancadas precisas. Até torcer pelo marido mexe com Jaqueline.

- No jogo do Murilo (a final da Superliga Masculina), eu não parava de chorar. Primeiro pela emoção de ver o filho no pódio com o pai (o Sesi foi prata ao perder do Cruzeiro), que era o sonho dele, e também pela vontade de estar em uma final. Em todos esses anos eu participei de finais da Superliga. Ver os jogos das meninas é complicado. É a única coisa que eu sei fazer muito bem, é o que eu amo. É difícil, mas tenho de conviver com isso.

Sem saber em qual clube atuará na próxima temporada, Jaqueline se apega à esperança de voltar a defender a seleção brasileira. A equipe bicampeã olímpica vai se juntar no CT de Saquarema nos próximos meses para a preparação de olho no principal objetivo do ano: a conquista inédita do Mundial, que este ano será realizado na Itália, entre 23 de setembro e 12 de outubro.

- Fisicamente, ela está bem, está malhando. A parte técnica sabemos que ela se vira muito bem. Ela não precisará de muito tempo para voltar. A gente espera esse voto de confiança da comissão técnica. Seria uma bela ajuda a seleção estender a mão. Temos fé de que isso vai acontecer - disse Murilo.

Se for convocada, Jaqueline confia que pode entrar no ritmo rapidamente para brigar por uma vaga no time com Fernanda Garay, Natália, Gabi e outras ponteiras.

- Eu tenho esperança de jogar o Mundial. Se eu for convocada, vou querer disputar com as meninas. Eu não sei como vou voltar, mas estou fazendo o possível para me manter em forma e disputar uma vaguinha.

RIO 2016 EM RISCO

A presença na seleção que vai se preparar para o Mundial é uma grande esperança de Jaqueline, especialmente se ela ficar sem clube para a temporada 2014/15. Neste caso, ela teme ficar fora do grupo que tentará o tri nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.

- Com certeza essa situação me atrapalha para as Olimpíadas. Como eu vou pensar em 2016 se eu não consigo jogar? Não tem condições. Como o Zé Roberto vai me convocar se eu não vou jogar a Superliga? Esse ano ele pode ter o motivo de não me levar por causa da gravidez, mas e o ano que vem? Qual vai ser a “desculpa”? Não tem como pensar em Olimpíadas.

Não está claro o futuro de Jaqueline, mas, com o apoio de Murilo e de Arthur, ela mantém a esperança.

- Vamos ver no que vai dar. Vou lutar até o fim.


Fonte: Globoesporte.com

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