De olho em medalhas na Olimpíada do Rio, em 2016,
o Brasil tem seguido a fórmula dos "plastic brits", usada pelo Reino
Unido há quatro anos, e trabalha para naturalizar estrangeiros nos
esportes de pouca tradição. Com isso, o franco-brasileiro Ghislain
Perrier foi integrado à seleção brasileira de esgrima e já mostrou o seu valor ao ajudar a equipe de florete a faturar o ouro nos Jogos Sul-Americanos, no Chile.
Para o atleta, a busca por reforços que vivem na Europa é uma maneira
de ajudar a esgrima nacional a se fortalecer. "É totalmente positivo. O
objetivo para os Jogos Olímpicos é classificar as equipes para podermos
ter representantes nas provas individuais. Se a equipe não se
classifica, é muito mais complicado. É uma chance suplementar para o
individual", afirma.
Nascido em Fortaleza, Ghislain foi adotado por um casal de franceses e
deixou o Brasil quando tinha apenas um ano. Até hoje não conhece os
pais biológicos. 'Obrigado', 'de nada', 'eu gostaria' são algumas das
expressões que sabe pronunciar em português, mostrando pouco
envolvimento com a terra natal. O primeiro contato com os outros
esgrimistas brasileiros, como Renzo Agresta e Taís Rochel, foi durante
uma semana de treinamentos no Rio antes da viagem a Santiago. Apesar da
barreira da língua, ele se sentiu à vontade com os novos companheiros.
"Todos foram muito gentis", exalta.
E ele já tem dado uma boa impressão aos colegas. "Estou conhecendo
ele agora, mas acho que está vindo para agregar. A intenção é realmente
buscar os resultados pelo Brasil e parece que está bem motivado",
comenta Renzo.
Quando criança, o franco-brasileiro dava preferência aos esportes
coletivos, mas teve de deixar o futebol e o basquete de lado por sofrer
de asma. Ele conta que acabou na esgrima "um pouco sem querer" aos sete
anos e que foi se envolvendo com a modalidade com o passar o tempo. Aos
26 anos, pretende continuar com os treinamento no CTI Aubervilliers,
próximo a Paris, e participar de tempos em tempos de estágios no Brasil,
onde é licenciado pelo Pinheiros.
Ghislain acredita que dessa forma tem mais condições de evoluir ainda
que classifique o esporte na França como "confidencial em alguns
períodos". Ele explica que a modalidade ganha mais atenção durante os
Jogos Olímpicos, mas que no geral a visibilidade na televisão é mínima.
Apesar disso, não hesita ao comparar os dois países: "Com certeza a
esgrima na França é mais popular que a esgrima no Brasil."
O atleta aponta a Olimpíada de 2016 como uma ótima oportunidade para a
esgrima brasileira se desenvolver com o intercâmbio. "É importante
pelos estrangeiros que vão vir, será uma oportunidade para se mostrar." E
exibe motivação para ajudar o grupo nessa empreitada. Caso se
classifique aos Jogos e tenha um adversário francês, vai enxergá-lo como
qualquer outro estrangeiro. "Um francês será como um inglês e um russo.
Antes eu representava a França, mas hoje defendo a equipe do Brasil",
afirma.
Foto: Divulgação/Jaime Lopez
Fonte: Estado de São Paulo/Nathalia Garcia
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