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Jornal americano vê alto risco de doenças em provas na água em 2016






O curto prazo para entregar o Complexo de Deodoro antes das Olimpíadas de 2016 foi considerado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, como o calcanhar de Aquiles dos Jogos Olímpicos. Essa, porém, não é a preocupação do jornal americano "The Washington Post". Em matéria publicada nesta quarta-feira, o diário mostra grande temor pela saúde dos atletas e turistas que vão competir e visitar as instalações olímpicas que receberão disputas na água, como a Baía de Guanabara, a praia de Copacabana e a Lagoa Rodrigo de Freitas. De acordo com levantamento do jornal, nas águas ao redor do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, onde ficava o autódromo de Jacarepaguá, a média de poluição fecal é 78 vezes maior que o limite satisfatório do governo brasileiro. Pelos critérios adotados nos Estados Unidos, esse número chegaria a 195 vezes acima do tolerado, segundo a reportagem.

Enquanto as autoridades brasileiras trabalham com a intenção de reduzir em 80% a poluição em locais como a Lagoa Rodrigo de Freitas, que receberá o remo e a canoagem, a Baía de Guanabara, onde serão disputadas a vela e o windsurfe, e a Praia de Copacabana, local das provas da maratona aquática e do triatlo, especialistas procurados pelo "The Washington Post" garantem que a saúde dos atletas corre risco. O medo também abrange o Parque Olímpico: a reportagem diz que 70% do esgoto do Rio de Janeiro não são tratados e quase 100% dos resíduos lançados vão diretamente para as águas que rodeiam o local.
- As altas concentrações de dejetos humanos sem tratamento significam que existem  organismos causadores de doenças na água. Se eu fosse participar, gostaria de ter certeza de que todas as minhas vacinas estão em dia - disse ao "The Washington Post" Casey Brown, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de Massachusetts.

De acordo com a publicação, a Praia de Copacabana, por exemplo, recentemente teve o nível de coliformes fecais 16 vezes maior que o recomendado. A Lagoa Rodrigo de Freitas é lembrada pelas toneladas de peixes mortos. O texto diz ainda que na Baía de Guanabara, que tem como única saída da água poluída uma estreita passagem para o Oceano Atlântico, é comum ver sofás e máquinas de lavar boiando, além de restos de chorume (lixo em decomposição) do maior aterro sanitário da América do Sul, fechado apenas em 2012.  A reportagem alerta para o risco de que competidores venham a colidir com objetos que flutuam e possam ingerir água infectada.
- Não há nenhuma maneira de trabalhar nessas águas. Onde você está, literalmente, há um profundo cheiro e partes de fezes em alguns lugares, e ninguém tem medo dos efeitos sobre a saúde. Mostre-me o atleta olímpico que vai ter a coragem de entrar em águas como essas -  declarou o professor de Ecologia Ricardo Freitas, que tenta salvar jacarés em áreas urbanas e já foi mordido por um, ficando infectado por conta da sujeira.

O jornal alerta que especialistas garantem que a velocidade dos trabalhos no Rio de Janeiro andam no ritmo de um caracol e que grande parte das medidas são um paliativo, como por exemplo as Unidades de Tratamento de Rios, que seriam caras e usariam caminhões para retirar grande parte do lixo acumulado, levando os mesmos para aterros sanitários. Além disso, o município e o estado estariam trabalhando com dez barcos que fazem o monitoramento e a limpeza de dejetos maiores na Baía de Guanabara, e com ecobarreiras, que são presas com redes e evitam que os detritos maiores passem.
Atletas olímpicos brasileiros já mostraram preocupação com a situação da Baía de Guanabara e outros locais. Campeão mundial de windsurfe em 2007, o velejador Ricardo Winicki, o Bimba, reforçou as palavras do multicampeão olímpico Lars Grael, falando até de cadáveres na baía. Na opinião dele, a modalidade deveria ser disputada em Búzios.

- Olimpíadas em Búzios não é pelo vento e sim por falta de opção no Rio de Janeiro. Não é apenas o golfe que não tem campo, a vela não tem onde ser realizada no Rio. A Baía de Guanabara é uma central de tratamento de esgoto desativada. Vai ser uma pena ver atletas do mundo todo desviando de sofás, porta de geladeira, televisão, animais e seres humanos boiando, como se vê com frequência. É Búzios!! - disse o atleta na época, defendendo a mudança da competição de local, sem sucesso.

Não é de agora que o Comitê Olímpico Internacional enfrenta problemas com o fator ambiental. Em 2008, em Pequim, os chineses não conseguiram resolver o problema com o ar poluído, bastante criticado por atletas e autoridades internacionais. As Olimpíadas de Inverno de Sochi 2014, na Rússia, também são alvo de reclamações. De acordo com relatórios, os Jogos teriam problemas com restos de materiais usados em obras, que estariam sendo jogados em florestas e rios da região.

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