É pegar a bola e pronto!” A paraibana Mayssa não precisa de muitas
palavras para definir sua função em quadra. Não importa se com a mão, o
pé, a barriga ou até mesmo a cabeça, a goleira tem de defender sua meta.
Ela e Babi não medem esforços para guardar bem o gol da seleção
brasileira de handebol. Contra grandes adversárias de arremessos
potentes, elas “explodem”, crescem para fazer defesas incríveis e vibram
quando recebem uma bolada. Como vibram! Um êxtase similar ao de marcar
um gol. A dor fica para depois. A dupla tem uma missão maior: dar
sequência ao histórico de grandes goleiras brasileiras, que se iniciou
com Chana Masson.
"A Chana é minha inspiração no handebol. Desde pequena a via jogando e
tinha o sonho de ir para as Olimpíadas com ela, consegui realizar isso
em Londres (no ano passado). Ela foi muito importante na minha vida para
eu chegar a ser profissional" - disse Mayssa.
Tetracampeã dos Jogos Pan-Americanos, Chana está à frente da seleção
desde 1998, disputando as últimas quatro Olimpíadas. Ela foi a primeira
brasileira se aventurar no handebol europeu e foi eleita a melhor
goleira do Mundial de 2011, realizado no Brasil. Aos 34 anos, a jogadora
ainda está ativa, defende o dinamarquês Randers e tentará defender a
seleção nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. É cedo para dizer se ela
conseguirá se manter em alto rendimento, a goleira não está no atual
elenco verde-amarelo. Certo é que Chana não deixará seu posto órfão.
Babi e Mayssa despontam como grandes herdeiras.
"É um orgulho ser sucessora da Chana. Ela tem uma história no handebol
brasileiro que nenhuma jogadora tem até hoje. Temos uma relação de
amizade muito boa. Mas não estou aqui para substituí-la, quero encontrar
meu espaço. Quero ser a Babi."
A goleira de 26 anos, que defende o austríaco Hypo, já deixou a sua
marca na seleção. Durante o Mundial de 2011, ela arriscou um arremesso
da sua área e conseguiu fazer um gol no último segundo, garantindo a
vitória brasileira sobre a Tunísia. Na mesma competição, ela repetiu a
dose diante da Costa do Marfim. Só que gols de goleiras são raros. Babi e
Mayssa estão acostumadas a sofrer com as boladas, mas gostam disso.
"Gostamos de tomar pancada. Não é loucura. É paixão. Se estamos tomando
bolada é porque estamos fazendo bem nosso trabalho. Já fiquei com olho
roxo, dor de cabeça, mas convivemos com isso. São ossos do ofício" - diz
Babi, que foi parar no gol aos 12 anos por ser muito ruim na linha e
adorou a mudança.
"Nunca desmaiei, mas já levei muita pancada na cabeça e na barriga de
ficar uns minutos zonza. É assim mesmo. Leva na cabeça, na barriga, mas o
importante é pegar a bola (risos). Goleiro é uma posição especial.
Precisa ter muita coragem" - completa Mayssa.
A paraibana de 28 anos, que agora defende o russo Dinamo Volgorad,
precisou de coragem para assumir ser bissexual durante os Jogos de
Londres, assim como precisou ser destemida para trocar sua terra natal
pela Europa com apenas 20 anos e sem escala em equipes do sul ou do
sudeste do Brasil, que têm mais força no handebol nacional.
Mayssa, aliás, já tem um título de campeã mundial, só que no handebol de
praia. Ela esteve no time brasileiro que levantou a taça no Mundial de
2006, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Foi nas areias que a goleira, fã
de Taffarel, deu seus primeiros passos na modalidade. Só que o desejo
de disputar as Olimpíadas a levou para as quadras.
Fonte: Marcos Guerra/Globoesporte.com
Foto: Marcos Guerra
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