Últimas Notícias

Vôlei Futuro: incerteza e omissão que dói






Sabe quando o silêncio dói? Quando a cidade vive uma dúvida que parece nunca ter resposta? Isso é o que está acontecendo em Araçatuba (a 527km de São Paulo) nos últimos meses sobre a situação do Vôlei Futuro, desde a desclassificação da equipe masculina na Superliga 2012/2013, em março.

A cidade de aproximadamente 185 mil habitantes, que respira o vôlei desde a criação do projeto Vôlei Futuro, idealizado e financiado pela empresa Reunidas Paulista, segue órfã do esporte e sem esperanças que ele continue. Pelo menos é o que afirmam a maioria dos torcedores - alguns indignados - com a omissão da diretoria do clube, que não se manifesta para transferir um posicionamento definitivo ou para tranquilizar quem sempre apoiou o clube. Na verdade houve uma manifestação, sim, por parte dos dirigentes do clube, que preferiram dispensar o elenco e a comissão técnica em abril, assumindo a crise e deixando os profissionais livres para negociarem com outras equipes. Mas tudo internamente, sem barulho.

O VF não enviou representantes para a reunião da Superliga, em São Paulo, no início do mês e, segundo informações apuradas pelo Surto, ainda trabalhava para buscar um patrocínio de médio porte que tenha interesse em bancar os custos do clube para a disputa do torneio nacional. Porém, a situação piorou e já parece definida após o anúncio da saída de Cezar Douglas para o São Bernardo, que surgiu como treinador no próprio projeto do Vôlei Futuro em 2002 e assumiu a equipe profissional em 2006. A dispensa de Douglas, que ficou 11 anos no comando da equipe, só reforça a tese de que o Vôlei Futuro deixará de existir.

Para piorar, outros indícios mostram que o clube está sufocado internamente. A loja do clube no ginásio Plácido Rocha não funciona desde o ano passado e não se ouve falar em nenhum novo rumo para a equipe masculina. O site oficial do clube também está fora do ar.

A realidade é que, em Araçatuba, todos pecaram. Digo porque vi, in loco, quando cobri as equipes femininas e masculinas durante as temporadas 2010/2011 e 2011/2012, onde ambas se tornaram campeões estaduais e a equipe masculina conseguiu chegar na decisão da Superliga. Viajei com a torcida para São Bernardo do Campo no jogo contra o Sada/Cruzeiro, na decisão da Superliga, e todos apoiaram calorosamente a equipe, tanto na ida, quanto na volta, apesar da derrota para os mineiros.

Na temporada seguinte, esta última que passou, já com um investimento reduzido e poucos jogadores consagrados, a torcida também deixou de apoiar o clube e de prestigiar o time na competição. O ginásio vivia vazio e, com o corte da verba dos direitos de transmissões televisivas do canal SporTV, lutava para manter a equipe com um orçamento consideravelmente menor.

Mais importante ainda que a existência da equipe profissional é o Projeto Vôlei Futuro, que beneficiava centenas de crianças e jovens de Araçatuba oferecendo o voleibol como iniciativa de inclusão social e cidadania às classes menos favorecidas. A cidade, que possuía sete centros de formação de atletas teve seis desativados. Apenas um ainda funciona, mas sob a administração da Prefeitura Municipal.

É nesta melancolia e com este sentimento de desgosto e decepção que um clube que contribuiu tanto para o voleibol brasileiro pode fechar as portas. Não existem culpados nisso. Na verdade o único culpado é o empresariado brasileiro e a sociedade do nosso País que não acredita e não tem interesse em enriquecer um esporte onde somos tão vitoriosos quanto o futebol. Mesmo com toda a estrutura do Vôlei Futuro, que conta com uma academia moderna e equipada (Uniprefe), um ginásio confortável e bem estruturado a boa localidade geográfica da cidade, o clube segue com dificuldades em conseguir patrocinadores para se manter na elite do voleibol nacional.

Nesta semana, o maior ídolo do clube e responsável pelo crescimento da equipe, o levantador Ricardinho, criticou a falta de comunicação com os diretores do clube desde que seu contrato terminou, em abril, e praticamente confirmou sua saída do clube. O silêncio do astro, até a semana passada, era a maior esperança de continuidade do clube por parte da torcida do VF. Porém, Ricardo já conseguiu bons patrocinadores e montará uma equipe de vôlei em Maringá-PR para tentar integrar o voleibol na cidade, que possui cerca de 350 mil habitantes.

O Surto entrou em contato com a assessoria do Vôlei Futuro e questionou se o clube vai continuar suas atividades na próxima temporada, mas não obteve resposta. A impressão que fica é que a equipe masculina do Vôlei Futuro deve deixar de existir sem muitas explicações, assim como a equipe feminina, em 2012. Sem maiores explicações, sem a permanência do ídolo, sem o maior motivo de orgulho esportivo da cidade nos últimos anos.

0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar