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O tamanho do espetáculo






A Confederação Brasileira de Voleibol vai testar, na próxima temporada, o novo sistema de pontuação da Federação Internacional de Vôlei, que limita a 21 o número de pontos para se determinar o vencedor de um set – com a vantagem mínima de dois pontos. A FIVB, que é dirigida pelo presidente licenciado da CBV, o brasileiro Ary Graça, diz que a mudança torna o jogo mais atrativo para a TV – a velha ideia de que partidas longas fazem mal à grade de programação.

Essa subserviência do esporte à TV não me agrada em absolutamente nada. Pode ser (pode ser!), até, que a beleza do jogo não se perca pelo corte de quatro ou cinco minutos no tempo de disputa de um set. Mas fica claro que, quando se trata de disputar espaço de televisão, a opção do vôlei é meramente por encurtar seu tempo de exibição, diminuir a exposição do esporte e das marcas que investem nele, quase como se pedisse desculpas pelo jogo transmitido.

Olhando apenas para o umbigo brasileiro: o vôlei não saiu ganhando quando a Globo determinou que as finais da Superliga fossem disputadas em jogo único, em oposição aos play-offs melhor de três nos dois mata-matas anteriores. E não ganhou nada, porque a própria Globo limita suas exibições da liga a algumas manhãs de sábado de março e abril, respeitando a transmissão dos treinos livres da Fórmula 1, é claro. Se a TV estiver esperando sets mais curtos para inserir, de vez e na vera, o vôlei em sua programação, é porque compromisso com esporte é balela mesmo – e, francamente, duvido muito de que isso aconteça, porque o caso (ou descaso) não é esse.

A modalidade (olhando, ainda, apenas para o Brasil) precisa de muito mais do que de menos tempo de jogo para ganhar as antenas comuns. Precisa de um ranking mais eficiente de atletas, que não permita que dois times, como Osasco e Sesi, concentrem seis das sete titulares da Seleção campeã olímpica em Londres, e de fair play financeiro, para que projetos como o do Vôlei Futuro não mínguem pela concorrência quase desleal do RJX e do próprio Sesi; precisa de ginásios sem goteiras, de arbitragens melhores, de jogadores que apitem menos e pontuem mais; precisa avançar pelo território brasileiro – ainda hoje, o Sport foi o único clube do norte-nordeste a se aventurar numa Superliga –; precisa, aliás, da participação de mais clubes de tradição e camisa, como o Cruzeiro ou o Sport, porque precisa de torcidas mais apaixonadas e precisa de rivalidade – ou alguém conhece, no vôlei brasileiro, outro clássico além de Osasco e Unilever?

Olhe para o vôlei europeu e diga se sets de 25 pontos são excessivos. A atmosfera dos ginásios não é de gritinho pelos sacadores, mas de paixão pelos clubes. Veja a Champions League: os torcedores fanáticos na Turquia, a festa bonita dos poloneses nas arquibancadas, a força inquestionável de russos e italianos dentro de quadra. Sim, comparo a Superliga com a Champions League porque o vôlei brasileiro mantém por aqui quase todos os medalhistas do país nas três últimas olimpíadas, tem dinheiro para contratar estrangeiros do nível de Leal, Logan Tom, Hooker, Sarah Pavan, Sykora, mas não consegue se tornar atrativo para a TV aberta.

O que está errado, aposto, não vai ser corrigido pela diminuição dos sets. Não é aparecendo menos que o vôlei vai crescer mais.

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