Últimas Notícias

"Rumble on the Rails", um espetáculo único em Nova Iorque

Foto: Elsa/Getty Images

O "Rumble on the Rails" ("Distúrbio nos Trilhos", em tradução livre), espetáculo baseado em luta olímpica tinha de tudo. O cenário montado no terminal Grand Central, no metrô de Nova Iorque tinha como espectadores desde atores a muitos iranianos barulhentos na plateia (o Irã é uma das maiores forças da modalidade) agitando bandeiras e tocando diversos instrumentos. Uma cortina preta separa o espetáculo da grande muvuca diária na estação (estima-se que 750 mil pessoas passem pela estação Grand Central diariamente).

O cenário é, certamente, único. E íntimo, também. Dentro do Vanderbilt Hall - que se assemelhava a um ginásio escolar, os organizadores fizeram dois lances de arquibancada, em cada lado do ringue, atrás da chamada "área VIP", com capacidade para 700 espectadores.

Os seguranças tentavam expulsar os barulhentos iranianos do ringue após o seu país aplicar 6 a 1 nos atletas da luta olímpica dos Estados Unidos, mas não conseguiram. Eufóricos, cercavam um homem suado, que é chamado por muitos como o "Michael Jordan do wrestling", aonde só o futebol é mais valorizado do que a luta. Além de uma palavrinha com o campeão, eles buscavam autógrafos e fotos.

"Nossos heróis são os wrestlers", declarou Pouyan Mashayekh, de 40 anos, nascido no Irã, mas há 12 morador de Nova Iorque. Ele estava tão extasiado, tão animado que ainda suava meia hora depois do fim do show. Durante o evento, os compatriotas de Pouyan cantavam em ritmo Farsi, bem complicado de ser entendido, algo como "Estamos orgulhosos de vocês" ou "Ótimo trabalho!"

"Me senti em casa", declarou outro iraniano, Reza Razavi.

Os gritos podiam ser ouvidos no saguão principal da estação. O guia turístico falava sobre a agitação: "Grand Central foi adicionada ao Registro Nacional de Lugares Históricos em 1976!" a um grupo de 20 estudantes canadenses.

Perguntado sobre o encontro de wrestling, o guia chamado Brian virou a cabeça bruscamente e disse: "É isso aí?".

"Eu amo essa barulhada", disse uma dos estudantes, de Vancouver. O passeio do grupo continuou, com Brian a prometer mostrar os segredos da Grand Central na próxima parada.

Salvo os gritos dos iranianos, o zumbido "entrosa-se" bem com a agitação diária dessa estação de 100 anos de história. Os transeuntes prestaram quase ou nenhuma atenção naquilo que tinha atrás da cortina preta. O que importava eram os horários dos trens, 16:34 em New Haven, 16:45 para Poughkeepsie, 17:20 para New Rochelle.

O Vanderbilt Hall não é nada estranho para "eventos estranhos". Aquele lugar com cinco candelabros de ouro brilhante e mármore rosa na superfície já presenciou um evento de boliche que premiaria o vencedor com uma bolsa de estudos avaliada em US$ 64 mil. Todo ano, no mês de janeiro, por uma semana, o lugar sedia o maior evento de squash do mundo. E astros do boxe, como Vladimir Klitschko e Laila Ali também treinaram naquele lugar.

O evento fora por meses planejado. Com o nome "Rumble on the Rails", esse evento era mais uma das ações feitas pelos entusiastas da luta olímpica com o objetivo de evitar a saída do esporte do programa dos Jogos Olímpicos de 2020. Mas, segundo uma porta-voz da empresa privada que cuida da estação Grand Central, o evento durou apenas um dia. O custo? "US$ 25 mil para alugar o salão", declarou Marjorie Anders, a porta-voz.

Depois do Irã, os Estados Unidos lutaram contra a Rússia, cujos lutadores mostravam solidariedade com a causa usando camisas e bonés pretos. Um dos lemas era "Wrestling, mantenha o sonho vivo". Nos bonés, em russo: "Continua..."

A decisão sobre o futuro do wrestling nos Jogos Olímpicos sairá em setembro. A realeza do wrestling norte-americano tem marcado presença para evitar a saída da luta do maior evento esportivo do mundo. O medalhista de ouro olímpico em Sydney-2000, Rulon Gardner (o primeiro a derrotar o russo Alexander Karelin após 13 anos de invencibilidade do mesmo) que é professor de educação física, agora também é comentarista de luta da NBC.

O medalhista de ouro em Atlanta-1996, Kurt Angle - e que há 13 anos luta no wrestling profissional (ex-WWE e agora, lutador da Total Nonstop Action) sempre opina sobre a questão antes de suas lutas, defendendo a manutenção da luta nos Jogos Olímpicos. "Estamos em uma maldita estação de trem. Quem teve esta ideia é um gênio, na primeira vez que escutei sobre isso pensei que fosse piada... eu disse: 'O que farão para garantir a segurança'".

Boa pergunta.

"Por razões de segurança, não faremos comentário", disse o supervisor de segurança da Grand Central, sem se identificar.

Outros endossaram as palavras de Kurt Angle: "Havia preocupação com a segurança por conta das nações envolvidas", declarou Marjorie Anders.

Celebridades fora do wrestling, incluindo atores como Billy Baldwin - que estava com sua camiseta "Save The Olympic Wrestling" (Salvem a Luta Olímpica) e Mark Ruffalo estavam por lá. "Eu estou agindo como um maldito publicitário por trás das cenas", disse Baldwin, que listou Mario Lopez, Matthew Modine, Tom Arnold, Randy Couture e Jon Jones como visitantes do encontro Estados Unidos-Irã, que acontecerá neste domingo, em Los Angeles.

Harry Kelly, o superintendente de serviços do Grand Central, saiu de seu escritório para dar uma olhada por trás dessas cortinas pretas. Desde 1973, Kelly trabalha naquele local movimentado. Dois dias no Grand Central destacam-se - 11 de setembro de 2001, é claro, e 24 de fevereiro de 1980. Em 1980, Kelly lembra de ter sido obrigado pela emoção a entrar no sistema de comunicação.

"'Atenção por favor'", disse ele ao terminal. "'Os Estados Unidos derrotaram a Finlândia, e acabam de ganhar a medalha de ouro."As pessoas pararam, largaram as malas e os aplausos ficaram mais e mais altos. Eu senti arrepios."

Não houve tal anúncio na quarta-feira, Kelly colocou os pés sobre a mesa e se reclinou: "Estou aqui há muito tempo, nada me surpreende, o que me surpreendeu mesmo foram os combatentes", falando sobre os Estados Unidos, Irã e Rússia.

Aquela tarde no Vanderbilt Hall não será esquecida pelas centenas que ali estavam acompanhando um show de luta olímpica. Para quem estava do lado de fora? A vida continua... 

"É apenas mais um dia no Grand Central. Mais um dia em Nova Iorque." encerrou Marjorie Anders.

Tradução e adaptação de artigo original de Nick Zaccardi/Sports Illustrated

0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar