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Coluna Surto Mundo Afora #57 - O que esperar de Tóquio 2020, as Olimpíadas propositalmente pensadas para o Japão?



No dia 24 de julho, após 56 anos, os maiores atletas do mundo voltam ao Japão. Esta será a segunda vez em cinco edições do novo século que o Oriente recebe os Jogos Olímpicos. Isso não é coincidência. Assim como as de Inverno, a região se tornou importante atrativo para o esporte por conta de diversos fatores. E Tóquio representa tudo isso de forma resumida, porém com muita expectativa. Afinal de contas, o que podemos esperar das XXXII Olimpíadas?

Sai o Ocidente, entram o Oriente e "locais alternativos".

Desde a crise de 2008, que abalou economicamente diversos países do Ocidente, os grandes eventos deixaram de ser atrativos e se tornaram enormes problemas ou gastos desnecessários. No auge da recuperação financeira da União Europeia após a quebra da Grécia - justamente esta que sediou a edição de 2004 - Londres em 2012 foi alvo de muitas críticas pelos exorbitantes gastos em meio à onda de austeridade nas economias.

Desde então, diversos países deixaram de demonstrar interesse em receber uma Olimpíada. Cidades pouco afetadas ou que não foram pela crise acabaram sendo importantes refugos para o Comitê Olímpico Internacional na escolha como sede. O Rio de Janeiro, em 2009, foi escolhido após diversos países economicamente abalados estarem como candidatos. Hoje sabemos que houve compra de votos, mas à época diversos cidadãos destas praças se manifestaram contra a chegada do evento. 

Saía de cena então o Ocidente, entravam o Oriente e os "locais alternativos". Vale lembrar que, para estes países com cultura eurocentrista, ocidentais são EUA, Canadá, Israel, Austrália, Nova Zelândia e Europa. Os demais são América Latina, África e Oriente... 

Já escolhida como sede e um sucesso absoluto por conta das mais exuberantes - e caras - instalações, Beijing em 2008 se tornou um exemplo de como o Oriente poderia ser a grande saída para o problema. Segundo a BBC, foram empregados na China US$ 42 bilhões para receber os Jogos. Mais que o dobro que da edição anterior, em Atenas, US$ 16 bilhões. Nenhum país quebrado faria algo semelhante. E não fez.

Foi aí que os grandes eventos passaram a sair do pólo Europa-América e foram, principalmente, para a região asiática. Ou então países que possibilitassem uma "coalizão" para recebê-los, exemplos de Rússia e Brasil. Estes, mundialmente famosos pelos escândalos de corrupção e benefícios em troca de favores. Casos das ligações obscuras para obtenção das Copas do Mundo de 2014 e 2018, cujo jornalista Luís Aguilar denunciou em seu livro "Jogada Ilegal".

Mas não são os casos - aparentemente - de China, Coreia do Sul e Japão. Olimpíadas de Verão e Inverno, além da Copa do Mundo de Futebol, foram para estes locais. As de Inverno, aliás, serão três em sequência por lá: Sochi (Rússia) em 2014, Pyeongchang (Coreia do Sul) em 2018 e Beijing (China) 2022. Copas serão três fora do eixo supracitado: Brasil 2014, Rússia 2018 e Catar 2022. Tudo pensado. Tudo calculado.

E se estes podem gastar, então gastaram. Bastante.

Japão 2020 - tecnológica e dinheiro, muito dinheiro

Mas voltemos ao Japão. País de história milenar e uma das culturas mais incríveis do mundo, recebe os Jogos 56 anos depois com muitas mudanças significativas. É considerado um dos mais modernos do mundo, com fortíssimo investimento em tecnologia. E aposta nisso como grande força para o sucesso desta vez.

Em 1964 os Jogos foram responsáveis por uma reformulação urbana que se tornou vital e símbolo da cultura japonesa: os trens bala. A primeira linha férrea deste tipo entrou em operação em Tóquio durante este período. E o resultado foi um investimento e incentivo cada vez maiores no ramo tecnológico. Algo que influencia diretamente em 2020...

Esta edição será a com mais utilização da tecnologia na História. Além de seguranças e orientadores virtuais nas instalações olímpicas, atletas, jornalistas e trabalhadores em geral envolvidos com as Olimpíadas terão que passar por reconhecimento facial. Ou seja, para acessar as áreas esportivas, o computador irá validar ou não a entrada. Junta-se a isso o fato de que, na Vila Olímpica, um veículo autônomo - sem motorista - vai levar os competidores para espaços internos. Tudo elétrico e computadorizado, impactando o mínimo possível o meio-ambiente.

E a preocupação ambiental não é à toa. Após os terremoto e maremoto de 2011, que causaram destruição e uma catástrofe na Central Nuclear de Fukushima I, os japoneses praticamente abandonaram tal combustível e foram em busca de alternativas limpas e seguras. Além do investimento, muitos gastos foram empregados desde então. Todas as novas construções erguidas - não apenas para as disputas - foram projetadas com tal preocupação. 

Como o Novo Estádio Nacional de Tóquio. Além do emprego de materiais que levassem menos dano possível ao planeta, dezenas de milhares de árvores estão sendo plantadas ao redor do mesmo. Desejo do arquiteto japonês Kengo Kum, que assina o projeto. A ideia é que todo gás carbônico consumido no espaço seja absorvido e volte em forma de ar limpo.

A construção conta ainda com um sistema para armazenar água das chuvas, que será utilizada para irrigar o campo e as árvores plantadas no lado externo. As instalações elétricas também contam com tecnologia de ponta, voltada para gastar quase 60% menos que o antigo.

A preocupação se prova dentro do próprio cronograma olímpico. A maratona, tradicionalmente programada para ter sua chegada no estádio do encerramento, este ano nem mesmo na cidade sede será disputada na cidade de Sapporo, no norte do Japão, onde as temperaturas são no verão são de cinco a seis graus menores que as registradas em Tóquio. O mesmo acontecerá com a marcha atlética. Com verões cada vez mais quentes, o aquecimento global não está mais apenas nos livros.

Porém, isso tudo tem um custo. Altíssimo e criticado. O orçamento inicial para as Olimpíadas de 2020 era de 72,8 bilhões de ienes, ou R$ 21,2 bilhões, em 2013. Atualmente ultrapassa de 1,35 trilhões de ienes, cerca de R$ 52 bilhões!!!! Para efeito de comparação, os Jogos do Rio, em 2016, custaram cerca de R$ 41,1 bilhões (ainda que projeções indiquem bem mais). Palco das cerimônias de abertura e encerramento, o Estádio Olímpico se tornou símbolo das exageradas cifras. O custo total foi de R$ 5,25 bilhões (US$ 1,25 bilhão).

Parte deste montante será coberto pelos patrocinadores, 64 ao todo. Esta edição baterá recorde em rentabilidade. O lucro estimado é de US$ 3,1  bilhões e com possibilidade de ampliação a partir da venda de licenciamento e produtos durante o evento. O investimento em cobertura pela mídia também possibilitou esta face, já que há previsão de um aumento de espectadores ao redor do mundo com mais plataformas digitais ampliando o acesso às Olimpíadas. 

Mais visibilidade, mais exposição da marca, mais lucro. E mais gente querendo participar de tudo isso.

Japoneses empolgados, arenas lotadas

Apesar das muitas críticas, os japoneses parecem empolgados com as Olimpíadas. Após o grande temor dos organizadores de que uma edição anterior ter sido realizada numa cidade famosa mundialmente pelo caloroso acolhimento social e muita festa nas arquibancadas, a venda de ingressos espantou este fantasma.

A procura pelos primeiros lotes foi 10 vezes maior que a quantidade disponível: 3,2 milhões de entradas para 30 milhões de compradores. Segundo a organização, serão 7,8 milhões de tickets até o começo dos Jogos. Espera-se que o lucro seja de US$ 800 milhões (aproximadamente R$ 3 bilhões) com as vendas totais.

E a preocupação agora é outra: torcedores sem ingressos. Na internet, postulantes aos eventos reclamaram da falta deles e também da quantidade oferecida aos patrocinadores, cerca de 25% de tudo. Aos turistas, outros interessados, também uma fatia considerável foi separada entretanto ainda sem um percentual final, haja vista que muitos compram no próprio país sede e tirando mais japoneses da jogada, literalmente.

Faltam seis meses para Tóquio 2020. Após mais uma preparação polêmica e cheia de histórias, os japoneses prepararam o que podem fazer de melhor. Quando a tocha acender a pira e os Jogos começarem, será a vez dos atletas. Eles que terão que provar o quanto valeu a pena cada minuto de espera.

Fontes: Comitê Organizador Tóquio 2020, Correio Braziliense, Jornal Estado de São Paulo e Japão em Foco - Curiosidades e Cultura Japonesa
Foto: AP Photo/Jae C. Hong

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