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ISU pede desculpas por indicar traje de inspiração nazista ao prêmio de Melhor do Ano



A União Internacional de Patinação (ISU), órgão máximo de Patinação Artística e Patinação de Velocidade no mundo voltou atrás e removeu das indicações ao prêmio de Melhor Traje do Ano a vestimenta usada pelo russo Anton Shulepov em seu Programa Livre (foto). A decisão ocorre após a indicação de Shulepov ter causado revolta e protestos diversos nas redes sociais, e foi comunicada nesta segunda-feira pela entidade.

Shulepov usou em duas etapas do Grand Prix  para seu Programa Livre com a música do filme "A Lista de Schindler" um traje que combinava visualmente um uniforme de guarda nazista com a roupa listrada dos internos de campos de concentração, incluindo a Estrela de Davi amarela, usada para marcar os prisioneiros judeus. O traje foi considerado como uma representação grotesca e desrespeitosa das vítimas do Holocausto, e causou protestos já desde sua primeira grande aparição internacional, no Internationaux de France, disputado no início de novembro. Mesmo com as críticas recebidas já nessa primeira apresentação, o traje foi mantido e acabou sendo apresentado novamente no NHK Trophy, no Japão, prova que teve audiência em média duas vezes maior que a da França. Em amba as competições, o patinador russo não passou da 8a. posição, e em ambas as provas dividiu a pista com patinadores de origem judaica: o israelense Daniel Samohin e o ucraniano naturalizado israelense Alexei Bychenko—cujos técnicos presentes aos eventos também são de origem judaica—mais o norte-americano Jason Brown.

A indicação do traje como um dos melhores do ano enfureceu os internautas, que desde domingo podem votar na nova premiação criada pela ISU para destaques da temporada em categorias especiais que incluem melhor coreografia, melhor novato e melhor traje, dentre outras. A indicação também causou manifestações de repúdio de entidades de combate ao antissemitismo: A Liga Anti Difamação, ONG sediada nos EUA se manifestou a respeito por meio de seu chefe executivo Jonathan A. Greenblatt: "Enquanto nós entendemos a necessidade de patinadores serem criativos em sua escolha de trajes, a aparente decisão de Anton Shulepov de evocar imagens dolorosas do Holocausto em sua rotina foi insensível e ofensiva. Estamos surpresos que a ISU inicialmente postou uma imagem desse traje como indicado a 'traje do ano'. Estrelas de Davi amarelas e outras imagens de campos de concentração não tem lugar na Patinação Artística".  Após as críticas, em um comunicado no Twitter, a ISU atribuiu a um erro interno a menção do traje de Programa Livre de Shulepov ao prêmio de Melhor do Ano e pediu desculpas: "A ISU lamenta que por acidente o traje errado (de Programa Livre em vez do de Programa Curto) do sr. Shulepov foi apresentado para votação. Esse erro foi corrigido e a ISU sinceramente pede desculpas por esse erro e pelos maus sentimentos que causou".

A ISU todavia não desqualificou Shulepov da premiação, apenas substituiu a vestimenta mostrada na lista de votações pela usada no Programa Curto do russo: um traje azul escuro e preto simples, sem detalhes, de aparente produção industrial. A vestimenta que agora concorre como Melhor do Ano não tem qualquer diferença em relação as usadas por patinadores em treinos, algo que também vem gerando controvérsia por não se tratar de um traje especialmente dedicado à apresentações, e isso também seria uma infração de acordo com as regras da ISU.

O uso de roupas inadequadas, com acessórios irregulares, que soltem partes ou de teor ofensivo é considerado como violação da regra 501 do estatuto da entidade, que diz que os trajes escolhidos para performance de patinadores devem ser "modestos e dignos (...) sem extravagância ou teatralidade no design. Trajes devem, todavia, refletir o caráter da música escolhida". Infrações de regras de traje recebem advertências dos juízes, e em caso de decisão majoritária ganham um ponto de dedução na nota do programa. Shulepov não ganhou sequer uma advertência pelas apresentações de Programa Livre com traje ofensivo e Programa Curto sem traje dedicado nas suas duas etapas do Grand Prix, o que não vem acontecendo com outros patinadores, punidos com considerável rigor por falhas semelhantes através dos anos. Exemplos como o do canadense Stephen Gogolev, campeão do Grand Prix Junior de 2018, que se apresentou com uma roupa simples de treinos no Programa Livre da etapa do Junior Grand Prix 2019 disputada em Lake Placid, EUA e recebeu duas advertências dos juízes por uso de traje impróprio ou de Zahra Lari, patinadora dos Emirados Árabes que recebeu repetidas punições até 2017 por se apresentar usando véu muçulmano não são incomuns, o que torna a decisão da ISU de não punir e ainda apresentar os trajes de Anton Shulepov como candidatos a um prêmio de mérito ainda mais contestável. A entidade até o momento não deu maiores explicações sobre o caso, e a indicação de Shulepov ao prêmio segue ativa para votação.

Foto: da transmissão oficial em vídeo no YouTube

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