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Coluna Surtado no Esporte: O contraste atual entre o Tênis feminino e o masculino


O tradicional torneio de Roland-Garros acabou no primeiro final de semana de junho. Entre os homens, zero novidades. Nadal campeão pela 12º vez. Federer e Djokovic chegando às semifinais. Os três mostrando que, mesmo aos 32 (Djokovic), 33 (Nadal) e 37 anos (Federer), se mantêm no topo após mais de uma década.

No entanto, entre as mulheres, a história tem sido diferente. Ashleigh Barty, um nome não tão badalado, embora top 10 da WTA, venceu seu primeiro Aberto da França, que a tornou a oitava tenista a vencer de forma inédita um Grand Slam nas últimas quatro temporadas. Ou seja, 50% das últimas dezesseis campeãs de Grand Slam nunca haviam vencido um torneio desse porte antes.

No momento, o nível dos rankings é inusitado e de um contraste extremo: entre os homens, os mesmos campeões dos últimos anos e todos acima dos 32 anos; entre as mulheres, atletas emergentes, jovens e vitórias que surpreenderam o mundo.

No topo da classificação masculina atualizada desta semana estão o número 1 Novak Djokovic, o número 2 Rafael Nadal e o número 3 Roger Federer. No feminino, a número 1 é Naomi Osaka  (21 anos), a número 2 é Ashleigh Barty (23 anos) e a número 3 é Karolina Pliskova (27 anos).

Para ratificar o quão surpreendente tem sido o tênis feminino, duas jovens com menos de 20 anos chegaram, pelo menos, as semifinais em Roland-Garros. Amanda Anisimova, a americana de 17 anos, por exemplo, deixou para trás ninguém menos do que Simona Halep, que estava a defender o título de 2018. A tcheca Marketa Vondrousova, de apenas 19 anos, foi além e chegou à final.

Em recente entrevista, o ex-tenista e, hoje, comentarista Mark Petchey declarou: "Os ciclos no tênis não estão alinhados. As mulheres estão atualmente nesse estágio de recalibração. Elas vão encontrar suas campeãs consistentes em breve, mas provavelmente levará, pelo menos, um ano e meio para isso, na minha humilde opinião. Do lado dos homens, eu realmente acredito que estamos vendo algo que nunca mais veremos”.

Voltando o olhar para a história, o tênis masculino até registra campeões com idades mais avançadas. O australiano Ken Rosewall chegou às finais de Wimbledon e do Aberto dos Estados Unidos com impressionantes 39 anos, no ano de 1974. O americano Andre Agassi foi o número 1 aos 33 anos. Com certeza, inspirações para o big three que já os superaram ao sobejo.

Porém, o que Djokovic, Nadal e Federer estão fazendo é sem precedentes. Eles não são apenas duradouros em seus trinta anos. Eles estão dominando, contrariando as adversidades, alimentando-se da rivalidade e se inspirando um no outro.

Outro dado interessante: a idade média dos vencedores do torneio ATP (associação de tênis masculino) em 2019 foi pouco mais de 27 anos, em comparação com a média WTA (associação de tênis feminino) que, no mesmo período, girou em torno de 23 anos e sete meses.

O que mais causa admiração é que os jogos masculinos de singles são em melhor de cinco sets, exigindo mais do físico dos atletas, o que, ao menos em tese, poderia beneficiar os mais jovens. Não é o que vemos. Os últimos 10 Grands Slam foram vencidos por Nadal (4 títulos), Federer e Djokovic (3 títulos cada). Além disso, os três aparecem na lista masculina de maiores de todos os tempos em títulos de Grand Slam: Federer lidera com 20, Nadal tem 18 e Djokovic tem 15.


E mais: NENHUM tenista na ativa que tenha menos de 30 anos ganhou um título de Grand Slam. O único homem com menos de 28 anos a chegar a uma final é Dominic Thiem, o austríaco de 25 anos que foi derrotado por Nadal nas duas últimas finais do Aberto da França e, até agora, quem mais perto chegou de elevar a nova geração a outro patamar que não seja o de coadjuvante.

Por outro lado, na corrida feminina, nos últimos 10 Grand Slams, 10 mulheres diferentes com menos de 28 anos alcançaram a final de algum aberto, sendo que seis delas levaram o título.

Outro expert no assunto foi ouvido. Para Sven Groeneveld, técnico famoso, a situação da WTA se deve a outros aspectos. Cita a suspensão de 15 meses de Maria Sharapova, em virtude de doping, as maternidades de Serena Williams e Victoria Azarenka e o ataque à tenista Petra Kvitova como determinantes para este quadro de ausência de domínio do tênis feminino: "Esses quatro elementos são aspectos-chave da mudança da guarda que está acontecendo no momento", disse Groeneveld.

As quatro tenistas citadas por Groeneveld estão no circuito. Delas, Kvitova teve o maior sucesso em 2019, alcançando a final do Aberto da Austrália e ficando com o vice-campeonato. Sharapova fez uma cirurgia no ombro em janeito. Azarenka ressurgiu em 2016, antes da gravidez, mas tem de lidar com várias turbulências na vida pessoal, como a disputa de custódia do filho Leo.

Serena Williams, de 37 anos, chegou às finais de Wimbledon e do Aberto dos Estados Unidos no ano passado, logo após retornar ao circuito. Em 2019, no entanto, sequer chegou às semifinais de um torneio desse nível e tem enfrentado problemas no joelho que reduziram seu treinamento e movimento.

Acontece que nenhuma jogadora conseguiu preencher o espaço vazio deixado por essas atletas, deixando o circuito sem "dona" e extremamente competitivo. Por exemplo, Naomi Osaka não chegou a nenhuma final desde que venceu o Aberto da Austrália, em janeiro

A canadense Bianca Andreescu, de apenas 18 anos, mostrou potencial ao vencer o prestigiado torneio de Indian Wells em março, mas uma lesão no ombro tem a deixado fora de competições importantes.

Barty parece melhor posicionada para se destacar em todas as superfícies do tênis, mas precisará manter o foco enquanto está experimentando o sucesso de sua conquista na Austrália.

A falta de mulheres com grande destaque apaga um pouco as grandes rivalidades, combustível para qualquer atleta, como acontece com o big three, já que quando Federer, Nadal e Djokovic estão enfrentando um ao outro, o mundo todo quer ver o embate.


As perguntas que ficam são: Teremos jovens campeões em Grands Slam enquanto as forças da natureza, vulgo Nadal, Federer e Djokovic, estiverem jogando? Teremos, em breve, novas tenistas mulheres dominando o circuito? Isso tudo, só o tempo nos dirá.

Fotos: Divulgação





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